13 - Visitante

2.9K 381 64
                                    


A noite cobriu a cidade com o seu negrume

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

A noite cobriu a cidade com o seu negrume. Quando virei a esquina, Igor estava esperando por mim. Ele não olhou para trás e não diminuiu o ritmo das passadas, seguindo fluidamente através das sombras da noite como um fantasma, como alguém que não estava realmente ali.

Ele entrou no beco engolido pelo escuro céu sem lua. O erro dele, sempre foi ser previsível demais. A criatividade que ele reservava às suas vítimas, lhe faltava em todo o resto. O suave retesar da musculatura, acentuando um dos lados do corpo mostrava que o ataque viria da esquerda.

A faca que ele jogou quando se virou passou assobiando pelo meu ouvido. Mas esse movimento era só uma distração. Igor me golpeou na lateral da cabeça enquanto o fio da adaga voava em direção ao meu pescoço. Previsível e sem nenhuma criatividade.

Quando a minha faca deslizou para dentro da musculatura do seu antebraço ele soltou um gemido baixo. O objeto, sem nenhuma ameaça em sua mão, sucumbiu inanimado aos meus pés.

A minha lâmina atravessou o músculo até furar a pele do outro lado. O peso do corpo se chocando contra a parede sem pintura. Senti o sangue morno escorrer sobre os meus dedos.

— Ninguém caça no meu território. — as pontas dos meus dedos se enfiaram no espaço abaixo das suas costelas, puxando o último osso para fora.

Igor se contorceu sutilmente com a nova onda de dor e adrenalina que percorria o seu corpo, mas o senso de sobrevivência era sempre mais urgente. A lâmina da minha faca estava cravada a dois centímetros da sua artéria braquial. Era melhor que ele não fizesse movimentos bruscos. Um corte de artéria levava a uma morte extremamente rápida e particularmente suja. A segunda parte fazia o gosto dele.

— Não aprecia a dor? — provoquei puxando os seus ossos ainda mais. A testa com gotas grossas de suor fez parte do cabelo preto ficar grudado. A dor fazia a visão embaçar e ele teve que piscar algumas vezes para focar em mim. — Vendo assim, mais de perto, estou conseguindo ver porque você gota tanto dela. Tem razão, a dor é belíssima.

Igor estava começando a engasgar, era difícil respirar corretamente e ao mesmo tempo, controlar os espasmos da musculatura. E como o foco dele estava em manter a própria artéria longe do fio de corte, a respiração ficou relegada a segundo plano.

Enterrei a faca mais fundo no seu braço, um suspiro errado e ele sangraria como um porco. Liberei suas costelas e o alívio o inundou.

— Você está traindo o seu próprio sangue. — o caçador me acusou com desprezo. — Você fez um voto, fez um voto ao seu povo.

— Conheço as minhas responsabilidades.

— Então o que está esperando? Está protegendo a quem coloca o nosso mundo em perigo. Gravitando à volta daquela garota como se ela fosse algo precioso. Ela é imunda, como todos da espécie dela! Não consegue matar a guardiã? — mesmo ali, com a vida por um fio, o desafio e a provocação não deixavam de estar presentes no recheio de sua postura e da sua voz. — Sem problemas, amigo. Já disse que cuido disso para você. Eu nunca tive problemas com mulheres e crianças.

A lembrança do que ele gostava de fazer com os guardiões antes da morte me deixava doente.

— Ouça bem o que eu vou dizes, Igor. Ouça com atenção porque eu só vou dizer isso uma única vez.

Diferentemente do caçador diante de mim, eu não apreciava o jogo de blefes. Sua concentração repousou no meu olhar.

— Se... você encostar um dedo sequer na Alma...

— Oh, ela tem um nome! Que lindo! Agora ficou ainda mais pessoal. Será que ela vai chamar por você quando eu entrar naquele estúdio de dança vazio? Aposto que a garotinha vai chorar quando eu mandar ela dançar no meu colo.

— Seu filho da puta! — os ossos do nariz estalaram sob o impacto do meu punho. Um riso quase histérico saiu da boca dele em meio ao sangue borrado. Aquele era exatamente o tipo de jogo doentio que o Igor jogava. — Se tocar nela eu não vou te matar. Mas juro que vai implorar por isso.

Não ser apreciador da dor era diferente de não saber usá-la.

Alma era uma guardiã. Não havia nada que se pudesse fazer em relação a isso. Aquela história já tinha um final traçado. Ela iria morrer, isso era um fato. E não seria pelas mãos de alguém como Igor.

— Essa foi a última vez em que você e eu nos falamos, Igor. Desapareça do meu território. A guardiã é minha caça, e eu vou cuidar disso.

Nesse ponto, o rapaz deu um uivo de dor. Puxei um lenço do bolso e limpei a minha adaga.

— O que você fez?! — o caçador escorreu pela parede até se sentar no chão, olhando incrédulo para o corte fundo no próprio braço. O sangue arterial jorrando em jatos pulsantes para fora do corpo.

— Dei a você um relógio. O seu tempo está contando.

— Vai me deixar morrer?!

— A medicina desse mundo é atrasada. Então no seu lugar, eu ligaria para a emergência e improvisaria um torniquete enquanto espero. — joguei o lenço sujo fora e guardei a minha faca. — Mas esse sou eu. — dei-lhe as costas. — Você pode fazer o que quiser.

 — Você pode fazer o que quiser

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Olá, olá!

Gostaram do Gael narrando? Comentem a vontade. Monte de bjos!

Doce Pecado | 1Where stories live. Discover now