DE AMIGO PARA NAMORADO - Desc...

By BobbyEliot

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Aviso: Esse livro contém nudez, linguagem imprópria e cenas explicitamente sexuais não recomendada para menor... More

Livro de Rostos
Introdução
Capítulo 1 - Negação
Capítulo 2 - Raiva
Capítulo 3 - Medo
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40 - Parte 1
Capítulo 40 - Parte 2
Pós Créditos
Entrevista
Talk Show
O (Tal do) Talk Show
Aviso

Capítulo 12

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By BobbyEliot

Havia passado poucos dias desde o fim de semana na praia e faltavam menos de três semanas para o dia dos namorados, eu sei o quanto Filipe ficaria arrasado se passasse a data "sozinho", ele já havia passado muitos daquela forma, porém agora era diferente, ele namorava e ao mesmo tempo não tinha um namorado.

Nossos sentimentos eram nítidos, nos gostávamos demais, ele se continha muito para não me apressar, mas eu sabia o quanto aquela situação o incomodava e não posso negar que também ficava desconfortável, não éramos solteiros, mas também não namorávamos.

Caio estava me ajudando muito, dizia que entendia a situação dos dois e  que achava legal nós não discutirmos por isso, um claro sinal de respeito e compreensão de ambas as partes.

Era quarta-feira e decidi que precisava contar logo para os meus pais, queria tirar aquela coberta de mim e correr livremente para os braços de Filipe, dizer que eu era seu e que ele era meu, segurar na mão dele, olhar em seus olhos e chamá-lo de namorado.

Então decidi! Precisava contar logo. Meu pai seria o primeiro, não contaria para os dois juntos porque minha mãe era histérica e um pouco escandalosa quando ficava nervosa, toda sua classe e finesse iam para o ralo, mesmo tendo medo da reação de Seu Carlos sabia que ele seria mais brando em suas emoções.

*

Comecei pensar como eu faria aquilo, ao certo não sabia, mas tentaria achar uma forma. Se eu gostava de Filipe verdadeiramente precisava fazer aquilo por nós, ele era a coisa mais importante pra mim e nosso namoro era minha prioridade.

Naquele dia meu pai estaria em casa, ele havia chego pela manhã enquanto eu saía pra escola, passei o dia todo pensando como faria, mas para minha infelicidade meu pai saiu pra resolver umas coisas no banco, então nem tivemos chance de conversar, mas a noite ele não me escapou.

Estávamos sentados à mesa, minha mãe ao lado do meu pai e eu de frente pra ele, sabia que não podia contar naquele momento, pois ele morreria engasgado com a espinha do peixe e minha mãe ficaria tão louca que nem iria notar o marido morrendo.

Eu precisava ser sutil e fazer as coisas por etapas, ninguém chega e põe uma casa num terreno, primeiro tem que limpar o local, fazer a fundação, preparar o concreto, por os tijolos e assim ir construindo o lugar que se deseja morar.

- Preciso contar uma coisa pra vocês – Falei limpando o canto da boca.

- Sou muito nova pra ser avó! – Minha mãe alertou colocando as mãos na mesa.

- Fala meu filho – Meu pai ria do jeito de sua esposa.

- Então, estou praticamente namorando, ficando sério com alguém já faz um tempo – Falei olhando para os detalhes da toalha de mesa.

- Até que enfim contou – Minha mãe falou juntando as sobrancelhas.

- Que bom filho, e você está feliz? – Meu pai falou pondo um pouco de suco em seu copo.

- Como nunca estive na minha vida pai, sério – Falei rápido e sorrindo.

- Eu conheço esse sorriso – Dona Catarina falou e logo fechei a cara.

- É, não posso discordar, você está apaixonado filho – Meu pai falou fazendo uma cara engraçada.

- Isso é ruim? – Perguntei assustado.

- Não – Minha mãe se apressou para responder.

- Depende – Meu pai disse olhando para mim, mas com os olhos em minha ri.

- Carlos! – Ela disse batendo em seu ombro.

Eu e meu pai ficamos rindo, depois voltamos a jantar tranquilamente, fui para o quarto e fiquei pensando uma forma de dar um susto em Filipe, queria contar para ele a novidade, mas queria que ele entendesse de forma errada.

No dia seguinte fiquei lhe esperando na saída do prédio, ao vê-lo sair de dentro do elevador abaixei a cabeça e forcei uma expressão triste no rosto, Filipe logo veio em minha direção segurando minhas mãos e tentando olhar meu rosto.

- O que foi? – Ele perguntou sorrindo, seus olhos brilhavam – Não está feliz? É quinta, dia de educação física Edu.

- Filipe, a gente precisa conversar, não quer sentar ali nas cadeiras não? – Perguntei me controlando para não rir.

- Não quero não Edu, já estou nervoso, me conta o que houve – Ele falou e notei seu sorriso se desfazendo.

- Ta – Respondi respirando fundo – Contei para meus pais! – Falei segurando seus ombros.

- O que Edu?! Você contou pra eles? Como eles reagiram? – Eu queria rir, meus olhos começaram a ficar molhados pois eu estava segurando o riso – Você tá – Ele respirou fundo e eu mordia os lábios para não rir – Edu não chora, eles não deixaram você ficar comigo não é?

- Filipe – Tentei falar e ele me interrompeu.

- Tudo bem – O moreno bateu os braços nas laterais do corpo – A gente foge, é, a gente foge – Ele pôs a mão na cabeça – Não temos pra onde ir, o que eu vou fazer sem você Edu!! – Ele disse aflito.

- Filipe, contei para eles que estava quase namorando alguém, não falei tudo, estou contando aos poucos – Falei segurando seus ombros e sorrindo.

- E me deixou fazer essa cena toda? – Ele me olhava tentando buscar um sinal de fraqueza em meus olhos – Sai daqui Eduardo – Começou a me empurrar e eu gargalhava – Sai, você vai sozinho hoje.

- Não não, Lipe, vem aqui vem – Eu falava enquanto ia atrás dele, fiquei assim algum tempo no pequeno saguão até ele ceder – Sério mesmo que você ficou com medo de me perder?

- Não – Ele fez um bico – Estava com medo de você me perder, o que tu vai fazer sem mim? – Fiz uma careta – Mas confesso, não quero a gente se separe.

- Sério mesmo? Então vamos para a aula, vamos ter que andar nos seus passos se não quisermos entrar no segundo tempo – Falei lhe bando um beijo e depois saí o puxando pela mão.

O primeiro passo eu já havia dado, meus pais sabiam que eu estava com alguém e que eu estava apaixonado, sabiam que a pessoa era importante para mim. Contei para Caio que ficou exultante com meu avanço, disse que eu estava sendo corajoso e enfrentando meus medos.

Depois da educação física fomos tomar uma ducha, Caio estava há algum tempo debaixo da água, nossas cabines era uma de frente para a outra, reparei que ele apoiava as mãos na parede, parecia muito pensativo.

- Tudo bem Caio? – Perguntei e ele deu um pulo.

- Eita cara, que susto – O loiro respondeu assustado – Estou meio sei lá.

- Ótima definição. Mas sério, o que está acontecendo? – Perguntei espalhando o sabonete pelo meu corpo.

- Digamos que estou gostando de alguém – Caio falou um pouco preocupado.

- É alguém que conheço? – Indaguei curioso.

- Não. Somos um pouco diferente, mas logo tudo vai se ajeitar – Respondeu sorrindo.

- Conta comigo, ok? – Falei com firmeza e ele balançou a cabeça positivamente e depois sorriu.

Tomei meu banho, me arrumei, passei hidratante, penteei o cabelo, vesti minha roupa, coloquei a mochila nas costas e agradeci internamente por Filipe não ter aparecido enquanto eu me lavava. Havia mais de um mês que não tínhamos relações sexuais e eu estava subindo pelas paredes, acho que se o visse no banheiro lhe jogaria debaixo da água e faria amor com ele ali mesmo.

- Oie – Filipe falou sorrindo quando saí do banheiro.

- Oi, porque não entrou? O banheiro é bem grande e estava quase o time inteiro aqui – Respondi sorrindo.

- Não fiz educação física hoje, estava conversando com Ritinha e também não saberia disfarçar meu olhar para suas coxas – Ele falou fazendo um sinal de aspas com os dedos – Porque você tomou banho? – Ele parecia chateado.

- Queria que eu fosse pra casa suado, de short e camiseta, cabelo bagunçado e cansado? – Perguntei e seus olhos brilhavam.

- Olha o que você disse – Ele falou empolgado – Suado, camiseta, short, cabelo bagunçado e ofegante, nossa eu ficaria louco ao seu lado – Disse e eu comecei a rir.

Não precisava de provas para ter certeza que Filipe gostava de mim, mas ficava me perguntando como alguém poderia se excitar com alguém saindo suado de uma quadra, vestindo roupas esportivas, cabelo todo molhado de suor e completamente ofegante?

Tentei imaginar Filipe saindo daquele mesmo jeito, sua pele dourada brilhando com o suor, seus cabelos úmidos e soltos, um short revelando suas pernas elegantes e definidas, respirando de forma acelerada, só de imaginar a cena senti minha cueca me incomodar. É, dava pra excitar sim.

Fomos para casa, um do lado do outro, nossos braços se colavam propositalmente, queríamos andar de mãos dadas, eu sabia que no começo seria difícil lidar com os olhares tortos, mas só de saber que eu poderia mostrar pra todos que eu estava com aquele garoto lindo eu ficava bem feliz.

De tarde fui para o treino, me esforcei ao máximo, pois já havia jogado bola na escola, eu estava bem cansado, exausto pra dizer a verdade, quando cheguei vi que meu pai estava em casa, minha mãe ainda não havia chego, logo aproveitei para falar com ele.

- Ta fazendo o que na minha cama garoto? – Seu Carlos perguntou ao sair do banheiro enrolado na toalha, ele tinha alguns pelos curtos no peito, esperava não herdar aquilo dele.

- Preciso conversar com você, estou precisando falar umas coisas – Disse esfregando as mãos.

- Filho, estou morto, teve uma briga lá no trabalho, como sempre esses jovens bêbados, podemos conversar depois? – Ele perguntou pondo as mãos na cintura.

- Claro pai – Levante e o abracei, Seu Carlos fez o mesmo e depois saí do quarto.

Olhei o relógio, provavelmente Filipe estaria saindo da escola de dança, fui para o meu quarto e fiquei deitado, não sabia muito bem o que pensar então resolvi ficar no quarto, liguei pra Caio e Ritinha, decidimos ligar a webcam e ficamos conversando por vídeo.

Eu ria tanto, era muito divertido estar com eles, cantamos músicas, Ritinha falou de suas paqueras e Caio nos atualizou sobre seu flerte com o rapaz da praia, eles haviam se encontrado e o loiro parecia ter gostado do encontro, mas segundo ele seu coração pertencia a uma pessoa que talvez um dia conhecêssemos.

Resolvi jogar videogame, fiquei jogando até tarde, depois mandei uma mensagem de boa noite para Filipe e fui dormir, ele me respondeu dizendo boa noite e em seguida me enviou uma foto dele na praia. Estava sorrindo, dava para ver seu peito, abdômen e aquela sunga linda e apertada, modelando seu corpo.

Involuntariamente minha mão desceu até minha cueca, eu olhava sua foto e mordia os lábios enquanto esfregava meu membro que logo dava sinal de vida, fechei os olhos e enfiei a mão dentro da bermuda, virei de barriga para baixo e comecei a roçar meu quadril contra o colchão, eu precisava muito do corpo dele!

Foi quando ouvi duas batidas na porta, cai sobre o colchão, puxei minha coberta e enfiei o celular debaixo do travesseiro, fiquei respirando lentamente, novamente bateram, eu estava imóvel, queria voltar ao que estava fazendo antes, a porta se abriu e minha mãe me chamou, ela pensou que eu estava dormindo e fechou a porta.

Sexta-feira tinha aula de química, física, matemática e o último tempo era aula de espanhol, estávamos no intervalo, resolvemos sentar perto da entrada do pátio, sempre ficava um número menor de alunos naquela área, Ritinha e Filipe sentaram no chão que era de piso azulado, eu e Caio ficamos no banco de madeira, estávamos de frente para eles.

- Vou ao banheiro – Falei descontraidamente – Volto logo, Lipe fica com meu telefone – Falei lhe entregando.

Passei pelo portão de grades, entrei no pátio onde ficavam as mesas e cadeiras, ali estavam concentrados a maioria dos alunos, entrei no curto corredor onde de frente tinha a porta do banheiro masculino, à direita havia a porta da área da piscina e a esquerda o sanitário feminino. Segui reto, usei o mictório, lavei as mãos e voltei.

Filipe tinha uma expressão confusa e surpresa no rosto, Caio segurava o riso e Ritinha me olhava com uma cara enigmática.

- Tudo bem gente? – Perguntei sentando ao lado de Caio.

- Será? – Ritinha falou mostrando meu celular.

- Ela pegou da minha mão Du – Filipe falou com uma voz manhosa e fazendo bico.

- Tudo bem Lipe, tem senha – Respondi tranquilamente.

- É, mas não impede que a gente veja a imagem de papel de parede – O rapaz de olhos claros falou e logo tremi.

- Edu eu não fiz nada, foram eles que estavam tentando ver – Filipe falou com euforia.

- Eu sei que você não é disso, mas o que tem demais? – Perguntei alternando o olhar entre Ritinha e Caio.

- Tem uma foto sua e de Filipe no carro, ele dormindo no seu ombro e você sorrindo – Ritinha falou me olhando.

Confesso que fiquei vermelho, ainda mais quando olhei para Filipe e lhe vi tentando disfarçar o sorriso, olhava pra baixo e suas bochechas estavam com um tom diferente.

- Isso mesmo – Respondi sorrindo – Pena que vocês não viram a foto anterior, ele deitado na cama, apenas de cueca branca com a cabeça no travesseiro, dormindo que nem um bebê – Falei me gabando da informação.

Caio abriu a boca e fez um gesto de aplauso com as mãos, Ritinha ergueu as mãos para o alto simulando uma rendição, Filipe me olhava surpreso e envergonhado, seus olhos estavam vidrados nos meus e podia sentir sua alegria. Foi quando ele ergueu o celular e apertou o botão lateral, logo a tela se iluminou, revelando sua foto de papel de parede, era uma foto minha que ele havia tirado durante a aula.

Sorri alegremente. Era uma imagem bonita, eu estava de perfil olhando para frente e pelo ângulo da foto ele parecia estar um pouco mais atrás, podendo registrar o momento que eu mantinha os cotovelos apoiados na carteira e as mãos sob o queixo.

- Porque não se casam logo, vocês são muito fofos! – Caio falou sorridente.

- Olha, vai devagar, eu tenho que mandar fazer meu vestido com muita antecedência – Ritinha falou nos arrancando risadas.

Na hora da saída eu estava andando tranquilamente, Filipe havia descido na frente, a galera do terceiro ano lhe arrancou da sala antes do fim do último tempo, provavelmente precisavam dele para algum ensaio, sorte era a dele, não teria que assistir à aula de espanhol.

Quando saí não o encontrei em lugar nenhum, mas o carro prata não me deixou dúvidas, era meu pai.

- Oi – Falei abrindo a porta e sentando ao lado dele.

- Oi filho – Meu pai falou me olhando.

- Oi Edu – Filipe falou me fazendo dar um pulo no lugar e meu pai caiu no riso em seguida – Então vamos?

- Como sabia que meu pai estava aqui? – Perguntei a ele.

- Saí e vi o carro dele, vim até aqui pra confirmar e estava certo, me despedi de Caio e fiquei fazendo companhia ao seu pai, pra total inveja das meninas, olha, Tio Carlos fez sucesso aqui – Filipe falou o fazendo rir.

- Que isso em pai, parabéns, mas se a mamãe souber teremos um enterro coletivo – Falei e ele concordou.

- Sou um homem comprometido, assim como meu filho, não é mesmo garotão? – Ele falou dando partida.

- Sim, claro pai – Falei balançando a cabeça e Filipe ria descaradamente.

Meu pai parou o carro na frente do prédio, o menino bronzeado agradeceu a carona e saiu do carro, não me esperou, entrou no prédio e subiu. Meu pai ficou me olhando como se me estudasse.

- Que foi? – Indaguei.

- Não sei, você que queria conversar, então decidi te buscar na escola – Ele respondeu ligando o pisca alerta, o carro estava sobre o meio-fio.

- Pai, não é assim, eu preciso de tempo pra falar, agora não da – Respondi – Provavelmente você já vai sair pra fazer outra coisa – Bufei involuntariamente.

- É verdade, mas estou preocupado, você não é de querer conversar coisas sérias assim, sempre foi um desafio fazer você abrir a boca – Ele pensou um pouco – É problema grave, algo que envolva justiça, coisa errada?

- Não pai! – Falei rápido e assustado – Não é nada disso não Seu Carlos, é coisa de amor – Falei num tom melancólico.

- Ah entendi, então quando você sentir em seu coração que quer conversar eu estarei aqui, ok? – Indagou.

- Obrigado pai – Falei isso e ele beijou minha testa fazendo eu me sentir um garoto de três anos.

Saí do carro e fui pra casa, tomei banho, almocei, vesti minha roupa esportiva e fui pra academia, depois do clube segui pro curso de inglês, eu estava bem confuso e nem sabia o porquê, apenas queria contar ao meu pai, não estava com medo de lhe dizer, estava com receio da reação dele, sentia que logo teria que fazer isso, meu pai não adiaria por muito tempo aquela conversa.

Acabei indo dormir cedo, o que era bem incomum, minha mãe me acordou por volta de onze horas da noite para perguntar se eu queria jantar, mesmo sendo tentadora a oferta de um prato com arroz, feijão, bife e batatas fritas eu recusei, estava querendo ficar no meu quarto.

Acordei quase ao meio dia, o sol inundava meu quarto, eu tinha esquecido de fechar as cortinas, estava apenas de cueca samba canção, comecei a andar pela casa, havia um bilhete do meu pai na mesa dizendo que ele havia saído e logo voltaria. Resolvi ir pra frente do espelho pensar.

Meu cabelo estava bagunçado e minha cara estava péssima, parecia que eu havia dormido por três dias seguidos, olhei meus olhos no espelho e comecei a ensaiar, não podia mais ficar me escondendo, aquilo estava acabando comigo, a confirmação estava no meu rosto totalmente péssimo.

- Pai, eu sou gay! – Falei para mim mesmo – Não posso dar essa tijolada nele, tenho que chegar devagar, se concentra Eduardo! – Disse esfregando o rosto.

Pensei um pouco, apoiei as mãos na pia de pedra e fiquei olhando para a cuba, lavei o rosto, tomei fôlego e voltei a tentar.

- Pai eu estou namorando o Filipe – Falei com firmeza – É, isso mesmo, e eu gosto muito dele, não, eu acho que a gente se ama, sim pai, isso mesmo, o Filipe – Dei um tapa na minha cara.

Não conseguiria falar com meu pai daquele jeito, com seriedade e firmeza, eu nem estava na frente dele e já tremia, imagine quando isso acontecesse.

- Pai, eu preciso te contar uma coisa, é meio complicado, já tem algum tempo que estou diferente, preciso que o senhor me entenda – Eu dizia as palavras olhando para o espelho – Eu sou gay, sei que o senhor não esperava por isso, mas eu sou, estou te contando isso porque estou namorando um menino, o senhor até conhece ele – Dei um sorriso ao pensar em Filipe – É o nosso vizinho do terceiro andar, isso mesmo o Filipe, estamos juntos.

Disse isso e sorri, depois meus olhos se lotaram de lágrimas, aquilo parecia tão difícil, eu não conseguiria, pensei em escrever uma carta, fazer um vídeo e depois fugir, não sabia qual seria a reação dele, um aperto tomava conta do meu peito.

Eu estava sendo fraco? Estava com medo de me assumir! Como poderia ser feliz com Filipe se não conseguia enfrentar meus pais? Um turbilhão de coisas passavam pela minha cabeça. E se me botassem na rua? E se proibissem meu namoro? E se me batessem? E se eles me renegassem? Como eu viveria sem Filipe?

Quando me dei conta lágrimas saiam dos meus olhos, que estavam ardendo, minha boca estava seca e minha respiração descompassada, as lágrimas pareciam sair de um chuveiro de tão quente que estavam.

- Pai, eu não sei se tenho coragem para isso, mas eu gosto de alguém, alguém diferente, eu sou diferente, não quero que o senhor me renegue – Eu dizia tudo de cabeça baixa – Por favor, não me bata, se quiser o senhor pode até fazer isso, mas não me deixa sem o Filipe, eu amo ele pai, que nem o senhor ama a mamãe, eu só queria que você soubesse isso.

Falei isso e ergui o rosto, o silêncio do banheiro era perturbador, chorei mais um pouco sobre meus braços, eu não tinha vergonha de quem eu era e de quem eu amava, mas tinha medo, como podia ser assim? Se eu namorasse uma menina me sentiria livre e normal, mas estando com um menino me sentia nos tempos antigos, com medo de alguém descobrir e me fuzilar.

Sai do banheiro e naquele momento tive certeza do quão forte era o meu coração. Meu pai estava parado entre a cama e o armário, não tinha nenhuma expressão no rosto, ele me estudava descaradamente, toda minha cor deve ter evaporado do meu corpo, senti uma leve tontura e minhas pernas travaram.

- V-vo-vo-voc – Eu não conseguia falar.

- Sim eu ouvi – Ele falou caminhando em minha direção – Quer conversar? – Indagou calmamente e eu balancei a cabeça na afirmativa.

Meu pai segurou em meus ombros e me levou até meu quarto, no curto caminho muitas lágrimas caíram dos meus olhos, ele fechou a porta, me sentou na cama, puxou a cadeira que ficava na frente da escrivaninha e sentou nela ficando parado diante de mim.

- Está bravo comigo? – Perguntei e ele balançou a cabeça na negativa – Vai me bater? – Perguntei ainda assustado.

- Eu já te bati alguma vez na vida? – Ele perguntou enquanto limpava meus olhos com seus dedos – Porque ainda tá chorando? Eu te amo meu filho.

Ah não, mais lágrimas!

- Porque eu achei que você ia – Eu soluçava – Ia me bater, brigar e você está me fazendo carinho, secando minhas lágrimas – Falei como uma criança desesperada.

- Ô filhão – Meu pai falou ficando em pé e me abraçando, minha cabeça foi parar em sua barriga e me senti tão protegido com aquilo – Como eu faria isso apenas por você gostar de um menino, é isso não é? – Ele perguntou sentando novamente, seus olhos estavam molhados.

- Acho que não – Ele se surpreendeu – Acho que eu o amo pai – Falei e consegui dar um sorriso.

- Tenho certeza disso – Sorrimos – Sei que tem muitos pais intolerantes, mas eu jamais faria isso com você – Ele esfregou o rosto – Confesso, fui pego de surpresa, nunca imaginei, você nunca deu qualquer sinal, mas pra mim continua tudo igual.

- Sério? – Indaguei.

- Sim, o Allan já sabe? – Meu pai perguntou enquanto me analisava.

- Sabe sim, aliás, ele da a maior força – Respondi espontaneamente.

- Bem a cara dele, você arrumou um sogro muito gente boa – Meu pai disse sorrindo.

- Não é bem sogro, eu e o Filipe não namoramos ainda – Falei um pouco sem graça.

- Não? – Meu pai perguntou surpreso – Mas vocês estão juntos há tanto tempo, isso vem desde que se conheceram? – Perguntou.

- Não pai, tem três meses, é que eu só queria começar a namorar depois que você e a mamãe soubessem – Falei de forma envergonhada.

- Entendi, obrigado por isso – Seu Carlos falou me encarando – Mas vocês estão juntos mesmo? Tipo juntos de beijo e tudo mais?

- Sim pai – Falei completamente envergonhado.

- Fico feliz que seja o Filipe, o conheço e sei que é uma ótima pessoa, ele também é um jovem bonito – Meu pai falou fazendo uma cara engraçada – Meu filho, aqui vocês terão liberdade pra serem que são e na casa do Allan também, mas quero que vocês tenham cuidado, não estou pedindo pra não demonstrarem o amor de vocês, mas fiquem espertos, tem muita gente ruim na rua, tudo bem?

- Tudo sim pai – Falei olhando em seus olhos – Obrigado.

- Pelo que garoto? – Ele indagou sorrindo – Jamais te botaria pra fora ou te bateria, te amo sendo você o que for e acho que cada um tem o direito de amar quem quiser e fazer o que quiser, estou feliz de te ver amando alguém – Meu pai completou fazendo meus olhos marejarem.

- Me sinto livre agora pai – Falei com o pensamento longe.

- Que bom filho, mas você tem que contar pra sua mãe – Ele falou e logo o olhei – Sim, vou estar com você, do seu lado! Ela só é histérica, mas vai entender – Sorrimos.

Naquele dia fomos almoçar fora, minha mãe estava na casa dos meus avós, eu e meu pai comemos churrasco, tomamos sorvete numa praça, demos uma volta pelo bairro e depois fomos para a casa dos meus avós.

É tão bom ser aceito, eu era muito sortudo, meu sogro era gente boa, meus pais e meus amigos. Sabia que existiam muitos jovens que apanhavam, eram humilhados e julgados por pessoas próximas apenas por gostarem de alguém do mesmo sexo. Eu era um menino de sorte.
__________

Espero que tenham gostado.
Obrigado pelas curtidas, a cada semana mais pessoas curtem e isso me deixa muito feliz.
Agradeço também aos comentadores e visualizadores.

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