FADAS TAMBÉM SANGRAM

42 4 0
                                    

A lua já estava alta no céu quando os soldados da Rainha notaram uma movimentação pelos limites, Seelie estava armada como um gato preste a atacar junto ao general de Celine. Desde a notícia da volta dos renegados, o reino das fadas tinha se tornado um campo de guerra. Com proteções e soldados armados por todos os lados, muros tinham sido construídos em volta do reino e agora no lugar do portão de espinhos, metal sólido curvado e prensado. Logo das sombras se sobressaiu um homem, era ele. Seelie sentiu um arrepio correr a espinha, ela abominava a figura. 

- Boa Noite Seelie, já faz muito tempo. 

A voz gentil e perigosa de Kilian fez com que a pequena fada se apruma-se tentando manter a postura. 

- Poderia ter sido bem mais...

- Não seja grosseira. - Kilian tocou a ponta da espada no metal dos portões que tilintou levemente. - Vamos abra. 

- Não acho que posso.

- E por que não ?

Seelie olhou para os outros soldados, todos estavam tensos com a presença de tantos renegados a sua porta.

- Existem ordens a serem cumpridas.

- Ordens da rainha? - Killian deu um sorriso irônico.

- Não. De Elys. As leis podem ter sido quebradas mas não significa que não há quem acredite nelas. Renegados são a escória e devem continuar para fora da ilha. - Discursou em alto e bom som.

- Você é corajosa pequena fadinha. Ou talvez seja burra. 

Kilian bateu com mais força a espada no metal. 

- Abra!!! Ou eles abrirão. - Killian apontou para a matilha de lobos rosnando para ela. 

Seelie engoliu em seco, e plantou seus pés onde estava. Não conseguia se mexer. Logo uma mão delicada tocou seu ombro e passou por ela.

Celine estava deslumbrante em um vestido de renda vinho, os cabelos caindo sobre os ombros, jóias e flores adornavam sua aparência delicada. 

- Pensei que voltaria daqui umas semanas.

- Não está contente em me ver querida? 

- Claro que estou. - Disparou sem dúvidas mas Seelie via em seus olhos que a Rainha estava em pânico.

Houve um momento de silêncio e Kilian olhou para a Rainha esperando alguma atitude. Mas Celine estava longe em seus pensamentos, Bethânia não estava mais segura e Lis D'Blair a tinha avisado. 

- Então meu amor, não vai nos convidar para entrar!? 

Celine piscou algumas vezes e finalmente ouviu o homem.

- A-abram os portões.

- Mas senhora...

- Não discutam!! - Ordenou.  

As fadas pareciam estátuas de sal, apenas a pequena Seelie teve a coragem de ir até os portões e destituir da magia que os protegia, algumas palavras sussurradas ao metal e o mesmo se retorceu até abrir por completo. Killian sorriu perigosamente ali naquele momento a fada teve certeza que seriam massacrados sem piedade. Mas ao contrário dos seus instintos, todos os renegados entraram em silêncio, alguns rosnando baixo outros amedrontando os soldados monarcas apenas com seus olhares venenosos. Havia muita raiva e muita sede no exército de Killian era notável em cada rosto ali presente. Quando todos tinham entrado, assumiram a guarda e a segurança do palácio e do reino das fadas. Celine mantinha sua posição ordenando que nenhuma fada reagisse aos comandos de Killian, que não fizessem nenhuma insensatez. Em outras palavras dizia, não reajam ou morrerão. 

O medo e a escuridão tomou o lugar do aroma doce e das flores desabrochando. O veneno das fadas era sutil e destruía cuidadosamente. O veneno que vinha dos renegados era cruel, e direto, sem curvas, sem perdão. 

Algumas fadas se refugiaram no castelo para que os renegados tivessem um teto sobre suas cabeças. Outras se encurralaram na própria casa, na esperança de que aqueles que invadiam fossem embora. Em meio a tanta tensão, Celine estava achando difícil manter a rigidez. Seu povo, suas casas tudo estava sendo tomado. 

Horas mais tarde, na madrugada fria da ilha. Celine já vestia seu cetim pérola para dormir, mas a cama nem tinha sido desfeita. Estava de pé na varanda, encarando as tochas creptando, as tendas armadas, o aço sendo fundido para se transmutar em espadas e machados e lanças. Lobos, vampiros, feiticeiros das sombras, sereianos em sua forma humana trabalhando todos juntos com um único propósito. Vingança. 

- Você não parece estar feliz com a minha volta querida. - A voz de Killian fez o corpo da rainha estremecer por dentro.

- Eu estaria se não tivesse transformado meu reino em um campo de guerra. 

- A guerra é inevitável minha bela e doce Celine. - Killian se aproximou e tocou o rosto dela. Mas logo se afastou. - Tudo está correndo como deveria. 

- Os reinos estão um caos, Lorenzo fechou as portas desde a morte da Rainha. Não temos notícias sobre Mariah e os outros. As leis foram quebradas, Lorenzo recuou, todos os outros estão em silêncio. Os mestiços foram libertos. O que mais você quer?

Killian demorou a responder, parecia ponderar tudo o que acontecera. 

- Acha que me importo com os mestiços? Acha que estou satisfeito em ver Lorenzo com medo? E acha que Mariah está encolhida chorando em algum canto? - Killian virou uma taça de vinho. 

- Ah não, você está muito enganada se pensou que era só isso. Sabe o que eles estão fazendo lá embaixo? 

Celine não respondeu, então Killian a pegou pelo braço e a arrastou de volta a varanda, segurou seu rosto e a forçou a olhar. Não eram só armas que eles estavam construindo. Eram jaulas. 

Uma era feita de metal, a outra de vidro e uma outra ainda estava sendo construída. 

Celine sentiu a garganta queimar. 

- Chegou a hora que tanto aguardamos. Eu vou ter todo o poder dentro de mim e ai, só aí quando Elys se resumir a um monte de cinzas. - Ele sussurrou ao seu ouvido. - Aí terá finalmente acabado. 

Ele soltou seu rosto e Celine engoliu o nó que doia na garganta. 

- A propósito, onde está minha querida filha? 

Celine travou. Ele não podia pegá-la. 

- E-esta dormindo. Amanhã poderá vê-la. 

Killian ficou sério e analisou o rosto da rainha, trêmula com olhos marejados e a boca em vermelho vivo. Estava com medo e escondia alguma coisa. 

- Vou vê-la agora. - Soou como uma ordem. 

- Não. - Sussurrou ela.

- O que?

- Eu disse Não!!!! - Gritou. 

Sem qualquer cerimônia Killian se aproximou de Celine e a esbofeteou com força, a rainha caindo no chão e começou a chorar. 

- Nunca mais fale nesse tom comigo. Você não é nada além de um instrumento que foi necessário. Mas agora, não é mais. - Ele se abaixou e segurou seu cabelo com força a forçando a olhá-lo. - Só está viva por minha piedade. 

Celine o guiou pelos corredores do palácio descendo as escadarias com a lâmina fria tocando suas costas. Quando chegaram a porta do quarto de Bethânia, estava aberta e a jovem fada não estava lá. Killian prensou Celine na parede, fungando de raiva. 

- Onde ela está!? - Kilian socou a parede. - Responde sua vadia desgraçada!!

Celine empinou o nariz, os olhos inchados e vermelhos, o cabelo desgrenhado mas sua arrogância lhe serviria.

- Ela já deve estar longe. Nenhum poder no mundo vai estancar a ferida que sangra todos os dias dentro de você Killian, e sinceramente espero que isso esteja doendo. 

Celine cuspiu na cara dele. Que a jogou no chão com violência. Passou por cima como se a rainha não fosse nada mais que uma criada. Ordenou que todos os lobos procurassem Bethânia pelas redondezas, mas que a trouxessem viva. 






A Herdeira Mestiça Where stories live. Discover now