11 - Apresentações formais

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Na segunda -feira, cheguei cedo na escola. Será que ele já tinha chegado? Eu estava quase correndo, a urgência me impelia.

Comecei a procurar pelos corredores. Mas que droga! Ele não estava na sala dele. Vanessa! A garota andava grudada nele como se fosse sua bagagem-de-mão. Talvez estivesse na sala dela.

Fui abrindo caminho entre os alunos mas também não tive sorte. Bufei com raiva. Meus olhos não paravam de escrutinar freneticamente entre os rostos que passavam. Vi as amigas de Vanessa, sorrindo e trocando confidencias pelo corredor. Me encaminhei para lá.

— Oi. — cumprimentei e elas pararam de conversar, me olhando como se eu fosse algum animal em extinção, mas se eu conseguisse encontrar o Gael valeria a pena. — Vocês... — fisguei o movimento e o vi contornando a esquina. — Deixa pra lá.

Ele não me viu chegando, estava conversando alegremente com um amigo. A bagagem-de-mão vinha à tira colo. Óbvio. Vanessa babava tanto em cima dele que era melhor começar a usar um babador. A trança típica estava jogada graciosamente sobre o ombro. Uma minissaia branca e blusinha de seda rosa. Pele perfeita. Nunca a vi com uma espinha sequer. Ela era bonita. Infelizmente.

Parei diante do grupo e fiquei tentada a pular a boa educação, mas consegui me controlar.

— Oi. — cumprimentei os três.

— Olá. — o amigo dele respondeu com um sorriso, mas Vanessa fechou a cara.

— Posso falar com você? Agora. — a minha urgência saiu muito mal disfarçada.

— Na verdade, ele está ocupado agora. — Vanessa me deu um sorriso de víbora e de superioridade.

— Na verdade... não estou. — ele sorriu para mim. Ela ficou vermelha.

— Mas temos aula. — a moça falou com a voz doce como mel e pousou a mão sobre o antebraço dele com tanta delicadeza como uma borboleta beijando uma flor. Ainda assim era um sinal claro de propriedade.

Ele olhou fixamente para a mão dela. O estranho lindo estava sério, mas não zangado, o que significava que em seguida ele diria alguma coisa desagradável que considerava verdade.

— Não me toque. -- falou calmamente. -- Já disse que não gosto que fiquem me tocando. — deve ter percebido que as palavras foram duras, então tentou aliviar. — Por favor?

O amigo dele prendeu o riso. Gostei dele! Vanessa retirou a mão com um desgosto evidente.

— Podemos? — me indicando o caminho.

Nos afastamos e o rapaz me acompanhava tão de perto que o braço ficava esbarrando no meu.

— Acho que não vale para ela. Não é? Essa conversa de não ser tocado.

Vanessa não se dava ao trabalho de me olhar. Eu era muito indigna disso. Os olhos dela exibiam mágoa sincera, porém ofuscada pela raiva que borbulhava na superfície.

— Ela é ela. — foi tudo o que se limitou a dizer antes de ignorá-la novamente e voltar a caminhar.

Um sorriso que não fiz questão de reprimir rasgou-me por dentro, e uma vez a uma distância segura de ouvidos curiosos finalmente falei:

— O que era aquilo que você me deu? — perguntei de forma exigente. — Eu acordei hoje de manhã como se nunca tivesse torcido o pé. Está perfeito! E isso é impossível.

Ele olhou para baixo na direção do meu pé esquerdo e suspirou.

— Você usou, afinal. Que pena! Eu tinha esperanças de ter que passar em você à força.

— Não desvie do assunto!

— Bom, vamos chamar de... — ele se aproximou mais e sussurrou: — mágica!

— Eu estou falando sério! — me afastei para manter o foco na coisa certa.

— Eu não? — arqueou uma sobrancelha.

— Mágica?! — debochei.

O rapaz olhou discretamente ao redor antes de responder e quando falou usou um tom de voz baixo.

— Que tenha te curado em uma noite, por mais estranho que pareça, ainda é aceitável, mas... usar um tabu como mágica para rotular isso é... bizarro demais? — ele cruzou os braços e balançou a cabeça. — Vocês humanos, ficam sempre dentro de uma caixa tão pequena! Rotule como quiser, então.

Nós humanos? Isso faz de você o quê? — algumas pessoas olharam para mim. Devo ter falado mais alto do que pretendia. Minha voz tinha uma tendência horrorosa a ficar estridente quando aumentava de volume.

Sabe, eu percebi que deixei passar uma coisa. Não fomos devidamente apresentados.

Eu dei uma risada e relaxei.

— Você é muito estranho! E isso não é um elogio! Eu sei o seu nome. — essa foi a minha vez de cruzar os braços.

Um semblante travesso respondeu:

— Mas ainda assim não fomos apresentados corretamente. E acho que não tivemos o melhor dos começos. — estendeu a mão para mim numa apresentação formal. — Gael Ávila.

— Alma Ferraz. — estendi a minha.

Com movimentos ágeis, ele a pegou e virou para cima, depositando um beijo demorado sobre a pele do meu pulso. O meu corpo inteiro foi atingido pelo choque de uma violenta corrente elétrica. Literalmente da cabeça aos pés. Ele me deixou sem reação. Mais uma vez!

— Agora sim. Abra sua mente, Alma. Pense fora da caixa e talvez algum dia eu possa te mostrar que ela nem sequer existe. — libertou minha mão cativa e foi embora.

O sinal tocou me tirando do transe e me lembrando que eu tinha uma manhã cheia de aulas pela frente.

O sinal tocou me tirando do transe e me lembrando que eu tinha uma manhã cheia de aulas pela frente

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Doce Pecado | 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora