A PAZ NO PEQUENO ABISMO

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Na terceira lua após a partida de Lia e os outros. Finalmente já podiam ver as luzes da Aldeia, as fogueiras acesas, no campo mesmo a noite era possível ver os mestiços e os lobos treinando incansavelmente, os feiticeiros os orientando, mostrando movimentos e corrigindo erros. Pedro estava lá empunhando uma espada explicando a um mestiço meio fada, meio lobo, como atacar com excelência. Bernard também estava lá, os dois correram pela colina ao verem o grupo se aproximar. Lia estava cansada, Maicon carregava o anjo desacordado, e Victor com o rosto retorcido carregava o corpo de Melina, logo atrás Frida vinha, encolhida e curiosa com o lugar.

- Quem eles estão carregando? – Pedro sentiu um aperto em seu peito. Torcendo para não ser Mariah.

Eles aceleraram ainda mais. Bernard caiu de joelhos ao se aproximar, Victor pousou o corpo de Melina no chão. Ben, a segurou em seus braços e a balançou lentamente, negando com a cabeça. Sussurrando para si mesmo. – Não, minha pequenina não.

Lis e Arya vieram assim que souberam da notícia, Maicon entregou o corpo do anjo a elas.

- Essa é a mãe de Mariah. Leve-a para dentro. Ela desmaiou quando a encontramos.

Arya e Lis se entreolharam espantadas, mas fizeram o que lobo pediu.

Lia abraçou Maicon soluçando outra vez, o mesmo puxou Victor e ficaram ali por um tempo.

Pedro se aproximou da elfa mestiça que abraçava os próprios braços, o rosto triste olhando para os Knowa.

- Onde está Mariah? Por que não está aqui? – Pedro estava alarmado.

- Ela, ficou para trás. Nos mandou vir, parece que os vampiros estavam vindo. Eu...não sei. – Frida não sabia o que dizer, era a primeira vez que via um vampiro de perto.

- Onde vocês a deixaram? Me diga onde!! – Pedro estava desesperado.

- Pedro! Já chega! Não pode ir atrás dela! – Lia se aproximou, os punhos cerrados, as lágrimas correndo pelo seu rosto. – Ela nos salvou! A única coisa que vai conseguir indo atrás dela é uma morte horrível. Não seja egoísta a esse ponto. Ela voltará.

- E se não voltar!?

- Ela tem que voltar. – Lia olhou para Ben, e Melina morta em seus braços.

[...]

A noite passou depressa, logo os primeiros raios de sol surgiram no horizonte, e lá estava Victor mais uma vez, destruído, despedaçado com seu violino o toque melancólico em uma manhã de luto. Melina foi enterrada junto aos seus, com sua verdadeira família, todos em volta do túmulo pranteavam sua partida. Victor tocava de olhos fechados, em sua, mente apenas o rosto de Melina pairava. Recordou-se de quando a conheceu quando eram crianças, tão puros e felizes, a garota de cachos escuros e um sorriso doce, sempre sensata e carinhosa. Lembrou-se de beijá-la debaixo da árvore vermelha, e vê-la corar e correr envergonhada. Lembrou-se da despedida, quando ela partiu de Elys, lembrou-se de sua volta, quando acabara de perder a irmã, mas sentia um calor no peito pela volta de Melina. Ela a amava, com todas as suas forças, sempre a amou e a teve em seus braços por alguns instantes. Pensou que deveria tê-la beijado na noite do Baile, deveria ter dito, mas não disse. E agora a perdeu também.

Lia abraçava Maicon, para não deixar que seus joelhos ruíssem e caísse no chão, estava sem forças e não queria vê-la ali debaixo da terra, Melina era uma irmã, era da família, E aquilo estava matando-a por dentro.

Bernard estava com os punhos cerrados, as lágrimas doíam ao escorrerem pelo seu rosto retorcido. Havia criado Melina, desde que seu pai tinha sido banido e sua mãe assassinada. Era mais que sua sobrinha, era sua filha. Seu sangue. E agora, ele não ouviria mais a voz dela. Nunca mais.

A Herdeira Mestiça Where stories live. Discover now