16 - Mudanças

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Quando entrei na aula na segunda-feira, percebi uma aglomeração diferente ao fundo. Isabel?

E bem no centro, de braços cruzados e quadris apoiados na mesa, Gael conversava sorridentemente com as moças. Quando me viu o sorriso ficou mais brilhante. Apontou para a carteira à frente da qual se apoiava.

— Guardei um lugar para você.

— O que está fazendo aqui? — o encarei sem entender nada.

— Eu estudo aqui.

Olhei para Isabel tentando entender o que estava acontecendo. O sorrido dela era tão grande que deixaria marca.

— Aqui nessa sala? — perguntei.

— Exatamente.

— Mas você não era do último ano?

— Era. Agora estudo aqui.

— Do terceiro para o segundo ano? Nunca vi isso!

O estranho lindo balançou a mão com descaso.

— Parece que houve algum engano com a papelada. Blá, blá, blá. Não importa. Vamos deixar os detalhes chatos de lado. De agora em diante, vou me sentar aqui, e você, aqui. — ele identificou os lugares.

— Engano com a papelada?! E foram perceber isso só em maio?!

Ele bufou como resposta.

— Eu disse: vamos deixar os detalhes chatos de lado!

— Bom. — olhei aqueles olhos lindos que me fitavam com satisfação. — Eu me sento do outro lado, perto da Isabel. — apontei de volta.

— Eu já falei com ela. Ela não se importa de me emprestar você.

A minha amiga estava quicando de felicidade. Traidora!

— Então eu devo largar os meus hábitos antigos e vir para cá porque é o que você quer?

— Exatamente. — ele parecia bem satisfeito consigo mesmo.

Respirei fundo e falei bem pausadamente para ele conseguir acompanhar.

— Vamos esclarecer uma coisa, Sr. Ávila. A distância entre a minha carteira e a sua é exatamente a mesma entre a sua e a minha. Então, se o incomoda... sugiro que seja você a se mudar. — agarrei o braço de Isabel e a puxei atrás de mim.

— Não seja teimosa! — ela sussurrou para mim.

— Fica quieta! — sussurrei de volta.

Me sentei no lugar de sempre e Gael parou ao meu lado, reparei que estava segurando a mochila. Bom menino!

— Um pouco teimosa, não? Pulchram (linda). — ele não estava mais tão satisfeito.

— Não sou do tipo que gosta de passear de coleira.

O rapaz suspirou, meio contrariado e se virou para a garota na carteira atrás da minha, a próxima vítima.

— Seria possível que a senhorita trocasse de lugar comigo para que eu — ele frisou lançando um olhar duro na minha direção. —, possa me sentar perto da dama aqui da frente? Eu ficaria eternamente grato. — completou inclinando o rosto com um sorriso de morrer. O tiro de misericórdia.

Sofia se rendeu e Gael se jogou na cadeira recém desocupada.

— Satisfeita?

Apoiei os cotovelos na mesa dele e entrelacei os dedos.

— O que era aquilo de que você me chamou?

Sua expressão se suavizou numa fusão de ternura, curiosidade e satisfação. Meneou ligeiramente a cabeça quando disse:

Ego perdidit (estou perdido).

E é claro que ele quis manter o charme e se recusou a dizer o significado das palavras, ou sequer a repeti-las! Esses homens que gostam de mistério são um caso sério!

Não consegui prestar um minuto de atenção nas aulas porque alguém na carteira de trás ficou o tempo todo puxando a pontinha do meu cabelo.

— Precisa parar com isso! Está me distraindo. — avisei.

— Que bom! — uma boca torcida numa provocação.

Puxei o cabelo todo de lado. Pronto. Rá! Ele começou a acariciar a base do meu pescoço, agora exposta sem a proteção da cortina negra. Isabel, na carteira da frente parecia quase mais feliz do que eu.

Quando o sinal anunciando o fim da manhã, Gael enfiou a mochila em um ombro só e se despediu.

— Até amanhã, Srta. Isabel.

— Até amanhã, Gael.

O estranho lindo me deu um beijo na bochecha. Notei Isabel desmaiando pelo canto do olho.

— Até amanhã, Alma. — e saiu.

Ainda bem que ele não esperou uma resposta. Precisei de um tempo para voltar a respirar no ritmo normal.

— O seu pai vai ter um treco! — Isabel ria meio histérica, ainda estávamos sentadas nas carteiras dentro da sala.

— E quem disse que ele vai saber?!

— O amor é lindo! — suspirou de forma exagerada. — Será que ele tem irmão?

— Não faço ideia. Para falar a verdade... não sei nada dele.

— Você vai ter oportunidade de perguntar. Quero saber de tudo! Seu primeiro namorado, que emocionante! E que namorado! — ela se abanou com as mãos, mas a levesa morreu ali quando Pedro entrou na nossa sala.

Tinha sobrado só a gente ali. Isabel olhou bem nos olhos dele.

— Oi, Isabel... -- ala se levantou para se afastar, mas ele segurou o braço dela. -- Espera um pouco. Vamos só conversar. — o tom era de súplica.

— Nós já conversamos. — ela puxou o braço.

— Por favor, Isi.

— Não me chame assim. — ela o encarou com dureza. — Você perdeu esse direito.

— Eu sei. — Pedro baixou os olhos.

O rapaz levantou um olhar triste. Depositou um galho de rosa branca, ainda em botão, na carteira dela.

— Me liga. Eu só quero falar com você.

Com o pedido feito, ele se foi, cultivando uma esperança. Ou uma ilusão. Algumas vezes essas palavras se embaralhavam tanto que era difícil distinguir qual era qual. Isabel ficou olhando-o pelas costas ao invés de olhar a flor, o que indicava que ele tinha conseguido mexer com ela, embora eu duvidasse que ela fosse ligar.

— Ele parece sincero. — falei.

— Azar o dele! — ela agarrou a flor, jogou na lixeira e saiu para o almoço.

— Azar o dele! — ela agarrou a flor, jogou na lixeira e saiu para o almoço

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Oi gente!

Para quem ficar curioso, essa língua é latim. Se quiserem ouvir a pronúncia, é só jogar no Google Tradutor. Parece um pouco com sotaque italiano.

Espero que tenham gostado. Não esqueçam da minha estrelinha e até sexta!


Doce Pecado | 1Where stories live. Discover now