"Não confie nas sombras"
O Sol emergiu na manhã seguinte radiante como se a noite anterior tivesse sido apenas um sonho distante e quando Mariah acordou foi exatamente isso que pensou. Seus lençóis estavam emaranhados, sua cama quebrada literalmente, e ela, usava apenas uma calcinha de renda. Flashes da noite anterior passavam em sua mente. As mãos firmes de Marcos tocando-lhe com tanto desejo, os beijos dolorosos, a emergência com que eles se entrelaçaram, a pressão do corpo contornado dele sobre o dela, os gemidos e sussurros de ambos, um turbilhão de sensações. Mariah levantou-se de pressa espantando os pensamentos. Após um banho demorado, Mariah viu que havia uma roupa sobre a cama quebrada, uma roupa de combate, notou, botas de caça, calça grossas e justas, e uma camiseta preta de algodão também justa. Ela vestiu e viu que realmente eram bem apertadas, já que a calça revelava seus quadris volumosos e a camiseta exibia seus seios os deixando mais fartos. Quando foi até a cozinha, viu Marcos apenas com as calças mais largas e as mesmas botas de caça, estava sem camisa, e Mariah notou outra vez as cicatrizes deixadas por Killian no vampiro.
-Bom dia. - Disse ele virando-se para ela. -Presentinho do Killian. - Disse ele irônico.
-O que? - Mariah parecia voltar à realidade.
-As cicatrizes que você estava encarando.
-Ah sim. - Falou ainda perdida.
-Coma logo preciso preparar você. - Marcos tomava uma garrafa cheia de sangue espesso.
-Me preparar para que? - Mariah encarou a mesa e desejou poder comer comida de verdade. Havia umas fatias de carne crua e uma bela taça de sangue fresco.
-Treinamento. - Disse ele.
-Thomas me treinava.
-A corte não prepara recém-criados para lutar mas sim se defender. Vou te ensinar a Lutar de verdade.
-Onde está Killian? - Mariah olhou para os lados.
-Dormindo. Passou a noite toda fora. - Marcos sorriu maliciosamente e Mariah se sentiu constrangida.
- Marcos. - Disse ela sem olhar para o homem.
-Já sei o que quer perguntar. O que aconteceu entre nós ontem.
-Exatamente. - Mariah tentou ser o mais fria possível.
Não aconteceu nada. Eu implantei aquilo, você adormeceu e digamos que eu brinquei com a sua mente. – Ele deu um sorriso vitorioso, como se tivesse descoberto mais do que imaginava.
- Você o que!? – Mariah ficou pálida, mais que o normal.
- A minha habilidade é manipulação da realidade, posso fazer você ver, o que quiser que eu veja.
Mariah sentiu um furacão crescer dentro de si. Ela o odiava e jamais iria para cama com seu próprio assassino, mas o sonho pareceu tão real que no fundo da sua alma, desejava que tivesse acontecido, ela sacudiu a cabeça, sua amargura com o vampiro era maior que seu desejo obscuro. Agora sua sede pelo sangue de Marcos era ainda maior.
-Ataque não é? Vou adorar te machucar. - Sorriu ela passando pelo desgraçado. Foram até o jardim e Marcos parou alguns metros longe de Mariah.
-Seu oponente sempre procurará seu ponto fraco, e geralmente é a distração.
Marcos se movimentava veloz fazendo Mariah ficar confusa. Então em uma fração de segundos ele chutou o nariz de Mariah.
-Esteja sempre atenta. - Disse ele de algum lugar. Então Mariah se movimentou na mesma fração em que Marcos veio por trás procurando derrubá-la. Mas o contrário aconteceu, Mariah chutou o peito de Marcos o lançando contra uma árvore.
-Agora está prestando atenção. - Disse ele entretido.- Vamos ver como lida com o ódio. - Sussurrou quase pra si mesmo.
-Pode vir. - Disse ele. Mariah avançou e pôs em prática suas habilidades, saltando para acertar Marcos e girá-lo para o outro lado lançando-o ao chão sob o próprio peso. Funcionou. Marcos riu e se afastou.
-Como é se sentir uma tola? - Marcos estava em guarda.
-Como disse? - Mariah franziu o cenho.
-Digo, o homem que você ama te abandonou. Como é mesmo o nome dele?
-Cale-se!!! - Mariah avançou para atacá-lo e ele desviou.
-Pedro não é? E o General? Um covarde que entregou a cabeça da própria amada.
-Ele..eles ...Isso não é da sua conta! - Atacou de novo, Marcos voou no ar e Mariah acertou o vácuo.
-Quer saber por que sua mãe te abandonou? Porque você é fraca! Jamais será a garota da profecia. Uma garota mimada e fraca!! -Marcos falava entre dentes.
-Cale-se!! - Agora Mariah estava cega de ódio e o atacava seguidamente, sem parar.
-Seu pai te rejeitou! Você não pertence a lugar algum!! -O entoava enquanto os dois lutavam
-Você acaba sozinha Mariah! - Com uma explosão de fúria Mariah brilhou como um anjo descido dos céus, porém seus olhos eram vãos negros, veias enegrecidas surgiam em suas têmporas mas seu corpo era pura luz. Mariah prendeu Marcos no chão, pronta para arrancar-lhe a cabeça.
-Já chega! - Ordenou Killian.
Mariah saiu de perto de Marcos que se recompunha rijo.
-Este é o caminho...o ódio e o amor numa perfeita junção é disso que ela é feita. - Disse Marcos a Killian que parecia pronto para sair, usando um, sobretudo cinza e vários anéis de ouro e prata nos dedos.
-Mariah terá sua vingança, mais ainda preciso de Marcos vivo, ou quase vivo. - Ele riu mas seu tom era terno. Mariah pensou com um homem tão jovem poderia ser tão experiente e superior.
- Aonde vai? - Perguntou Mariah agora mais branda.
-Não se pergunta aonde ele vai. - Repreendeu Marcos, mas Killian foi até Mariah ignorando o vampiro.
-Irei até Celine parece que ela tem novidades sobre o castelo.
-Que tipo de novidades? - Perguntou ansiosa.
- É o que vou descobrir. - Ele passou os dedos macios pelo contorno do rosto de Mariah.
-Tentem não se matar até a minha volta.
[...]
Pedro recebeu os mimos de algumas criadas que o vestiram do mais luxuoso terno totalmente negro, seus cabelos cor de gelo estava arrepiados e caia sobre os olhos prateados, ele se alimentou de um cervo ainda vivo assim que acordou correu até o estábulo e devorou o pobre animal. Agora encarava a lareira acesa, no seu quarto escuro onde a única fonte de luz era das chamas ardentes. Pegou sua corrente de ouro onde guardava a foto da pequena Samantha.
-Eu falhei com você mas, não farei o mesmo com Ela. - Prometeu ele.
-Meu filho. - Ele viu com o canto dos olhos, a figura esguia com um vestido preto e dourada, de origem indiana.
-Não sou seu filho. - Ele se virou guardando o cordão de volta na camisa.
- De coração é. - Dramatizou ela.
-Você não tem coração Íris. - O tom de Pedro era como lamina.
-É tem razão. - Ela riu horrorosamente.
-O que quer? - Disse ele entediado.
-Só vim lembrar-lhe do baile desta noite. Lucinda chamou toda a corte, e até nossos primos refugiados da Noruega.
-Eu irei. - Disse ele afinal.
-Nenhuma relutância ? Ora nem parece o insolente da noite passada. -Provocou ela
- Você deve estar odiando tudo isso não é Íris, Lucinda jamais foi sua escolha. Diga-me o que ela fez para você se rebaixar a esse ponto? - O veneno de Pedro acertou em cheio a rainha.
-Lucinda é minha única escolha, tudo isso é pelo reino, não se trata de antipatia, se trata de estratégia.
-Nos vemos no baile. Agora saia do meu quarto. - Disse ele rijo. E assim a rainha fez. Já fora do quarto Íris saiu furiosa, por onde passava as rosas que encantavam o lugar morriam secas.
"Enquanto isso no território dos feiticeiros..."
Lis D'blair havia convocado uma reunião com o restante de seus irmãos feiticeiros.
-Como sabem, A herdeira Mestiça está viva e enfim retornou ao seu lar. -Lis andava pela sala enquanto todos os outros a encaravam ansiosos.
-E isso significa, o fim da escravidão e extorsão dos Molfenter e de todos os vampiros da corte.
-Como uma única menina poderá nos libertar? -Um feiticeiro de olhos violeta e orelhas pontudas, questionou.
-Ela é mais que uma menina. E todos sabem do que ela é capaz. Porém no presente momento ela está em perigo. Nas mãos de um crápula.
-Um dos vampiros? - Perguntou alguém no fundo da sala.
-Killian. - Houve um coro de espanto.
-Sim meus queridos, ele está vivo. Foi visto por uma das irmãs Mader na gruta do silêncio acompanhado da princesa Lucinda.
-É difícil imaginar Killian aliado dos Molfenter considerando seu passado. - Disse uma mulher de meia idade que possuía escamas pelo corpo.
-Tão difícil quanto imaginar que um dia a profecia se cumpriria? - Lis parecia flutuar pela sala.
-Se ela está com Killian e se foi ele quem a libertou da execução. Quem nos garante que não estão juntos para um propósito egoísta? - Um rapaz de cor azulada e cabelos arrepiados encaravam Lis de nariz empinado.
-Killian é inteligente, porém está cego por vingança, ele só quer usar Mariah como instrumento. - Ponderou a mulher de escamas.
-Exato Safira. - Lis fez um leve cumprimento a mulher.
-Tenho mais uma informação a lhes passar. - Disse ela.
-Uma das irmãs Mader afirmou ter ouvido Lucinda dizer que estava prestes a se casar com o príncipe Pedro, ele é nosso aliado porém está sendo forçado. Haverá um baile, e creio eu que Killian não perderá a oportunidade de acabar com a festa.
-E o que faremos? - Perguntou Safira.
Lis olhou para o seu povo, e soube, estava na hora das coisas mudarem, de uma vez por todas.
-Chamem os Lobos.
[...]
O aposento de Celine cheirava a rosas e lavanda, sua cama era de madeira artesanal vinda da Etiópia, seus lençóis eram de seda rosa e branca. Killian e a rainha estavam nus entrelaçados sobre a cama macia.
-Preciso convencer Mariah a ir até o baile. - Disse Killian pensativo.
-Ora meu bem, não tente convencê-la. - Celine passou as unhas pelas costas de Killian que pareceu confuso.
-A faça querer ir por si própria. Toque aonde mais dói. - Celine pousou sua mão delicada sobre o coração de Killian.
-Eu já disse que Você é deliciosamente má. - Disse ele a puxando mais para perto.
-Sim. - Disse ela o beijando.
[...]
O céu estava tingido de vermelho e laranja, as arvores pareciam mais vivas naquele fim de tarde. Mariah permaneceu treinando por horas, com a orientação de Marcos e depois ao fim de tarde ficou se distraindo com Meia-Noite, era um belo animal, e ela se sentia atraída pela cor sombria do garanhão.
-Meia-Noite deve estar cansado de olhar para você não acha? - Marcos se aproximou dando maças verdes a ele.
-Sabe o que descobri? - Mariah pegou a outra maça que Marcos segurava.
-O que? - Ele sentou-se na grama abaixo da árvore onde Meia-Noite estava amarrado.
-Que Meia-Noite é mais inteligente que você. - Ela sorriu.
-Desde quando aprendeu a ser humorista? Sugiro que largue essa carreira falida e continue como Mestiça sanguinária. - Ele riu.
-Vai pro inferno Marcos.
-Olha quem voltou. - Disse ele olhando ao longe Killian caminhar até eles. Killian trazia uma carranca em seu rosto e seu sorriso forçado para Mariah só fez a mesma sentir se tensa.
-Precisamos conversar, e não será nada agradável.
Killian, Mariah e Marcos seguiram para dentro da cabana.
-O que Celine disse? - A menina permanecia de pé.
-Sente-se.
-Estou bem de pé. Vá direto ao assunto. - Mariah disse com a comum petulância. Killian suspirou e fez um leve aceno para que Marcos se retirasse, o mesmo levantou as mãos e saiu decepcionado.
-Tive noticias do Castelo. - Killian dizia cautelosamente.
-E que noticias são essas para deixá-lo tão tenso?
Mariah apertava as mãos entrelaçadas.
-O príncipe. Vai se casar. - Bastaram estas palavras para que Mariah afundasse na poltrona atônita, um furacão tomou-lhe por dentro. Não entendia o porquê, mas Pedro a salvara da morte, e existia um laço maior do que qualquer outra coisa que pudesse decifrar este sentimento.
-Até onde eu sei o rei é imortal, porque quereria um sucessor?
Disse tentando ser o mais indiferente possível.
-Há uma tradição, o reino precisa renovar seus líderes, manter a força, neste tempo seu sucessor comanda o reino. Sendo assim o novo rei da corte dos vampiros.
-Bom isso não envolve a mim, portanto não precisava ter me comunicado. - Mariah se levantou.
-Na realidade, envolve você e a tudo aquilo pelo que nós estamos buscando.
-Explique. - Disse ela indo até a janela, seu coração estava quebrado e sua mente fervilhava, uma mistura de tristeza e ódio.
-Lucinda é a Noiva. Acha mesmo que ela será piedosa com você? Lucinda quer tanto a sua cabeça quanto Íris, e ela não irá se cansar até encontrá-la e matá-la, e de nada terá valido todo nosso esforço. A profecia se acaba, e Elys sucumbirá.
Mariah ponderou, relutou contra si mesma, uma fúria queimava suas veias, ela sabia o que teria de fazer para continuar sua busca, juntou todas as suas forças. -Quando será?
-Você não está pensando em...
Ela se virou para ele.
-Hoje a noite haverá um baile de mascaras para comemorar o noivado, Toda a corte estará lá. É perigoso demais.
-Eu irei, preciso apenas de um vestido e uma mascara. - Os olhos de Killian brilharam vitoriosos.
-Tenho certeza que as fadas artesãs podem resolver isso..