A Herdeira Mestiça

By albuquerque_s

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Vítima de um assassinato mal executado, Mariah despertará para um novo mundo, guiada por um encantador vampir... More

CONTO DO VIGÁRIO
RECÉM CHEGADA
A REALEZA
DOCE VENENO
ÁGUAS PROFUNDAS
SANGUE AZUL
O JULGAMENTO
CICATRIZES
INSTINTOS
A ALIANÇA
A DANÇA DOS CORVOS
A REBELIÃO
SOBREVIVENTE
FILHOS DA LUA
A QUEDA DO PRIMOGÊNITO
O MENINO QUE SOBREVIVEU
A ESTRELA DA MANHÃ
COROA FLAMEJANTE
O OUTRO LADO
O QUE VEIO ANTES
NADA DO QUE ME ORGULHAR
SONETO DO ADEUS
CAMPO SANGRENTO
A GRANDE CHEGADA
ALGHARKA
UM FRAGMENTO DE EMPATIA
BAILE DE OURO
ÁRVORE VERMELHA
A PAZ NO PEQUENO ABISMO
VOTO PERPÉTUO
ATAQUE AOS REIS
KARMA
TODOS PARTEM E SE PARTEM
UMA TERCEIRA CHANCE
FADAS TAMBÉM SANGRAM
VERDADEIRO LUGAR
O ORÁCULO
SANGUE RUIM
MALDITO SEJA O REI DA NOITE
A NOITE ESCARLATE
O LAR
LIBERTE-OS, LIBERTE-OS TODOS
FILHOS DE ELYS
SALVE A HERDEIRA MESTIÇA
PONTO DE RUPTURA
COLISÃO
O RENASCER
EPÍLOGO

DO TRONO AO PÓ

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By albuquerque_s

A sala do trono agora mais parecia um mausoléu, vazia, escura e silenciosa. Como se tivesse sido esquecida no tempo. Em seu trono de pedra, com o corvo entalhado acima da cabeça, Lorenzo o descendente de Eurin, o rei dos reinos e senhor da noite. Agora, não fazia jus a nenhuma das nomenclaturas. Estava cansado, os ombros caídos, as mãos cerradas a todo o momento, a fúria corria suas veias. Mas, outra coisa lhe perturbava a mente. Tinha descoberto os planos de Mariah, e com isso, a notícia de uma prisioneira nas montanhas, fez o coração de pedra de o rei estremecer. Em conflito sobre o que fazer se arrependera de atacar a aldeia, tinha inflamado uma guerra adormecida. E agora, toda a paz em Elys, ruía diante dos seus olhos.

- Deixe-me adivinhar. Passou a noite inteira aqui? - Íris também não parecia estar nos melhores dias, os cabelos soltos pretos e espessos se estendiam até a cintura, ainda vestia a túnica cor vinho a qual usava para dormir. Sem nenhuma joia, ou soberba ela se aproximou de Lorenzo.

- O que fizemos a aldeia, não será perdoado Irís. Sabe o que isso significa?

- Nós trouxemos justiça ao nosso povo. - A rainha estava convicta de suas palavras.

- Nosso povo queria sangue derramado. Sangue inocente.

- Nenhum ser que já andou por esta terra, está livre do pecado. Todos nós, somos condenados.

- Quando foi que aconteceu?

Lorenzo a encarou, e a mulher confusa, piscou.

- O que?

- Quando se tornou... Isso? - Havia desprezo na última palavra.

Íris manteve o silêncio.

- Quando a conheci, pensei que era uma boa mulher. Você amava esse lugar, era piedosa e cheia de amor. Apesar de nossa natureza nos dizer o contrário, você lutava por justiça Íris. Você chorou ao ver Simon torturado. Chorou quando pensou que ele tinha morrido naquele córrego.

- Você o trouxe para dentro da nossa casa, ele comeu da nossa comida, viveu entre nós. Mesmo sendo um maldito mestiço. E... - Íris sentiu um nó na garganta.

- Você o amava...

- Você me trouxe a ilha para casar, estávamos apaixonados, me prometeu um reino inteiro, e um casamento forte. Mas tudo sumiu, quando Aurora apareceu com um filho e se fez de vítima. Um anjo sem asas procurando por um idiota que cuidasse da criança. E não foi só isso. Você se apaixonou por ela. - Íris vomitava as palavras, os olhos ardendo em lágrimas. - Teve uma filha com ela!

- Então a culpa de você ter se tornado um ser repugnante e asqueroso é minha?

- É exatamente isso, milorde. - Debochou a mulher. - Tudo que você toca, se destrói. Tudo que toca, morre! Eu amava o Simon, você nunca me deu filhos, então eu o aceitei. Ele era um garoto doce, e inteligente. Ele seria o meu príncipe, eu o veria se tornar rei um dia.

- É triste ver, sua deplorável situação Íris. Mas quero que saiba. Killian era um parasita, um bastardo imundo, uma doença para Elys. Ele merecia sofrer.

-Ele era uma criança!! - Esbravejou a vampira com os punhos cerrados.

- Simon não era seu filho. Nunca foi! Aurora foi quem deu-lhe a luz, ela é a mãe.

- Nenhuma mulher no mundo amou esse menino como eu amei. Da mesma forma que nenhuma outra, vai te amar Lorenzo, como eu um dia amei.

- Você me culpa por Simon, por Aurora, e o fato de nosso casamento ser falido? Veja bem, você não mediu esforços para continuar com essa coroa na cabeça. Quando aquele parasita fugiu, você permaneceu calada. Seu silêncio foi à confirmação que seu verdadeiro amor, é aquele trono de pedra.

- Eu amei você. Apoiei você. E é isso que mereço?

- Eu amo a Aurora, sempre vou amar. Eu nunca quis você. Nunca amei você, nem por um misero segundo. Agora saia da minha frente.

Lorenzo estava pronto para partir, quando Íris o impediu, os olhos fervendo em ódio, inundados de dor.

- Você me tirou isso, quando começou a tortura-lo a destruí-lo de dentro para fora. E agora. Ele se tornou Killian, o seu ceifador. - Irís se aproximou ainda mais do rosto de Lorenzo.

- Ele está vindo te pegar, e eu espero estar aqui, pra ver você e seu castelo queimarem.

Lorenzo não ousou encará-la, passou por Íris como um crocodilo despreza um coelho. Uma presa tão fácil que não merece nem o mínimo dos esforços para ser devorada.

[...]

O Jardim do castelo estava quase como era antes, cheio de flores, e rosas vermelhas, a fonte já funcionava brilhante com agua límpida, agora as paredes tinham sido cobertas por galhos secos, ao redor rosas desabrochavam a cada instante. Alguns raios de sol entravam pela vidraça, trazendo ainda mais vida para o lugar. Era estranho pensou Lucy enquanto se aconchegava na cadeira da mesa de chá francesa colocada longe da luz. Ali sentia um vislumbre de uma paz que há muito tempo não sentia. Na verdade, mal se lembrava como era. Agora, estava renovada com os cabelos ruivos curtos, acima dos ombros, com algumas ondulações. O vestido verde esmeralda escuro, com detalhes em preto contrastava com a pele pálida. Porém estava sem joias ou adornos. Parecia leve de certa forma. E ainda sim tensa. O lugar tinha lhe trazido boas lembranças, mas logo sua mente voltou a realidade, a situação alarmante dos reinos, e claro as palavras cruéis de Íris que ecoavam repetidamente dentro dela.

- Você tem passado muito tempo aqui.

Helena estava radiante, com um vestido longo opaco em um tom violeta escuro, ombro a ombro. Os cabelos presos em um coque alto, com alguns adornos. Agora os capuzes não eram mais necessários. A pele prisma estava ainda mais evidente. Ela se sentou de frente para a irmã olhando para o jardim.

- Me sinto em casa. - Comentou Lucy sobre o jardim.

- Você fez um ótimo trabalho.

- Obrigada.

- Qual o plano?

Lucinda a olhou, confusa, mas Helena permanecia séria.

- Vamos Lucy, o que está planejando?

A princesa manteve o silêncio.

- Acha que eu não percebi? Você e o soldado vivendo um conto de fadas pelos corredores do castelo, indo jantar a luz da lua. Você está calma demais, até mudou o visual.

- Uma mulher não pode estar apaixonada? - Lucy deu um meio sorriso.

- Infelizmente irmã, eu a conheço. Maré baixa significa que vem uma inundação das grandes. - Helena estreitou os olhos. - Não ouse mentir para mim.

- Certo. - Lucy cruzou os braços se dando por vencida. - Precisamos eliminar a rainha.

- O que? Você só pode estar com abstinência, já se alimentou hoje?

-Estou falando sério. Nunca foi segredo, que eu quero a coroa e odeio a atual rainha.

- Sim, mas... - Helena abaixou o tom de voz. - Matar Íris? Sério? Seremos espetadas no meio da multidão, iguaizinhos porcos prontos para o abate.

- Você é bem medrosa, para alguém que decidiu ficar aqui, depois da rebelião.

- É diferente. - Helena revirou os olhos.

- Só precisamos dar um jeito de chegar até ela. Sem que os guardas nos peguem.

Houve um momento de hesitação por parte de Helena.

- Ah droga, tudo bem. O que preciso fazer?

Os campos baixos estavam cheios de lama, as nuvens carregadas cobriam o dia ensolarado. A tropa de Payne crescia a cada dia, novos vampiros chegaram à ilha de Elys, tanto antigos, quanto recém-criados. Mais fortes, mais velozes, mais perigosos. Junto a eles, os soldados de Payne, corriam em uma série de desafios em sequencia. Obstáculos, armas pontiagudas, e armadilhas. Numa corrida acirrada e violenta. Ali valia tudo. Thomas suava frio, o corpo ardia, e as veias secas pareciam se rasgar abaixo da pele. Sujo de lama ele se levantou de uma recente queda e voltou a corrida. Com duas adagas nas mãos eliminou um grupo de recém-criados e seguiu na sangrenta corrida. Tendo que largar as adagas para socar, chutar e derrubar os outros soldados. Gradativamente o tempo acima, no céu se fechou ainda mais. E Thomas fez com que chovesse sobre o solo. Eles entraram na floresta do Éden onde novos obstáculos e quedas os esperavam.

Um soldado conhecido de Thomas, cravou uma lança no ex-general atravessando sua costela. Ele urrou de dor, e com muita dificuldade quebrou o cabo enquanto ainda estava enfiado dentro do corpo. Lentamente puxou o objeto para fora, e se apoiou contra os joelhos, até que o buraco se fecha parcialmente. Só o suficiente para continuar. Olhou para árvores, e deu um sorriso lunático, o rosto sujo de lama e sangue. Começou a escalar rapidamente, e pulo de uma para outra, continuando a corrida por cima. A camisa branca regata já estava um trapo, então se livrou dela, e apenas de calças descalço prosseguiu determinado.

A bandeira vermelha perto da colina já era visível. Os olhos do vampiro reluziram, a vitória parecia certa. Respirou fundo e correu o mais rápido que conseguiu, a vitória estava quase em suas mãos, quando foi lançado contra o chão com violência. Sentiu o gosto de metal fresco na boca, a sola da bota pressionando seu peito. Uma voz entretida e audaciosa veio até ele.

-Você quase conseguiu. Quase. E quase não é suficiente.

O ex-general se levantou do chão cuspindo sangue espesso. E assistiu o vampiro careca de um metro e oitenta pegar a bandeira. Lorenzo estava lá, de pé vestia a armadura de bronze em sinal de respeito à cerimônia. Ele se aproximou do vampiro vencedor.

- Como devo chama-lo? - Perguntou o Rei, com um brilho nos olhos.

- Mason Reece recém-criado ao seu dispor, meu rei. - O homem se curvou, ficando sobre um joelho.

- O que fazia antes de ser recrutado senhor Reece?

- Era um mercenário senhor. Dos melhores. - Havia certa prepotência envolvida por uma sagacidade da qual Lorenzo apreciava.

- Você acaba de nascer de novo Mason, agora é um dos meus filhos. E assumirá a frente dos meus exércitos. - Lorenzo pegou a espada de prata da bainha e tocou os ombros de Mason.

Todos os soldados já tinham voltado os que sobreviveram, e o resto do exército. O campo agora estava inundado de olhos curiosos, alguns irritados e Thomas estava lá vendo seu cargo ser passado a um estranho. A sensação de fracasso e alivio era conflitante no vampiro.

- Em nome das terras de Elys, em nome de Eurin. E em meu nome! Jure proteger a coroa, e a casa Molfenter. Sem hesitar, sem recuar, debaixo das asas do corvo. Jure dar sua vida pelos seus irmãos!

- Eu juro! - Mason falou em alto e bom som. Seus olhos não mentiam ao encarar Lorenzo.

- Eu, Lorenzo Molfenter, descendente direto de Eurin o nomeio General das tropas de Payne!

Mason Reece se levantou, recebendo a espada de prata onde estavam entalhadas as leis de Eurin, o juramento dos guerreiros da noite. O poder que aquilo representava parecia adrenalina correndo nas veias do jovem vampiro. Ele levantou a espada aos céus e todo o exército comemorou, gritando seu nome. Era uma nova fase para o exército de vampiros. E Thomas temeu pelo destino da tropa.

[...]

O por do sol já se aproximava, quando Lorenzo se reuniu com corte na sala do trono. Os tronos menores tinham sido destruídos, e apenas o seu e Íris permanecia de pé, ainda maiores do que antes. O rei parecia uma estátua de bronze, com a coroa adornando seu cabeça, os olhos rubros como a lua de sangue. Todos estavam lá, os Cullens, os Morgens, e claro a casa dos corvos. A parte da corte mais antiga que as próprias paredes do castelo Molfenter. O novo General também estava lá, já com o uniforme preto e dourado, o rosto quadrado acentuado e os olhos tão azuis quando as aguas do caribe.

- Bem-vindos meus caros irmãos. Estamos de volta ao salão real, por motivos que todos estão cientes. Killian é o problema, precisamos eliminá-lo e proteger o nosso povo.

- Está sendo otimista se acha que só Killian é o problema. - Edward estava com um casaco pesado e seus cabelos molhados estavam jogados para trás. - A última vez que pisei deste lado das terras Molfenter, Mariah Graig estava sendo julgada e condenada a morte. Ela escapou pelo que sei. Onde ela está?

- A mestiça não é perigosa. - Lorenzo enrijeceu o maxilar.

- Sabemos que ela está com os lobos. E sabemos da retaliação. O que estava pensando meu rei? - A mulher robusta do julgamento, agora tinha ganhado uma cicatriz na sobrancelha. A marca era familiar. Garras de lobo.

- Graças a Rebelião, perdemos muitos irmãos, outros ficaram com marcas irreparáveis. - Edward encarou a mulher por um momento. - Rowenna está certa. Causar uma guerra com os lobos, não será seguro para nós.

- Não podemos mudar o que já foi feito, senhores. - Lorenzo se aprumou. - Os lobos são nossos inimigos, sempre foram, e qualquer um que se aliar a ele também será considerado como tal.

- Killian está fora de Elys. Isso pode nos dar tempo, para lidar com os lobos, e qualquer outro inimigo. - Argumentou outro vampiro, este parecia um lorde francês, com cabelos amarelos como ouro.

- A rebelião e a Retaliação foram apenas os primeiros sinais do colapso. Leis foram quebradas. Leis milenares. Precisamos nos concentrar em preparar o exército. - Lorenzo tentava ser cauteloso. - Deixem-me apresenta-los ao novo general de nossos exércitos. General Mason Reece.

Reece saiu das sombras indo ao centro do salão e curvando-se perante o conselho. Olhou para o rei pedindo a permissão para falar. E foi concedida. Havia uma superioridade gritante em como andava pelo salão e como olhava para todos os presentes ali.

- Senhores, sei o que estão pensando. Um recém-criado líder de uma legião de soldados. Se me contassem sobre este lugar há um mês, eu teria rido. Mas aqui estamos. - Ele se aproximou do conselho. - Os senhores não me conhecem, mas logo entenderão como eu trabalho. Sejam criaturas mágicas ou humanas, não importa. Todos sangram. E acreditem eu os farei sangrar, até a ultima gota.

Mason se aprumou, com as mãos para trás. Seu olhar diabólico hipnotizou todos que o encaravam.

- Me mostrem seus inimigos, o exército estará pronto. E a vitória dos filhos da noite, será garantida. Vocês comemorarão sobre os ossos deles, regozijarão sob suas casas destruídas e se banharão com sua dor.

A noite estava estrelada, como se todas as luzes do mundo fossem postas sobre a escuridão que cobria o céu de Elys. Lá fora nos campos, o exército ainda treinava, estandes tinham sido erguidos para suprir as necessidades dos homens. Com vinho, sangue fresco, ou só um lugar para descansar. Pilastras foram levantadas com lampiões em suas pontas. Da varanda de seu quarto, enquanto penteava os cabelos ruivos. Lucy admirava Thomas treinar, estava cansado era possível notar, seu corpo estava manchado de sangue. Mas não parecia inclinado a desistir. Havia algo sobre Thomas, que Lucy não podia negar, ele era um bom homem, sempre foi.

- Tem certeza que quer continuar com isso? - Helena estava com os cabelos soltos sobre os ombros. Em sua mão segurava o objeto pedido pela irmã.

Lucinda ainda vestia um roupão de banho. Seus olhos estavam ainda mais brilhantes sob a luz do céu.

- Não tenho escolha. O destino não é justo com ninguém. E ele cobra alto. - Lucinda pegou o objeto, sentindo o toque frio nas pontas dos dedos. Ela encarou Helena. - Sabe o que fazer. Sob nenhuma circunstancia devo ser interrompida.

- Lucy, já parou para pensar no que vai acontecer depois? - Helena estava apreensiva.

- Nada importa. Nós, ele, a maldita coroa. Eu só quero que isso, essa dor em mim, acabe.

- Se é o que quer. Estarei com você, sempre.

Helena partiu, dando um abraço em Lucy que ainda ficou por um tempo em seu quarto.

Se despiu em frente ao espelho, e deixou que o vestido de veludo preto lhe caísse muito bem, prendeu os cabelos em um coque alto com mechas caindo sobre os olhos. Ligou a caixa de musica que escondera durante tantos anos, a caixa que seus pais lhe deram quando completou quinze anos. A sinfonia de Beethoven inundou seus ouvidos. Enquanto se maquiava. Lembrou-se dos tempos em Londres, quando ainda era um gentil rapazinho, amedrontado e perdido em si mesmo. Se recordou da noite em que descobriu sobre Helena, o quanto amou ter uma irmã, em ter alguém que amasse profundamente. Lembrou-se da noite maldita quando foi transformada por um vampiro desgarrado e em como foi salva por Thomas as margens do rio Tâmisa.

A música parou, como se ela despertasse de um sonho, encarou seu reflexo e imaginou como teria sido sua vida, fora da ilha. Talvez Thomas tivesse razão, talvez pudessem ter sido felizes. A princesa deixou que uma lágrima solitária corresse seu rosto límpido e se levantou.

Os corredores estavam com o aroma família de flores mortas, por todos os lados havia cinzas das pétalas. Lucinda seguia pelas sombras, as mãos firmes, o corpo ereto, e a alma se rasgava lentamente por trás de seus olhos. Um tom escarlate tomou seus olhos sinuosos. Ela atravessou mais dois corredores que deram nas portas de vidro adornadas de galhos secos, a entrada do jardim recém-reformado. Ela prendeu o ar, abriu a entrada e se deparou com a destruição. Todas as paredes rachadas manchadas com fuligem, as flores mortas se desfaziam ao menor sinal de brisa, a fonte jorrava sangue, não mais água. O vidro do teto quebrado, inundando o chão de pequenos e numerosos cacos. Lucy tocou com pesar o jardim que se desfizeram em suas mãos, seus olhos se encheram e o nó na garganta apertou.

- O que achou da nova decoração? - A voz de Íris estava mais firme e sombria que o comum.

Ela estava de pé com as mãos entrelaçadas a frente do corpo. Estava com um luxuoso vestido dourado, em sua cabeça a coroa da rainha estava polida e contrastava com os longos cabelos pretos a mulher.

- Por que fez isso? Só para me provocar? - Lucy não conseguia esconder tamanha indignação.

- Na verdade, não. Gostaria de mostrar a você o que acontece quando se é Rainha. - Ela gesticulou para a coroa. - Acha que podemos ser piedosas? Chorar? Sentir qualquer coisa que não seja ódio? A cada passo para mais perto dessa coroa, mais será destruído de você. Mas lhe será tirado. Porque é isso que o poder faz, ele mata cada pedaço da sua alma até não sobrar um terço se quer de verdade.

- Somente Rainhas fracas se deixam cair.

- Criança. - Íris caminhava pelo jardim, melancólica e parecia distante enquanto falava. - Você nunca esteve aqui, desse lado. O peso disso é inevitável. Você esteve muito perto de conseguir poder, e o pouco que lhe dei. Olha no que se tornou.

-Eu vim para Elys, por que você me trouxe. Você me ofereceu uma nova vida. Como eu sempre quis. Longe de julgamentos, longe de sofrimento. E tudo que você me causou foi dor.

- Não pode me culpar, por ser uma criança mimada, por não se preocupar com sua irmã ou seu amado Thomas. Oh pensou que eu não sabia sobre Helena?

Lucinda engoliu em seco, seus olhos alarmados.

- Nunca poderia ser uma rainha. Mal consegue esconder o temor pela vida de sua irmã.

Lucinda lutou para manter o controle. Aproximou-se despercebidamente da rainha, mantendo uma distancia segura.

Nesse momento, Íris parou de costas como se desse conta do que estava acontecendo. Soltou um riso curto e abafado.

- Oh não se dê ao trabalho querida. - Ela se virou e parecia mais pálida que o comum.

Lucinda percebendo que a rainha tinha descoberto sua intenção puxou a adaga de ouro banhada com veneno santo.

- Você me destruiu. Não foi a coroa, ou minha sede de poder. Você acabou comigo. Foi você mãe.

- Então você finalmente se lembrou. Pensei que nunca lembraria. Seu pai ficaria feliz, se eu não tivesse drenado todo o sangue do corpo dele. - Íris sorriu diabolicamente.

Lucy estava pronta para mata-la, mas por um segundo de hesitação perdeu sua chance, quando a Rainha começou a rachar como um pedaço de porcelana, veias enegrecidas subiram por seu pescoço, e ela deixou que uma única lágrima de sangue escorresse seu rosto, antes de desmoronar no chão frio, fazendo com que a ultima rosa viva do jardim vira-se pó. A vampira caiu de joelhos, ainda com a adaga empunhada, ela tremeu ao ver Íris estirada no chão como um pedaço de carne podre.

Finalmente tinha conseguido o que queria, a coroa rolou até seus pés e ela largou a adaga para segurá-la, era brilhante e inversa, o peso do poder em suas mãos a fez delirar por momento, imaginando-se sentada no trono de pedra, sendo adorada por uma multidão de vampiros. Ainda tremula colocou a coroa sobre a cabeça ruiva, e olhou para o corpo de Íris. Aproximou-se e sussurrou.

- Ela me cai muito bem, mamãe.

As portas do jardim se abriram novamente. Thomas empurrava Helena para entrar. Ele olhou para a cena e arregalou os olhos. A rainha morta, e Lucinda como uma lunática sorria para eles, com a coroa na cabeça.

- O que você fez? - Sussurrou ele atormentado.

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