Na terça-feira, no meio da manhã, o sinal anunciando o intervalo soou. Isabel se debruçou sobre minha mesa.— Nem imagina quem me ligou ontem. — ela falou de forma casual, tentando dar um ar de quem não dava muita importância para uma boa fofoca.
— Quem? — a curiosidade já instigada.
— O Pedro.
— Pedro?! Aquele Pedro?
— Uhum. Perguntou se a gente podia se ver. Óbvio que eu disse não. — ela cutucou a pontinha do esmalte que começava a descascar.
— Simples assim?
— É. Mas ele insistiu que precisava ser cara a cara. — Isabel fez um bico. — Desejei boa noite e desliguei.
— Na cara dele?! — dei uma boa risada. — Nossa, Isabel. A sua cara!
O olhar que ela me lançou dizia que tinha mais.
— Ele ligou às duas da manhã dizendo que estava na porta do meu prédio.
— O que?! Não me diga que você desceu?
Ela assentiu lentamente sem tirar os olhos de mim. Eu comecei a me remexer de ansiedade na cadeira.
— Não acredito! Você desceu?! Conta tudo logo! — ela estava se divertindo às minhas custas. Uma ideia me passou de repente pela cabeça e eu dei um tapa na mesa. — Ai! Tenho que pegar o livro de matemática no meu armário. Espera um segundo.
Como assim ela se encontrou com o Pedro no meio da madrugada? Abri o armário e peguei o livro. O sinal anunciou o fim do intervalo. Já?! Eu precisava saber o resto da história!
Bati a porta do armário com pressa e me virei, então bati as costas contra o armário. Gael estava bem atrás de mim. Bem atrás mesmo! A expressão do rosto dele era turva e intensa. Ele já estava perto o suficiente, não tinha necessidade de se inclinar para falar comigo.
— Mande-me ir. — um sussurro grave aveludado. Aqueles olhos adornados com pepitas de ouro que evocavam uma sensação quente dentro de mim estavam esperando uma resposta, embora não tivessem feito uma pergunta.
— P-para onde? — balbuciei. Era difícil pensar racionalmente com uma proximidade tão grande. Precisava ser tão bonito e ter um cheiro tão bom? Era perfume ou vinha dele, aquele cheiro doce e amadeirado de âmbar? E precisava ficar tão perto? Se eu movesse a cabeça tocaria a ponta do meu nariz no dele. Nós estávamos literalmente dividindo a mesma porção de ar.
— Desaparecer. Ir embora daqui. Só deixá-la em paz. Mande-me ir. E eu vou.
— Tudo bem. Vai embora. — falei com a voz rouca, um pouco baixa demais, sem desviar os olhos do ouro esverdeado. Apertei as mãos contra a barriga para controlar o alvoroço lá dentro.
Ele riu. Um sorriso limpo e cristalino cheio de graça naquele rosto lindo, e dessa vez, era um sorriso simples, puro e sincero. Ele escrutinou as curvas do meu rosto sem presa, me tocando com o olhar. Estava torcendo para o calor que sentia não estar sendo estampado nas minhas bochechas.
— Vamos tentar de novo. Dessa vez, com um pouco mais de convicção.
— Pode me dar... um pouquinho mais de espaço antes? — fui obrigada a pedir.
Ele ficou confuso por um instante e só aí percebeu a proximidade com que estava conversando comigo. Ele se afastou num rompante.
— Como você faz isso? Como faz isso comigo?
— Faço o que? — foi a minha vez de ficar confusa.
— Esse... seu magnetismo... me deixa... Não tenho mais certeza do que é cerro e do que é errado. Eu não tenho mais certeza do que eu sou porque você está quebrando os meus conceitos. — ele passou a mão na nuca, pensando em voz alta. — Você está bagunçando a minha cabeça de um jeito que eu não consigo decidir se amo, ou se odeio. — a raiva borbulhou e ele me acusou. — Você tem essa coisa estranha que me atrai! Essa necessidade de... tocar. — alisou a ponta do meu cabelo entre os dedos, e vi uma sombra nublada escurecendo seu semblante.
Ele se afastou. Sua postura havia voltado a ficar séria e rígida, a que eu considerava típica, pelo menos em relação a mim. E então ele chegou à conclusão do que eu era:
— Você é um erro.
Não foi hostil. Foi pior. Foi sincero. Ele me deixou lá. Sem entender nada. Com a faca cravada no meio do coração, impedindo a hemorragia de jorrar. Eu fiz alguma coisa errada? Eu disse alguma coisa errada?
— Você deveria mesmo ir embora. — falei com a voz dura, me virando para olhar as costas dele se afastando.
O rapaz parou e se virou para mim. Se o que ele procurava era a verdade... encontrou. —
— E de preferência não volte. — o meu olhar era tão duro quanto minha voz. — Eu não te conheço e não fiz nada para você, então me deixa em paz.
Voltei para a minha sala. E daí que ele não gostasse de mim? Por que isso incomodava? Não ia dar para saber o desfecho do Pedro, a aula já estava começando. Que bom, Isabel não notaria o meu sorriso amarelo. Abri o livro na página instruída, mas minha mente vagou para outro lugar.
Madeira e âmbar. O cheiro dele. Madeira e âmbar. Um cheiro que era muito bom e que eu conhecia de algum lugar... O monstro do pesadelo! Aquele cheiro me fez lembrar de imagens vagas dentro de um sonho. A criatura tinha o mesmo cheiro que o aluno estranho e lindo. Madeira e âmbar, o perfume do monstro que me visitava na escuridão da noite.
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