29 - Guardiã

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No último dia antes das férias de julho, Gael me vigiou cada segundo marcado pelo relógio. Sério e concentrado.

— Está me deixando nervosa. — reclamei. — Por que não fala de uma vez o que está acontecendo?

— Preciso me encontrar com uma pessoa. E não quero deixar você sozinha.

— Inimigo? — me preocupei.

— Ainda não sei. — o semblante era pesado. — Não fez contato. Isso é estranho. Não é a reação que eu esperava.

— Então vou com você. — ele concordou meio insatisfeito. — Onde?

— Está na mata, esperando. Mas por que não veio falar comigo?

— Vamos descobrir.

Fomos de carro até a entrada do parque e depois seguimos uma trilha a pé floresta adentro. Uma silhueta se destacou ao fundo. Identifiquei de imediato as duas asas repousando graciosamente nas costas. Outro caçador! Esse era bem menor.

Gael segurava a minha mão com firmeza. Seu corpo não estava tenso, mas firme, pronto. Decidiu manter alguma distância.

— Eu não acreditei que era mesmo você. — uma jovem loura, com o cabelo preso num rabo-de-cavalo firme, se voltou na nossa direção.

— Olá, Elisa.

Ela não respondeu. Ao invés disso desviou os olhos para mim.

— Trouxe seu bichinho de estimação? — a caçadora me mediu de cima a baixo. Um ódio calmo queimava em seus olhos castanhos. Os pelos da minha nuca se eriçaram.

— Por que não me procurou? — Gael perguntou.

— Você não sabe o que está fazendo. — sua voz era calma e clara, um soprano suave. — Está sendo irracional.

— Eu já tomei a minha decisão. — Gael respondeu.

Ela cerrou os pulsos e deu um passo à frente.

— Então você não me deixa escolha.

Ele soltou a minha mão e deu um passo à frente. O corpo se preparando para um combate.

— Não vai tocá-la.

Gael era um traidor por minha causa. Ela pensava que sem mim ele poderia voltar aos trilhos. Aquela garota estava ali porque precisava eliminar um obstáculo: eu.

— Vou pelo menos tentar. É o meu dever. — a jovem desembainhou duas espadas que trazia ao cinto. — Foi para isso que treinei a vida inteira.

Dois anjos guerreiros num duelo frontal. O meu coração congelou e caiu aos meus pés. O meu anjo estava desarmado.

Os dois corpos dançavam uma coreografia violenta no ar. Os movimentos eram tão bruscos que meus olhos mal podiam acompanhar. Uma espada saiu voando, a outra desferiu um golpe em uma rajada rasante. Ouvi o assobio voraz do metal cortando o vento. Gael se esquivou a tempo, mas não foi rápido o suficiente para fugir da bota em seu estômago. Ele voou para trás com a força do impacto, batendo numa árvore e caindo ao chão. Antes que eu tivesse tempo de esboçar qualquer reação, ele se levantou e sacou a espada perdida. Ela pousou à sua frente. O duelo havia descido à terra.

Ambos se estudando, momentos antes do ataque.

— Por favor, Elisa. Vamos conversar.

Ela atacou. O tinido do metal gritava. Outra espada voou nos ares. Agora o anjo antes desarmado, era o único que empunhava uma arma. Ainda assim, ela não dava sinais de recuar.

— Por favor, Elisa!

— Até à morte, lembra?! — ela avançou. Ele abandonou a espada.

— Você disse que não precisava ser assim!

Ela investia com tudo contra ele. Gael parecia relutante em feri-la, mas num movimento veloz, ele a subjugou.

— Por favor, não me force a fazer isso. — o seu braço, uma forca ao pescoço dela. — Você não. — a dor embutida na súplica era tão grande, que me chocava ela não perceber.

Ela se soltou do abraço de urso e cada um alcançou uma das espadas. A dança agora era lenta. Formando um círculo, eles se moviam, encarando um ao outro.

— Por favor, Elisa. Não me obrigue a fazer isso. Por favor! — vi os olhos dele cheios de lágrimas.

Ela atirou a arma no chão com raiva.

— Mas que droga, Gael! — começou a gritar com ele. — O que pensa que está fazendo?! Acha que pode ficar com ela e protegê-la?!

— Esse era o meu plano. — ele relaxou

— Mas você é muito burro mesmo! — ela gritava ainda mais alto e começou a gesticular freneticamente. — Eu vi as notícias sobre o que aconteceu naquele parque! Acha que aquilo foi o pior que podia acontecer? Há quanto tempo está perto dessa pirralha? — ela apontou furiosa na minha direção. — O cheiro dela vai ficar cada vez mais forte! A sua magia vai desenvolver a dela, seu idiota! E quando ela tiver o sinal... — a loira balançou a cabeça em negação. —TODOS! Os caçadores virão atrás dela!

Um minutinho, por favor. Ela estava falando... de mim?!

— Desculpa, moça, mas... — comecei a me aproximar. — do que você está falando? Minha magia?!

A loira encarou o Gael. A voz dela estava chocada, incrédula.

— Ela não sabe?! Não contou para ela?!

Gael me lançou um olhar exasperado e começou a ofegar. Ele estava mentindo para mim.

 Ele estava mentindo para mim

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Olá, olá! 

Então essa é a Elisa, espero que tenham gostado de conhecê-la tanto quanto eu gostei de escrever. Ela tem um gênio forte e vai ser muito útil na aventura que esse grupo terá de enfrentar.

Bjos e até a próxima!

Doce Pecado | 1Where stories live. Discover now