Capítulo 22

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Ricardo Vilarela

Porque uma coisa dessas foi acontecer? No dia em que descubro que minha esposa tem um tumor cerebral recebo uma ligação dizendo que minha filha está internada em estado grave num hospital, num hospital muito distante de mim.

O que vou fazer agora?

Marta não pode sair daqui, ainda tem uma pilha de exames por fazer e por outro lado, eu preciso ir para a capital, não posso deixar minha filha sozinha.

Minhas esposa está aqui, diante de mim chorando, querendo saber como Marisa está, o que devo fazer? O que devo dizer?

Eu não poderia deixar Marta sozinha naquele hospital, quem cuidaria dela? A gente nem tem familiares, minha cabeça estava as voltas.

As coisas são sempre tão difíceis para mim. As únicas pessoas que eu amo nessa vida estão em perigo, minha filha, minha esposa.

Meu Deus o que devo fazer.

-- Ricardo, por favor diz alguma coisa - ela suplicava.

-- Minha querida - pensei em dizer alguma coisa, mas não consegui.

-- Fale, me fale, aconteceu alguma coisa com nossa filha? Era isso que Miguel ia me falar? Ele ligou para mim, mas eu desmaiei antes que ele me pudesse falar. - Marta estava aos prantos.

-- Eu vou falar com o médico, e ver o que posso fazer. - saí do quarto deixando Marta sozinha, eu não queria dizer aquilo para ela e talvez comprometer mais a saúde dela.

Pedi que uma enfermeira fosse vê-la e talvez acalma-la. Procurei pelo médico que estava tratando dela.

-- Estamos esperando os resultados dos exames, e ainda temos outros exames por fazer. - disse o doutor -- mas entendo sua situação e sendo assim, tentaremos administrar alguns fármacos durante o período em que estiver na capital.

-- Muito obrigado. - em parte estava aliviado, poderia estar com minha filha e manter minha esposa viva.

-- Quando ela se sentir melhor poderá viajar com ela, e talvez na capital possam fazer exames mais aprofundados... - o médico me deu bases de tudo o que era preciso ser feito e tomei o cuidado de reter todas as informações necessárias.

...

Esperava sentado no quarto onde Marta dormia tranquilamente. Se ela acordasse se sentindo bem poderíamos ir até Maputo.

-- Ricardo - dizia ela com a voz muito baixa.

Fui apressado até ela para saber como estava se sentindo.

-- Como está querida?

-- Um pouco cansada Ricardo.

-- Descanse, só se levante quando estiver bem.

Marta concordou e voltou a dormir.
Continuei ali, angustiado e muito preocupado com minha filha.

Quando Marta finalmente acordou e garantiu que se sentia melhor levei ela para casa, era tarde de mais para viajar, teríamos de passar a noite em casa e no dia seguinte iríamos para Maputo.

-- Você não vai me falar o que aconteceu? - Marta estava triste e preocupada, mas para o meu alívio, ela estava mais tranquila.

Eu não queria contar-lhe nada, mas não poderia esconder aquilo por muito tempo.

Pedi que ela se sentasse do meu lado no sofá.

-- Nossa filha foi esfaqueada na noite de ontem.

Marta pretendia gritar, mas eu a agarrei e levei para perto de mim.

-- Faz tanto tempo assim, e a gente não foi para lá. - ela chorava -- é minha culpa.

-- Como isso poderia ser culpa tua? Você se sentiu mal e desmaiou, precisou passar a noite no hospital.

-- Como ela está?

-- Está em estado grave, perdeu muito sangue e precisou de uma transfusão sanguínea... - a medida em que eu ia falando um nó ia se formando em minha garganta. -- Eu só sube disso essa manhã no hospital, Miguel ligou várias vezes para avisar, mas eu estava tão preocupado com você que não me dei tempo de atender o celular.

-- Ricardo - Marta chorava muito e ao mesmo tempo tentava se controlar.

Eu queria chorar também, mas não podia me fazer fraco diante dela, ela estava precisando de mim, que eu permanecesse forte para poder cuidar delas.

-- Fique calma, Miguel prometeu que Marisa seria bem cuidada, ele está lá por ela.

-- É culpa minha marido.

-- Não é não... Ninguém é culpado de nada.

-- Quem a feriu? - naquele momento eu percebi que estava tão preocupado com a saúde das duas que nem procurei saber que machucou minha filha.

-- Eu não tive tempo de perguntar, estava tão preocupado que deixei escapar esse detalhe.

-- A gente precisa saber... Amanhã logo cedo nós viajamos certo? - disse ela secando o rosto.

-- Certo querida.

Passamos a noite em claro, nem eu e nem ela conseguimos dormir aquela noite. Esperávamos por notícias, ligamos várias vezes para Miguel e ele dizia sempre a mesma coisa, e aquelas respostas repetidas me deixavam mais preocupado.

...

Finalmente o dia amanheceu, nos arrumamos e saímos para pegar o primeiro autocarro que fosse em direção a Maputo. Não poderia perder mais tempo, a preocupação era enorme.

-- Eu não imaginava que nossa primeira viagem a capital seria nessas condições - disse Marta assim que nos acomodamos no autocarro.

-- Eu também não querida - concordei.

...

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MARISA - A CamareiraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora