Capítulo 14

4.9K 586 743
                                    

Eu estava muito aflito e nervoso, acho que nada nunca havia me deixado daquela forma, eu mal sentia fome e não conseguia pensar em nada, o treino daquele dia havia sido péssimo, minha cabeça vagueava e eu andava de um lado para o outro dentro do quarto.

Já era terça-feira, quase de madrugada e nada de Filipe, eu não tinha qualquer notícia dele, não sabia onde ele havia se enfiado, toda vez que eu fazia ligações para o celular dele ouvia que estava desligado ou fora da área de cobertura, preferia acreditar que estava desligado.

Nas redes sociais nenhum sinal de vida, ele nunca ficava online, eu havia montado uma verdadeira monitorização, usava o computador pra observar um aplicativo, meu celular pra ver se ele ficava online pra que eu lhe mandasse uma mensagem e até meu pai entrou no rolo, peguei seu celular pra entrar em outros aplicativos e ter notícias do Filipe.

Já havia feito dezenas de ligações, mandado mensagens, áudios, torpedos e nenhum sinal dele, Filipe nunca ficava mais de uma hora sem me responder, até quando estava na escola de dança mantinha contato comigo, pois ao sair das aulas ele me mandava mensagem.

*

Depois que nos despedimos na saída do prédio fui para a escola, chuva estava bem fraquinha e eu já sentia frio, caminhei pra escola e mal me molhei, Caio perguntou por Filipe e falei que ele não estava se sentindo muito bem.

Passei a manhã toda com o menino de olhos azuis e com Ritinha, Mariana disse que tinha assuntos importantes para tratar com a turma, mas falou que não falaria naquele dia, pois Filipe era o representante da turma e não seria legal fazer o que ela tinha pra fazer sem ele.

Treinei e depois segui pra academia, fu na aula do curso de inglês e por fim voltei para casa, tomei banho, jantei, fiz os exercícios que haviam passado no curso e fui até o apartamento de Filipe. Allan me recebeu com uma cara esquisita e disse que o filho não estava em casa.

Perguntei como havia sido no hospital, se tinham passado algum medicamento pra Filipe, se era algo grave, como ele estava, se precisava que eu fosse lhe fazer companhia, mas o homem disse que estava tudo bem, então perguntei por que ele não estava lá, não era do feitio de Allan ficar em casa e deixar o filho sozinho num hospital, recebi em reposta que Filipe não queria companhia.

Voltei para casa e fiquei preocupado, minha mãe percebeu e veio perguntar o que estava acontecendo, mas não a respondi, apenas fui para meu quarto. Eu nem sabia em que hospital ele estava, minhas ligações nem chegavam a seu aparelho, deveria ser por causa daquela chuva, nunca vi chover um dia inteiro sem parar, gotas finas que mais pareciam orvalho.

Minha vontade era vestir um casaco, uma calça e sair atrás dele, mas eu nem sabia por onde começar, haviam quatro hospitais públicos próximos, se fosse contar os particulares e as clínicas o número aumentava bastante. Com uma enorme sensação de impotência caí sobre a cama.

Eu sabia que não era tanto tempo assim e estava me desesperando rápido demais, mas estranhamente aquilo não me parecia normal, Filipe era manhoso, ele iria esperar eu chegar da escola para levá-lo e mais surpreendente era ele ter faltado a aula, isso quase nunca acontecia.

Deitei na cama e fiquei pensando nele, meu coração estava apertado. Filipe não gostava muito de chuva, poderia estar frio e não ter levado casaco, poderia ter levado pouco dinheiro e estar com fome, poderia não ter recebido atendimento e estar sentindo dor sem que ninguém estivesse ao seu lado.

Tudo o que eu mais queria era estar com ele, agora que meus pais sabiam de tudo eu me sentia livre para que ficássemos juntos, queria ouvir o que ele achava da reação de minha mãe, mas aquilo não era possível, então resolvi dormir para o tempo passar mais rápido.

DE AMIGO PARA NAMORADO - DescobertasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora