25 - Parque de diversões

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Disse aos meus pais que iria com uns amigos ao parque de diversões, sem entrar em detalhes sobre quem estaria lá. Não é que a gente namorava em segredo, é que... tá bom, a gente namorava em segredo! O meu pai era complicado, teríamos tempo para oficializar as coisas no futuro, de preferência quando eu já tivesse dezoito. Ia ter que esconder o bofe por mais de um ano! Não ia prestar!

Aquela era a noite de estreia e o lugar estava lotado. O riso de todas as idades eletrizava a noite.

Fomos primeiro no carrinho bate-bate, o looping, a montanha russa e a roda gigante entraram em seguida na lista.

Gael enfiaou o último pedaço de cachorro-quente na boca segurando um algodão-doce.

— Isabel vai no ranger outra vez. — avisei. — Vamos no cemitério.

Ele me seguiu e continuou mastigando, a comida era o seu verdadeiro interesse.

O cemitério era cercado por grades altas e tortas que balançavam e rangiam com o vento. Uma névoa rasteira e densa cobria o chão. Lápides se erguiam da fumaça. Fantasias de zumbis passeavam no meio das pessoas, perseguindo desajeitadamente algumas, sorrindo com dentes podres e baba verde escorrendo pelo queixo. Eca!

Ao fundo do cemitério ficava a floresta morta que envolvia a mansão assombrada, uma casa de madeira, tosca e torta. As árvores secas estavam engolidas pelo breu. Só se viam olhinhos piscando na direção dos visitantes, especulando se algum deles teria coragem de se aventurar por lá. Os gritos seguidos de gargalhadas eram frequentes.

Gael não se impressionou com nada.

— Quero outra coisa rosa estranha que dissolve na boca. — ele disse quando estávamos passando em frente ao trem fantasma.

— Algodão-doce.

— É doce, mas não parece nada com algodão.

— Não é algodão de verdade. — eu ri. — É feito de açúcar.

Ele parou de repente e se virou. Encarou a direção de onde tínhamos acabado de sair. Ele recuou um passo, me colocando atrás de si, ainda olhando fixamente a névoa e a escuridão.

— Onde está Isabel? — perguntou. Os pelos do traço dele se eriçaram

— P-por quê? — engoli em seco, identificando os dedos sujos do desespero se esticando em minha direção.

— Ache-a. — foi a ordem que recebi como resposta.

Ele me deixou lá e desapareceu entre as pessoas. Não gostei nada disso! O que está acontecendo?!

Me dirigi à montanha-russa, mas ela não estava lá. Senti a urgência crescer dentro do peito.

— Alma! — me voltei na direção do som. Estou aqui!

Corri até ela. Gael apareceu do nada com passos duros e colocou a chave do carro na minha mão.

— Vocês vão para casa. — e deu as costas.

— Por que? — Isabel ficou confusa.

Ele me olhou por cima do ombro e disse sem palavras: agora.

— É melhor a gente ir. — a ansiedade amargando a minha boca.

Isabel tentava acompanhar o meu passo fazendo um monte de perguntas. Um guincho medonho ecoou e fez tudo parar.

Todos olharam na mesma direção. E então...

Pandemônio!

Eu não saberia descrever como foi que tudo começou. O barulho era ensurdecedor. Gritos e empurrões vindos de todas as direções. Eu agarrei o pulso de Isabel e a arrastei, rezando para não sermos pisoteadas. Conseguimos nos esconder atrás de algum brinquedo. Eu mal conseguia respirar, quanto mais pensar. Aquele urro não podia ser humano. Tinha alguma coisa lá!

O meu coração batia tão forte que o meu peito doía. Um estalo e um chiado forte e as luzes faiscaram antes de se apagarem. O zunido guinchado de toda a aparelhagem sendo drasticamente desligada se unindo à algazarra. O barulho que já era ensurdecedor se multiplicou na escuridão.

Uma silhueta de homem com duas asas imponentes saiu da escuridão enevoada. O alívio injetado no meu corpo o percorreu como uma droga. Isabel estava berrando ao meu lado com a visão.

— Eu mandei vocês saírem! — a voz dele tingida de raiva.

O grito de Isabel morreu, os olhos reviraram e o corpo pendeu frouxo sem consciência. Gael passou direto por mim e a segurou antes que caísse. Ele a acomodou com cuidado no chão.

— Precisamos ir. — ele me pegou pelo braço.

— E Isabel?

— Volto para buscá-la.

— De jeito nenhum! — firmei os pés no chão, enquanto ele tentava me puxar.

— Mas que droga! — rosnou para mim enquanto pegava o corpo desmaiado no colo. — Quero que vá para a casa dos espelhos e não saia até eu ir buscá-la! — Gael esperou a minha resposta antes de desaparecer nas sombras.

— Tá bom.

Corri para a instalação ao lado o mais depressa que pude. Estava faltando um pedaço da parede e do teto. Dezenas de eus me encaravam em cacos espelhados, todos com a feição assustada.

— Alma? — ele me chamou lá fora, apenas um segundo antes de uma mancha pálida agarrá-lo por trás e derrubá-lo no chão.

Um grito puro de horror rasgou a minha garganta ao mesmo tempo em que os meus joelhos se firmavam e os meus pés corriam em direção a ele.

— Fique onde está! — Gael me advertiu, lutando com a criatura.

Eu ouvi, mas naquele momento eu não era dona dos meus atos. Eu era a urgência do instinto. Bati com toda a força contra o espelho pregado na parede, que refletia a imagem da luta achando que era a saída. Senti o sangue quente escorrer pelo braço e caí para trás. As palmas das mãos arderam no atrito com os cacos. Mas não processei a dor, eu só conseguia pensar em Gael sendo atacado.

Me levantei freneticamente, procurando a verdadeira saída. Antes que eu pudesse colocar um pé lá fora, freei.

Ela despencou do telhado à minha frente.

Uma coisa. Com a pele úmida, de um tom muito pálido e doentio, cheia de veias e hematomas. Aquilo estava agachado nas patas traseiras, exibindo longas garras afiadas, há apenas dois metros de distância de mim.

A morte estava ali. Olhando com interesse diretamente dentro dos meus olhos.

Olá! Um pedacinho da fantasia veio nos fazer uma visita!

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Olá! Um pedacinho da fantasia veio nos fazer uma visita!

Não esquece da estrelinha e até segunda!

Doce Pecado | 1Donde viven las historias. Descúbrelo ahora