SANGUE RUIM

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Os bosques estavam quietos ao norte do território das fadas, mal se viam os animais ou as ninfas, todos escondidos e amedrontados com a presença dos renegados. Por ali, não havia muita luz as árvores cobriam grande parte do céu. A noite tinha sido longa e por muitas vezes Bethânia teve que parar para recuperar o folego ou se apoiar nos troncos por estar faminta, com sede e exausta, chorou por muito tempo enquanto seguia sem rumo pelo bosque com medo do que poderia ter acontecido com sua mãe, que tanto lutou para escondê-la do mundo. Tudo era novo aos seus olhos jamais tinha saído do quarto e tudo que vira foram suas visões de uma Elys vívida e cheia de cores e sensações. Apesar de não imaginar que agora, tudo estava mais sombrio do que temia. Em um passo descuidado Bethânia segurou o grito ao cair de uma depressão instável, rolou por algum tempo, os galhos lhe ferindo a pele, o corpo se enchendo de lama e sujeira, quando finalmente parou de cair, seu tornozelo tinha inchado provavelmente tinha o ferido tentou toca-lo mas queimou sobre a pele. Ouviu vozes ao longe, eram eles, os renegados a caçavam. Não era hora de parar.
Se levantou abruptamente, grunhindo baixo e abafado e se forçando a ficar de pé mancando e com dor Bethânia tomou fôlego e correu se esquivando das árvores descendo ainda mais, se segurando em galhos, apoiando em pedras seu peito subia e descia com rapidez precisava escapar não podia deixar que o esforço de Celine fosse em vão. Ela continuou até chegar a um pequeno riacho ele dividia o lado das fadas, era estreito e a correnteza era feroz. Ela parou por um instante, talvez fosse a hora de sair da Corte das Fadas procurar pela feiticeira como a Mãe a tinha instruído. Mas o riacho se encheu de sangue, a água ficou vermelha e Bethânia deu um passo para trás, alguma coisa tinha acontecido. Seus olhos marejaram suas mãos tremeram e ali foi sua perdição.
Os soldados renegados a alcançaram e a puxaram pelos cabelos.

- Sua aberração imunda! - Gritou um Vampiro. O mesmo que a puxava. - Achou mesmo que escaparia de nós? Reze pra que Killian tenha piedade da sua alma.

Bethânia continuou se debatendo enquanto era arrastada de volta a Corte das Fadas. Por várias vezes deu chutes e mordeu a mão do renegado que só resultou em mais violência contra sua pele, em um momento o vampiro a esbofeteou com tanta força que a fada desmaiou.

[...]

Quando finalmente acordou, seus olhos doíam e seu tornozelo tinha sido enfaixado e curando com raízes do jardim das fadas. Uma sala grande onde Bethânia nunca tinha estado, não havia nada ali, sem janelas ou luz, a não ser por apenas um único lampião aceso, apenas uma porta estreita bem a sua frente. Suas mãos estavam amarras a uma pilastra, o metal queimava seus pulsos. Quando se forçou a olhar pela escuridão viu um caixão de vidro cheio de água, onde uma sereia ferida e descordada estava, em outro canto um pequeno baú com dois cadeados dourados, e a sua direita, uma elfa amarrada com correntes pesadas presa a parede, esta estava acordada e a encarava.

- Presumo que você seja da Realeza? - A voz da elfa era fria como gelo cortante.

Bethânia nada respondeu.

- É eu entendo, quando fui levada não entendi o motivo, mas agora vendo aquela ali. - Apontou para sereia. - E agora você. - Isso é calculado, não fomos escolhidas ao acaso.

- Pensei que os elfos tinham desaparecido. - A voz da fada saiu quase como um sussurro.

- É, todos pensaram. Mas na verdade, estávamos nos escondendo da verdade. Mas o caos chegou para nós, assim como a Herdeira disse.

Bethânia se ajeitou, os olhos curiosos.

- Viu a Herdeira Mestiça?

- Sim. Ela é real. Mas sinceramente, não acho que pode parar isso.

- Parar com o que?

A elfa cuspiu sangue e olhou a fada de cima a baixo, deu um sorriso triste e limpou a boca com as costas da mão.

A Herdeira Mestiça Where stories live. Discover now