A QUEDA DO PRIMOGÊNITO

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Não havia medo em seus olhos tão pouco apreensão, ele estava certo do iria fazer. Caminhando firmemente pelos corredores do castelo Pedro traçava uma rota objetiva para dizer ao pai sua decisão. O jovem príncipe notou o vazio pelos corredores sem sombras encapuzadas limpando aqui e ali como se não existissem. Era uma sensação peculiar, mas de certo modo, sentia-se ainda mais impulsionado.

O rei estava sentado em seu trono de pedra alto e resplandecente, mas sua feição era abalada por algo que apenas ele mesmo poderia decifrar.

-Senhor. - Pedro fez uma leve mesura.

-Meu filho... - Suspirou ele.

-Poderia ouvir o que tenho a dizer? - Perguntou Pedro.

-Acho que não pode piorar diga-me o que quer.

- Estou renunciando o trono. - Com isso Lorenzo se colocou de pé espantado.

- Que tipo de brincadeira é essa?

- Não servirei a um legado que pinga sangue inocente. A rebelião só aconteceu por que sua tirania provocou o caos.

- Killian provocou o caos, os selvagens mestiços provocaram o caos! - Esbravejou o rei.

- Por causa dos seus erros! - Retrucou.

- Vai renunciar? E depois? Virar as costas a sua família?

- Família? - Pedro estava nervoso, o sangue fervia, os olhos gélidos e implacáveis - Nunca fomos uma família, somos uma soma química que provoca o caos, nada mais que isso.

- Se fizer isso, será considerado traidor.

- Não pode me impedir, não pode e não vai. -Pedro já estava se afastando. Considere-me traidor, faça o que achar que deve fazer. - Pedro deu uma ultima olhada ao seu criador. - Mas saiba que tudo vai mudar agora, e você verá a intocável realeza se resumir em ruínas.

Pedro saiu do Castelo sem ser impedido. Lorenzo voltou ao trono e não deu ordem alguma, parecia perdido em seu próprio mundo. Lembrando-se do rosto de Mariah, sua filha, e em como agora ela o odiava. Apesar de seus quatrocentos anos como rei, jamais imaginou se sentir tão impotente perante uma simples menina. A única vez que se sentiu desarmado desta forma, foi quando conheceu Aurora a dezenove anos atrás.

- Ela tem os olhos da mãe. - A voz agora baixa e ferida de Íris não soava arrogante, o salão vazio, a luz dos candelabros sobre seu rosto, o vestido preto de luto, longo com gola alta, os cabelos espessos soltos pelos ombros.

- Íris agora não.

- Não vim para provocá-lo. - Descartou. - Dias sombrios se aproximam meu rei, nossa povo corre perigo, nosso reino está perto de um colapso. Sabemos como é sem os acordos.

Vislumbres de guerra, banhos de sangue, e fogo invadiram a mente de Lorenzo que respirou fundo.

- Não posso fazer uma retaliação isso seria declarar guerra aos lobos.

-Não é com os lobos que tem que se preocupar agora.

Lorenzo franziu o cenho.

- Killian escapou. Acreditamos que ele retornou ao reino das fadas. Precisa matá-lo. E desta vez, sem ressureições.

[...]

A noite já se despedia, trazendo uma neblina cinzenta a costa de Elys, as margens do lago Lyn, Lis D'Blair caminhava com os ombros encolhidos e as mãos com luvas enfiadas nos bolsos do sobretudo azul escuro. Seus cabelos cor de gelo estavam soltos e iam até o fim de suas costas. Não demorou muito para que houvesse uma agitação no lago, a feiticeira parou em frente às pequenas vibrações e momentos depois uma figura emergiu das águas.

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