Marta Chita
Poucas semanas depois do regresso da minha filha a casa eu descobri sobre o tumor no cérebro, fiquei em choque com a notícia, mas fingi para meu marido e minha filha, não queria que eles soubesse que eu já tinha descoberto tudo. Eu ainda não tinha certeza de que Marisa sabia sobre isso, foi mais um motivo que me levou a permanecer calada.
Quis ficar chateada por Ricardo não ter me falado sobre meu estado de saúde, mas ele com certeza não tinha culpa de nada, eu no lugar dele teria feito o mesmo. A final, até fiz coisas piores.
Comecei a perder peso drasticamente, e isso me assustava, minha família não tinha nem condições para comprar os medicamentos que poderiam desacelerar o avanço do tumor, eles só conseguiam comprar calmantes para as dores.
Me entristecia ver que minha filha gastava o dinheiro que poderia parar seus estudos com medicamentos que não salvariam a minha vida.
Meus erros do passado começavam a me perceguir, e eu não sabia mais como fugir deles. Maldita hora que eu aceitei fazer parte daquilo.
29 anos atrás
-- Marta minha irmã, você nem imagina. - Cacilda entrou em casa toda animada.
Eu estava cuidando da minha horta, nossos pais estavam mortos, nossa tia estava doente e eu podia mais trabalhar, precisávamos ter muita criatividade para ter o que comer.
-- O que foi mana? - minha irmã sempre foi muito rebelde e descontrolada, ela gostava de correr riscos e nunca se preocupava com as consequências. -- pela animação já posso imaginar que não é coisa boa.
-- É uma coisa muito boa e pode nos tirar desse sufoco. - ela exibia um enorme sorriso no rosto.
-- Então me fale! - embora estivesse preocupada, acabei ficando curiosa.
-- Eu conheci um homem que conhece outro homem que pode mudar a nossa vida.
Só podia!
-- Não estou interessada!
-- Não vai me deixar explicar Marta?
-- Não! Você sempre nos mete em confusão. - comecei a regar as minhas plantações.
-- Pelo menos essa confusão pode nos garantir uma boa vida... Deixe essas coisas e vai se arrumar para conhecermos eles.
-- Eu não vou Cacilda. - me recusei.
-- Vai sim, estou mandando! - começamos uma discussão no meio do quintal da casa da minha tia que apareceu de seguida muito furiosa por causa dos nossos gritos.
-- Eu não sei o que se passa aqui e não quero saber, mas parem com essa gritaria já! Marta, Cacilda é sua irmã mais velha, não discuta com ela. - dito isto Cacilda sorriu satisfeita e então ordenou pela última vez que eu fosse me arrumar para sair com ela.
...
-- Quem são esses homens? - sussurrava no ouvido dela enquanto olhava os homens se aproximando.
Estávamos no parque da pequena cidade de Xai-xai sentadas em um banco de praça esperando os homens chegarem. Um deles era claramente mais velho que o outro e parecia um homem de muitas posses, enquanto o outro era mais jovem e sem posses.
-- O mais velho eu não conheço o nome, mas o outro se chama George, eu conheci ele ontem e ele me fez uma proposta maravilhosa que mudaria a nossa vida.
-- O que eles fazem? - eu estava preocupada e os homens estavam cada vez mais próximos.
-- Logo saberá minha irmã, seja paciente.
-- Tenho medo! - essa foi a última coisa que consegui dizer antes que eles estivessem ao pé de nós.
-- Boa tarde - o tal George disse sorrindo e apertou a mão da minha irmã como se já tivessem muita intimidade. -- Esse é o representante do meu chefe, Pedro! E me nome é George, creio que sua irmã já lhe tenha dito. - a última frase com certeza foi dirigida a mim.
Cacilda e George conversaram por alguns minutos enquanto o Pedro só observava. Notei que um carro preto estacionou próximo ao parque e baixou o vidro da janela de trás do carro e vi outro homem, um homem muito misterioso e estranhamente parecido com o Pedro.
George olhou para trás e sorriu dizendo: -- aquele é o chefe.
Cacilda olhou para o homem no carro e sorriu animada.
-- O negócio que nós vamos fazer é muito e muito simples, vocês só precisam concordar e em pouco tempo teremos a vida resolvida.
-- A quanto tempo você faz tal coisa?
-- Poucos meses - pela resposta pude perceber que ele não quis entrar em detalhes. -- vês aquele homem ali? - falou indicando o homem no carro. -- ele pode nos dar tudo o que quisermos, desde que a gente ajude ele a conseguir mais.
Vi o Pedro concordar com as declarações de George.
O homem no carro estava com o vidro do carro aberto olhando para mim, e o Pedro estava fazendo o mesmo.
-- O que isso significa?
-- Não aborreça os homens com essas perguntas Marta. - me repreendeu minha irmã.
-- Ela tem razão Cacilda! Mas por enquanto não precisa fazer nenhuma pergunta, só diga se concorda.
-- Concordamos - Cacilda respondeu imediatamente antes que eu pudesse reclamar -- faremos o que for preciso. - dito isto o Pedro saiu andando até o carro e parou próximo a janela do carro onde o outro homem estava.
-- Vocês concordaram não tem mais volta, espero que estejam preparadas para o que vem a seguir. - George falou como em um sussurro.
Cacilda estava animada enquanto eu estava apavorada com aquilo, não sabia do que se tratavam tais trabalhos mas eu tinha medo que fosse algo perigoso.
Saímos para casa depois que aqueles homens foram embora, Pedro deu um pequeno celular para minha irmã e disse que em breve eles ligariam para dar as ordens.
-- Viste como George olhava para mim? - Cacilda falava entre os dentes e abanava as mãos um tanto nervosa.
-- Não vi nada disso! - respondi sem interesse.
-- Invejosa, ele olhou muito para mim, acho que ele gostou de mim.
-- Mana, não me diga que está apaixonada.
-- Claro que não, só estou dizendo o que eu vi.
-- Tá bom, corte o tomate mais rápido antes que a cebola se queime. - estávamos fazendo o jantar, Cacilda não se calava.
-- Eu acho que o Pedro e aquele homem do carro são gêmeos idênticos.
-- Porque acha isso? Mas até que podes estar certa, eles são tão parecidos.
-- É por isso, aquela semelhança é estranha.
-- Tá, termine logo com isso.
-- E acho que os dois gostaram de você!...
Continua...