18 - O início da verdade

2K 339 219
                                    


Gael aguardava por mim lá fora, como disse que faria.

— Sem acidentes hoje? — o olhar estava fixo em algo às minhas costas.

Três alunos tinham acabado de sair do ginásio, um deles era John.

— É por isso que não gosta dele? Porque ele me deixou cair? Não foi culpa dele.

Gael bufou.

— Não o defenda! — a resposta veio com raiva.

— Não precisa ficar assim! Isso acontece na dança, foi um acidente!

— Pouco me importa! E é bom que não aconteça outra vez, ou ele mesmo terá de coletar o catarro! — e saiu andando com as mãos nos bolsos.

Catarro? Ele disse catarro?

— Está insinuando... que você... Aquilo era catarro?!

— Ora, não era qualquer catarro. Era um muito especial!

— CATARRO?!

Ele já estava rindo abertamente.

— Pode chamar de muco se preferir.

Fechei a cara e dei um tapa no braço dele.

— Ok, ok. Pode dar outro nome se preferir.

Preciso organizar a minha mente. Ok. Passei catarro no tornozelo! Argh! Mas o mais importante era o fato de ter me curado. Gael tinha dito antes que era... mágica. Respirei fundo.

— De onde ele vem?

— Ele vem das narinas de criaturas chamadas zárrul. — analisou o impacto dessa informação no meu rosto. Deve ter visto algo de bom lá porque continuou. — Zárruls são bichinhos gordos e rechonchudos, cobertos por pelos coloridos, apenas três patas e uma língua azul. Enfiam-se em lugares impossíveis! Mas o "catarro" deles é muito eficiente para ferimentos leves, como foi o seu.

Ou ele era um mentiroso muito bom... ou estava dizendo a verdade. O meu tornozelo perfeito me induzia à segunda opção.

— E de onde eles são? — perguntei.

— Do mesmo lugar de onde eu venho. -- Gael ficou mais sério. -- De outro mundo.

Um estalo na minha mente, as ideias se organizando.

— É por isso que você fala nós humanos. Você é alienígena!

— Não. — e ele começou a rir. — Não é esse tipo de mundo. Não sou de outro planeta. É mais do tipo... mundos paralelos. Existem caminhos dentro do seu mundo que conduzem ao meu.

— Só me dá um segundo. — pedi e me sentei no meio fio. A cabeça rodando a mil por hora me deixou tonta.

— Está se sentindo bem? — ele se abaixou ao meu lado, as feições preocupadas.

— Estou me sentido como uma pessoa que acabou de considerar a possibilidade real de que a magia não seja ficção. — olhei no fundo dos olhos dele, procurando traços de zombaria. Encontrei seriedade. — Porque é basicamente isso o que está me dizendo. Você é uma criatura mágica.

— Vou comprar uma garrafa de água para você.

Evasão, um sinal evidente de confirmação. Eu sou louca? Por considerar que isso possa ser verdade? Talvez eu seja ingênua e ele esteja me pregando uma peça, isso seria possível, provável até, mas... aquele remédio não existia, pelo menos não nosso mundo.

Doce Pecado | 1Donde viven las historias. Descúbrelo ahora