O rosto dele era sempre o primeiro pensamento do meu dia. Gael. O estranho lindo em quem a minha mente estava se perdendo velozmente.
A aula de matemática estava quase acabando e a turma já estava barulhenta, ainda assim escutei praguejos baixos vindos da carteira de trás. Encontrei um Gael muito emburrado que encarava o caderno com o cotovelo apoiado na mesa e a mão segurando a cabeça.
— Não gosta de matemática?
Ele me notou e ajeitou a postura, sentando-se ereto.
— Por que deveria gostar? Não tem beleza alguma! É feio, chato e sem sentido. — ele olhou com desprezo para o caderno. — Os números jamais chegarão aos pés das letras! Como poderiam ângulos e triângulos, senos e cossenos competir com "Ainda que efêmeros, os amores proibidos compensam o tempo curto com intensidade." — ele me olhava com cobiça. — As palavras têm vida, sentem, sussurram, inspiram, respiram, suspiram. Elas nos conduzem ao paraíso, os números — desprezo outra vez —, ao inferno!
Aquele rapaz tão lindo e tão estranho me fazia sonhar acordada e sentir coisas que eu preferia não nomear. Estaria ele jogando comigo?
— Mas eles ganham em uma coisa. — respondi.
— Que seria? — Gael perguntou com descrença, arqueando uma sobrancelha.
— Eles nunca mentem. As palavras podem esconder, encobrir, trair, enganar. Os números sempre nos dizem a verdade... seja ela qual for.
Ele me analisou com cuidado por um longo tempo.
— Eu nunca menti para você. — concluiu.
— Mas também não está sendo sincero. Vai dizer que não está escondendo nada de mim? -- ele baixou os olhos sem me dar uma resposta sonora. — Você me confunde e não sei se acha que estou entendendo ou se faz isso de propósito. Você deixa um rastro de lacunas por onde passa.
— Você não vai gostar.
— Isso cabe a mim decidir. Você e eu, precisamos aprender a conversar. — devolvi e ele me olhou por entre os cílios. — Por que está rindo?!
— Você e eu... gosto disso.
— Está tentando desviar do assunto.
— Não estou. Estou praticando ser sincero. Gosto de você. Mais do que deveria. E é provável que não saiba disso, então... responderei às suas perguntas, em troca... tenta confiar em mim.
Um acordo?
— Hoje está brincando de ser o médico... e amanhã? — perguntei.
O sinal tocou anunciando o fim da última aula do dia. Os alunos começaram a sair. O burburinho das conversas explodiu.
— Não estou mais brincando, Alma. — a expressão dele não escondia segredos. Parecia sincero.
Eu queria muito saber mais sobre ele.
— Feito. — esperava não me arrepender desse acordo depois. — Verdade para mim, confiança para você. Quando começamos?
— Te pego no final das aulas dessa tarde. -- pegamos nossas mochilas e saíamos da sala. — Quer almoçar comigo hoje?
Gael sempre desaparecia depois do da última aula. Ele não tinha aulas à tarde, por isso não almoçava no refeitório da escola.
— Quero. -- Isabel estava no shopping com a mãe. De vez em quando ela faltava à aula em nome de um dia de mãe e filha. -- Onde você almoça?
— Em casa.
Opa.
— Mas você mora sozinho. — olhei para ele desconfiada.
Ele abriu um sorriso inocente. Não me convenceu muito não.
— Acha que não sei cozinhar? — devolveu.
— Não é isso.
— Então o que é?
— Nada. Para onde vamos hoje?
— Eu acabei de dizer que sei cozinhar. — respondeu com um sorriso bem largo e eu olhei bem para a cara dele. O sorriso só ia ficando cada vez maior, crescendo até se transformar numa risada. — Eu só estava brincando! Tudo bem. Você pode escolher. Mas a minha casa ainda é uma opção, deveria considerar.
— Que graça! Não sou desse tipo, fique você sabendo.
Ele deu de ombros ainda rindo.
— Tentar não custa, não é mesmo? Para onde então, senhorita?
Como tínhamos combinado que ele responderia às minhas perguntas no final da tarde, era minha vez de falar. Gael queria saber sobre a minha família, meus sonhos, minhas expectativas, sobre coisas que eu gostava, coisas que eu odiava. Enfim, o estranho lindo queria saber de mim.
Conversar com ele era fácil e natural. Gostei disso. Ele me fez companhia até a hora da aula de ballet. Segurou a porta aberta do setor de dançpa para mim.
— Não quer entrar? Pode assistir se quiser. — os alunos podiam assistir aulas fora de suas modalidades se quisessem.
Ele pigarreou.
— É melhor não.
— Não gosta de dança?
— É uma arte linda.
— Mas...? — esperei curiosa.
— Não gosto do seu amigo.
— Que amigo?
— O que dança com você.
— John?! Você o conhece?
Ele suspirou.
— Você faz muitas perguntas. É melhor entrar. Vai se atrasar. Conversamos depois.
Ele tinha razão. O início da verdade me aguardava com paciência ao cair da noite, toda enfeitada de realidade e fantasia!
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"Ainda que efêmeros, os amores proibidos compensam o tempo curto com intensidade."
Luiz Roberto Bodstein
Olá, olá!
Não esquece da estrelinha. Bjos e até a próxima!
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Doce Pecado | 1
RomanceO caçador foi enviado para matá-la! Assim como uma tentação é provocante e sedutora, o amor se ofereceu ao jovem Gael Ávila de forma proibida. Agora ele precisa decidir entre ser fiel ao seu povo e assassinar a bailarina, ou se deixar levar pelo qu...