SONETO DO ADEUS

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Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte banhando a grama, e sacudindo as árvores lentamente com a brisa que passava. Os túmulos construídos durante toda a noite estava sendo postos um ao lado do outro, fileiras e fileiras cobriam parte do campo da Aldeia Knowa, o silêncio tinha tomado a todos. O pranto abafado se espalhava, a dor reprimida nas lágrimas inocentes de filhos que perderam os pais e mães, o desespero dos pais ajoelhados sobre a terra, onde agora jazia seu filho. Os feiticeiros pareciam estátuas de mármore mais existia resiliência em seu olhar calmo e solene, folhas do outono caiam naquela manhã, e dançavam entre todos ali presentes. Os Knowas sendo ótimos trabalhadores construíram duas estátuas do tamanho real de lobos, uma de cada lado. Como a entrada para o cemitério recém ,construído, os feiticeiros em ato de boa fé adornaram as esculturas, com flores alaranjadas e amarronzadas. Quando tudo estava pronto, todo o povo Knowa parou em longos minutos de silêncio, emocionados e em luto profundo. Todas aquelas pessoas eram inocentes, e não mereciam tal destino, suas casas queimadas, vidas perdidas e tudo que tinham agora, eram um ao outro. A lealdade, como Ben certa vez disse, era o que os mantinha fortes. Victor surgiu na multidão, cabisbaixo, os cabelos sobre os olhos, o rosto vermelho e inchado, a blusa branca amassada e suja de sangue seco. Ele não tinha trocado de roupa, desde a retaliação.

Em silêncio, o jovem lobo passou por todos, e foi o primeiro a atravessar as esculturas, caminhando entre as lápides, praticamente se arrastava, a cada passo, mais lágrimas corriam seu rosto comprimido. Ele parou na décima sexta lápide, onde jazia sua irmã, leu seu nome e o que tinham posto em memória.

"Aqui jaz Suzana Fernandez, uma boa filha, e irmã. A inocente dos campos baixos, será sempre nossa pequena e Valente Knowa."

Fechou os olhos por um momento, e lembrou-se de pegá-la nos braços quando nasceu, lembrou-se dos cachinhos caramelo dançando enquanto ela corria aos seis anos, lembrou-se do seu sorriso e como Suzanna amava viver, amava a natureza de Elys, e como o amava. Sua risada invadiu os pensamentos de Victor que respirou fundo e levantou o violino que carregava nas mãos, ele se inclinou, e calmamente começou a tocar as primeiras notas. A melodia fúnebre trazia toda a dor que ele carregava no peito, seus olhos se encheram e tocou mais ainda, com mais intensidade, mantendo o ritmo estável, era como se todas as emoções do pesaroso momento fossem transformadas em melodias.

Gradativamente, todos os outros Knowa entraram para se despedir. O caminhar lento, o céu brandindo em tons de fogo, os knowas ajoelhados sobre a terra que cobria seus mortos, sua família, seus irmãos. Bernard estava mais afastado, ao lado de Lis e Arya. Lia estava inconsolável abraçando os próprios joelhos sentava sobre a grama um pouco distante, onde podia ver a extensão das perdas.

Mariah e Pedro estavam perto dos feiticeiros, a mestiça abraçada ao príncipe estava com os olhos inchados de tanto chorar, e jamais poderia imaginar tamanha dor que todos aquelas pessoas estavam sentindo.

Victor continuava a tocar, agora ajoelhado sobre o tumulo de Suzanne, sua mãe de pé chorava e soluçava abraçada a Melina. As notas foram se dissipando por mais uns minutos, até que Victor parou de tocar. Ficou em silêncio, sentado olhando, encarando o nome entalhado, sem querer acreditar na verdade da tragédia que lhe trazia tanta dor.

Sentia como se um pedaço de sua alma tinha sido arrancado, como se sua felicidade tivesse dado as costas para ele, o abandonado. Nada mais poderia curar, o vazio que se instalara no coração do jovem lobo.

[....]

Lis D'Blair presenciando o momento de luto, se abalou e lembrou-se do segredo que guardara desde a Rebelião. Cochichou para Arya e chamou Bernard para dentro da cabana. O alfa sem entender a seguiu. Quando estavam a sós, ela o olhou com os olhos cheios, estava mais emotiva e isso impressionou o homem.

A Herdeira Mestiça Where stories live. Discover now