NADA DO QUE ME ORGULHAR

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A alvorada se aproximava o céu se transmutando em tons de laranja, já era outro dia se despedindo desde a noite passada. Os chalés dos territórios mágicos estavam lotados de lobos em recuperação. Os feiticeiros eram um povo reservado, e silencioso, mas sabiam curar feridas graves como nenhum outro ser poderia. Ali Elys novamente parecia abstrata e diferente, até o clima era desigual, mas frio e mais nebuloso, as árvores predominavam em folhagens azuis e roxas escuras. Um pequeno lago ficava a margem do chalé de Lis, aparentemente para poder receber Arya de forma apropriada. Mariah estava à beira deste, sentada na grama baixa, os cabelos desgrenhados presos, seus olhos estavam pesados, seu rosto cansado e sentia uma culpa criar raízes em seu peito. A cena em que perdeu o controle se repetia inúmeras vezes, torturando sua mente. Pedro se aproximou calmamente, seus cabelos pareciam mais escuros, puxando para um cinza grafite, os olhos pesarosos. Ele se sentou ao lado dela, e suspirou fundo tocando sua mão.

- Você precisa comer alguma coisa. - Disse.

- Eu não estou com fome.

- Precisa ficar forte, depois disso... - Hesitou. - Não sabemos o que nos espera.

- Tudo isso é culpa minha Pedro. - Mariah tinha a voz embargada. - Eu nunca deveria ter ido a Ibiza, nunca deveria ter nascido nada disso estaria acontecendo.

- Nada pode impedir uma guerra Mariah, á anos que Elys está à beira do colapso, os acordos eram injustos. Já se perguntou quantos anos mais os mestiços sofreriam? Como aberrações, como doenças, eram assim que eles eram tratados antes de você chegar e mudar o rumo das coisas.

- Eu podia salvá-la Pedro. - Ela deixou que as lágrimas corressem seu rosto - Eu podia salvá-la, e fiquei lá vendo ela morrer. Eu tinha que salvá-la!

Mariah chorou e soluçou nos braços de Pedro, como nunca tinha se permitido. A dor consumia seu coração, o rosto da menininha lobo paralisava em sua mente, a angustia tinha tomado sua alma, em proporções que jamais tivera sentido. Quando seu pranto se abafou Pedro se afastou um pouco.

- Eu sei como se sente, sei como é culpar-se, eu vivo isso todos os dias da minha miserável vida.

Mariah ainda tinha o nó na garganta, mas piscou ao ouvi-lo.

- Antes de tudo, antes de Elys, eu era um garoto de Salem, meus pais vendedores de leite, tinham uma fazenda lá, a mais de 150 anos atrás. Eles eram boas pessoas, tinham um coração bom. E... - Os olhos de Pedro marejaram. - Eu tinha uma irmã, uma de verdade. E ela era... Exatamente como aquela garotinha, inocente. - Ele encarou o chão. - Uma noite ela saiu pela floresta sozinha, ela só queria pegar maças por que eu tinha dito àquela manhã que gostava de torta de maçãs. Ela só queria me fazer uma surpresa. Mas, um casal de fanáticos religiosos, a encontraram no meio da floresta tarde da noite e....

- Pensaram que fosse uma... Bruxa.

- Eles a queimaram ali mesmo, viva, e eu ouvi os gritos dela, eu corri pela maldita floresta e encontrei um corpo queimado e desfigurado, mas eu sabia que era ela. E eu os vi indo embora. Eu não pude fazer nada. Por que não cuidei dela.

- Você era um menino, não tinha como saber...

- Eu poderia ter pegado as maças mais cedo, ou ter ido com ela. Eu poderia ter ficado com ela mais tempo e...- Pedro soluçava. - Eu daria tudo para tê-la de volta.

- Como veio parar aqui Pedro?

- Foi depois da morte da Samantha, naquela mesma noite eu estava enterrando ela e, Lorenzo apareceu. Estava vestido como um homem comum, mas os olhos eram demoníacos. Ele me ofereceu vingança em troca de um novo soldado.

- Então você...

- Os matei, me alimentei deles e os queimei como porcos. Assim como fizeram com a Samy.

A Herdeira Mestiça Donde viven las historias. Descúbrelo ahora