O QUE VEIO ANTES

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A Corte Das Fadas

Celine estava com os cabelos presos em uma longa trança lateral, usava uma capa pesada com um capuz que cobria parte do seu rosto perfeito, acompanhada de quatro guardas vestidos com armadura de guerra bronze com o emblema da borboleta monarca. Um deles, era mais alto, tinha cabelos azuis como a noite sombria, e os olhos felinos esverdeados, enquanto andava por entre os caminhos tortuosos da floresta do Éden, este se aproximou da rainha.

- Senhora, não estou certo do que vamos fazer... - Limpou a garganta. - A última vez que lobos e vampiros...

- A última vez causou um colapso que atingiu todos os reinos, e Elys foi banhada em sangue inocente. - Ela o interrompeu. - Estou ciente das consequências, meu caro Braham, mas não se preocupe. - Ela o olhou de soslaio. - Killian protegerá o povo das fadas, sou sua rainha, sua esposa, e mãe de sua herdeira.

Celine parou junto a um semicírculo junto com seus guardas.

- É aqui. Cavem. - Ordenou.

Enquanto os três cavavam, Braham permanecia ao lado de Celine que parecia não se agradar com a situação.

- Dois vampiros pendurados na porta dos Molfenter, agora isso...estamos desenterrando o corpo de um lobo. - Comentou um pouco incomodado.

- Pequenos sacrifícios para um bem maior. Sugiro que não me provoque com essas observações Braham, ou pensarei que está contra a coroa das fadas. Não quer ser um traidor, não é?

No Castelo Molfenter

Lorenzo estava cheio de fúria gritando pelos corredores do castelo, as presas a vista, as mãos fechadas, estava pronto para bater no primeiro que aparecesse. Ele correu para as torres do leste, e visualizou as chamas e a fumaça que subia no ar, o caos tomava o território dos Knowa. Íris já estava lá, com o rosto firme, o nariz empinado, mas havia medo em seus olhos, estava com um vestido preto e dourado, as mãos esguias cerradas apoiadas na sacada.

- Pensei que nunca mais veria aquele lugar em chamas outra vez. - Não havia nenhuma satisfação. - Jurei a mim mesma, que como rainha não permitiria que outra guerra acontecesse.

- Os Knowa quebraram as leis, nos provocaram! Dois corpos dos nossos irmãos foram pendurados na porta do castelo!

- Você deveria ter matado aquelas crianças quando tinha chance! Íris gritou mais alto, espumando de raiva.

- Eu não tinha escolha!

- Claro que tinha - Íris estava com a voz embargada. - Você deveria ter escolhido seu povo, você é o rei de Elys, mas ainda age como o príncipe inseguro que desafiou o pai para sujar nosso sangue com uma vadia angelical!

Lorenzo a jogou contra parede enforcando-a até pequenas rachaduras surgirem. Os olhos rubros e cheios a encaravam fixamente.

- Nunca mais, fale da Aurora dessa forma. Você não é um terço da mulher que ela foi. Ela morreu protegendo Mariah da fúria dos meus pais e por sua culpa, eu perdi o amor da minha vida.

- Você é fraco. - Falou entre dentes a rainha. - Fraco e vai cair pelas mãos de Killian, o menino que você deixou escapar pelos dedos.

- Teme a guerra? Diz-me, você teme a guerra, ou teme perder a coroa? - Lorenzo a soltou e Íris caiu no chão. - A guerra virá e com ela, sacrifícios. Se não está preparada para isso, querida, deveria atear fogo em seu próprio corpo.

[...]

Nos limites Molfenter

O cheio de sangue e carne podre subiu ao entrarem na floresta do Éden, o céu trovejava mesmo com a chuva fina que ainda assolava Elys. Pedro temia pelo que vinha e Bernard estava com os punhos cerrados e a cada passo, a angústia lhe tomava. Não demorou muito para encontrarem dois corpos dilacerados mal se podia reconhecer quem eram. Mas ele sabia, conhecia o cheiro.

- Ah droga, Karl e Matt. -Bernard respirou fundo. - Viemos em busca de paz, e é assim que ele nos retribui.

- Como tem certeza que foram os soldados de Payne?

Bernard se aproximou do vampiro, os olhos dourados evidentes, os punhos cerrados e uma fúria e dor contida.

- Ainda dúvida? Eles são vampiros, pela llei natural nos odeiam, além de um Molfenter estar sentado do trono! Todos antes dele, nos massacraram, por que seria diferente agora!?

- Eu...me desculpe... - Pedro engoliu em seco.

O alfa se afastou coçando a cabeça, inquieto.

- Sei o que quis dizer... eu só...estou cansado dessa briga entre lobos e vampiros. - Suspirou. - Sei que não é como eles, e entendo ter esperança na sua raça. Eu também não gostaria de acreditar que meus lobos estão sendo tiranos.

- São sua família, entendo sua dor...acredite Bernard, eu entendo.

Havia sombras no olhar de Pedro, tinha algo não dito em suas palavras e aquele não era o momento para perguntar. Pensou o lobo.

- Vamos, precisamos falar com os outros. Lorenzo declarou guerra aos lobos, agora todos estão em perigo. Da última vez...

- Elys se banhou em sangue.

Então retornaram a Elys, cansados, e preocupados. Em completo silêncio. Depois do fracasso de uma trégua, a morte dos irmãos de lua, e a ameaça que se aproximava não havia o que dizer naquele momento. O pior veio seguir, quando chegaram aos limites Knowa e as chamas e a fumaça subiam aos céus, os gritos dos lobos ecoaram na noite úmida. Bernard gritou e saltou se transformando em um lobo negro enorme e feroz, Pedro hesitou a única coisa que surgiu em sua mente, fora Mariah, no meio do inferno. Não podia perdê-la, não podia deixa-la sozinha. Mas também não podia deixar os lobos queimarem. Ele respirou fundo se concentrando, seus cabelos prateados desgrenhados, o maxilar rígido, os olhos vermelhos brilhando como rubis contra a pele pálida, e as mãos crepitando com as chamas azuis que saiam de dentro da sua alma efervescente.

Mariah gostaria que ele ajudasse os outros, não poderia ser egoísta. Não quando Bernard lhe disse tudo aquilo, não quando o povo Knowa corre perigo.

Ele correu e em segundos chegou em meio ao caos, não via Mariah, mas viu uma garotinha em meio a fumaça, ela chorava e estava com o nariz sangrando, ele a pegou antes que o teto da cabana caísse sobre ela. E seguiu para enfrentar vários soldados que chegavam.

A Herdeira Mestiça Where stories live. Discover now