A GRANDE CHEGADA

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Mariah e Victor chegaram ao acampamento improvisado logo que os primeiros raios de sol surgiram. Todos já estavam de pé se preparando para continuar. Lia marchou até os dois.

- Onde foram?

- Nós só caminhamos por aí. Estávamos sem sono.

Lia cerrou os olhos irritada.

- Muito imprudente Victor. Muito imprudente.

- Deixe de ser mandona Lia. - Resmungou Melina enquanto espreguiçava.

Maicon parou a loba e deu-lhe um sorriso torto.

- Eles estão bem.

Ele sabia que Lia se importava, mas jamais admitiria. A loba apenas revirou os olhos seguindo pela trilha. Todos a seguiram.

Mais algumas horas de caminhada, finalmente chegaram as margens da floresta do éden, onde as árvores tinham tons de ouro, alaranjadas e avermelhadas. Era como o outono, fora de época. O sol já atingia seu topo e o grupo parou. Agora a montanha parecia imensa, não era possível medir tamanho e altura a olho nu. Seu topo era escondido pelas árvores e mais acima pelas nuvens. Eles se entreolharam como se esperassem um sinal divino. E então prosseguiram para dentro. O medo e a adrenalina corriam seus corpos e tudo neste momento, era incerto.

Quanto mais avançavam, mas a floresta se abria, em caminhos, flores desabrochavam a todo instante, como se dessem boas vindas, ali, os raios de sol ousavam passar por algumas brechas. Dando ao lugar uma iluminação mágica. As ninfas ali eram em maior número com suas peles quase transparentes rosadas, curiosas espreitavam para saber quem acabara de chegar. A terra sob seus pés era macia e úmida, ar ali era mais limpo e fresco. Imediatamente começaram a se sentir muito bem, fisicamente. Mais algum tempo, e saíram do labirinto de árvores dando de encontro a uma estrutura antiga de pedras rachadas, palavras em língua antiga cravadas no topo do arco de entrada.

- Alguém sabe a língua celta?

Mariah sentia seu corpo elétrico, como se ao entrar naquele lugar fosse encontrar uma parte perdida de sua memória. Ela tocou a estrutura, e sentiu um arrepio correr suas veias, sussurrou quase que para si mesma.

- Tirem os véus da mentira, agora pisam na terra dos deuses.

Todos a olharam impressionados. Mas nada disseram. Apenas ultrapassaram a entrada. A cada passo para perto da montanha, flashes desnorteavam Mariah. Flashes dos quais, nem sabia que tinha. "Leve-a, tire-a daqui". Uma voz ecoava no fundo da sua mente. "Seu nome será Mariah". Ela sacudiu a cabeça para espantar a confusão. "Você está em casa". Sussurrou a voz mais uma vez. Mariah parou, fazendo com que os outros parassem. Ela sentiu um ar frio tomar seu corpo, agora ali, os raios de sol não os alcançavam. "A sua direita". A voz sussurrou pela última vez.

O solo estremeceu e duas criaturas gigantescas surgiram, eram como lobos, mais não eram lobos. Tinham o triplo do tamanho, três caudas enormes e seus corpos emanavam raios. O céu se fechou e de repente começou a chover e trovejar tão forte que poderia ensurdecer quem ouvisse. As criaturas tinham em suas costas espinhos grossos de pedra, e garras que arrancariam a cabeça de qualquer um facilmente. Enquanto todos tentavam fugir, Mariah não se moveu. Encarava as criaturas como se estivesse hipnotizada. Mas Maicon a puxou violentamente, o que fez com que o grupo tentasse fugir das criaturas. Uma das enormes feras quase pegou Lia, mas Mariah foi mais rápida e a lançou para longe, chamando a atenção para si. Mais a frente um barranco fez com que Mariah caísse bruscamente, ela grunhiu de dor, mas não desistiu de fugir. Olhou para os lados e não via ninguém. - Droga. - Praguejou, enquanto pulava de uma árvore para outra. Conseguiu avistar Melina e Lia em forma de lobo, Maicon e Victor estavam sendo cercados por uma das feras. Então Mariah distraída foi derrubada no chão pelo monstro, que estava pronto para rasga-lhe o corpo inteiro. Quando o chão pulsou contra o corpo da mestiça, uma luz iluminou seus olhos, e as marcas brilharam em um tom de gelo, nunca visto antes. Ela se levantou cambaleante e se aproximou da criatura que parou de rosnar, e se encolheu, e então tocou seu rosto, como se houvesse uma conexão forte ali, algo estava acontecendo. A outra criatura passou a ignorar Maicon e Victor e se aproximou de Mariah. Os dois seres se curvaram para a mestiça. E em silêncio sumiram por entre as árvores.

A adrenalina se esvai do corpo e ela atingiu o chão recuperando o fôlego. O grupo se aproximou rapidamente.

- O que foi aquilo!!? - Maicon estava assustado.

- Eles são Fenrirs guardiões dos elfos. - Declarou ela.

- Eles se curvaram. - Lia estava atônita.

- Gente... - Melina estava mais distante encarando a base da montanha que agora estava a passos largos. - Chegamos.

Todos foram até as margens do córrego que dividia a floresta da montanha.

- Vamos descobrir o que tem lá em cima. - Mariah suspirou fundo e pulou o córrego. - O que estão esperando?

Uma escadaria em espirar tinha sido construída atrás da montanha. Depois de algum tempo, Maicon descobriu. Então prosseguiram, com a gigantesca e longa subida. O por do sol já anunciava sua chegada, quando alcançaram a metade do caminho. Do alto era possível ver bem ao longe, os territórios Knowa, que agora pareciam silhuetas borradas. Lia parou por um instante para admirar a vista, o mar brilhando com a luz do entardecer, as pontas das torres de diamante, a sombra do castelo Molfenter quase invisível.

- Acha que estão bem? - Cochichou para Maicon que vinha logo atrás.

- É claro que estão. Somos Knowas lembra? - Tentou acalmá-la. Lia apenas acenou com a cabeça seguindo com a subida tortuosa.

[...]

O fim da escadaria parecia estar perto, o grupo suspirou aliviado. Finalmente depois de horas em uma subida eterna chegavam ao topo. Um barulho de movimento fez Lia parar e o grupo também. Seus corpos se inundaram de adrenalina e apreensão. Depois de minutos de silêncio que pareciam horas, uma criatura pulou bem na frente deles. Usando um capuz verde musgo e nas mãos uma ameaçadora flecha apontada para os visitantes. Quando retirou o capuz, revelou ser uma Elfa.

- Tenho que admitir, não pensei que chegariam tão longe.

A voz da elfa era enrouquecida, e tinha olhos tão verdes quanto esmeraldas, as orelhas pontuadas saindo discretamente dos longos cabelos castanhos escuros.

- Suponho que seja uma elfa? - Lia não tinha certeza da própria declaração.

- Sim. E pela cara de vocês. Não sabiam que ainda estávamos vivos. - Havia decepção no rosto da garota.

- Você é mais bonita do que imaginei. - Comento Maicon, que recebeu um cutucão de Victor que estava extremamente desconfortável com a situação.

- Escute, elfa. Precisamos falar com vocês, quem é o seu líder?

A garota levantou o arco novamente, o rosto rígido.

- Sinto muito, lobinha. Vocês vão ter que descer.

- Mas...

- Não tem mais, nem menos. Nenhum outro sobrenatural sobe essas montanhas. É a nossa lei.

Mariah vendo a tensão entre as garotas ultrapassou o grupo e se aproximou da flecha, voltando à atenção para si.

- Olha, lá embaixo está um caos, pessoas inocentes estão morrendo. Precisamos de ajuda.

- Acha que eu não sei? Tenho descido as montanhas, desde a chegada da tal herdeira mestiça. Seja lá quem a aquela coisa seja. Não trouxe boa coisa para cá.

Mariah deixou que seus olhos tomassem a cor violeta. Fazendo com que a elfa ficasse desconcertada talvez a única emoção genuína até o momento.

- Você... - Limpou a garganta. - Ele disse que viria...

- Quem disse? - Lia estava impaciente, mas não houve resposta.

A elfa pareceu reconsiderar. Olhou do grupo para Mariah algumas vezes.

- Certo. Darei passagem a vocês. Se comportem lobinhos, os elfos não são gentis com estranhos.

- Eu ainda rasgo essa elfa inteirinha. - Rosnou Lia.

A arqueira parou, e sorriu para Lia. Como se aprovasse sua acidez.

- A propósito eu tenho nome. - Ela se voltou a Mariah. - Ártemis.

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