Marisa Vilarela
Conversamos por longos minutos sobre várias coisas, rimos e nos divertimos contando sobre nossas últimas experiências. Ficamos um tempo sem nos comunicarmos pelo celular, mas decidimos não tocar no assunto, eu não tinha um motivo para explicar isso e resolvi acreditar que ele também não.
-- Você continua linda. - disse ele.
Você também - pensei por mim.
-- Obrigada - sorri. -- você também não esta mal. - ele gargalhou, uma gargalhada gostosa.
-- Eu pedi para Miguel marcar esse encontro, queria te fazer uma surpresa.
-- Eu sei... Miguel estava super esquisito, só podia estar aprontando.
-- Pedi que ficasse frio. - pensou um pouco -- achei que não fosse querer me ver.
-- Não ficou. - sorri -- porque eu não iria querer te ver?
-- Tadinho, não pode ser um agente duplo. - ele me olhou sério -- não sei, tudo perdeu a graça quando me fez perceber que não não me queria.
-- Da próxima vez escolha outro cúmplice. - com isso deixei o outro assunto morrer.
-- Talvez escolha a Roberta - um bolor se formou em minha garganta quando Bruno a mencionou -- a propósito, como está ela?
-- Estranha, não é mais como você a conhece, em outra altura eu te conto sobre isso.
-- Tudo bem! Espero que isso não seja ruim... - fez uma pausa -- falo da mudança.
Dei um sorriso e não tocamos no assunto.
Conversamos por mais alguns minutos até Miguel voltar a sala e o encaramos com ânimo.-- E como está o clima lá fora? - indagou Bruno. -- vejo que não está molhado.
-- Quer dizer que percebeu o que tinha dito, achei que tivesse tocado a lua quando viu o rosto da Marisa.
Eu não podia ver meu rosto mas tinha certeza de que ficou todo vermelho após ouvir essas palavras. Bruno me encarou e eu fiquei mais ruborizada ainda.
-- Que horas vai para casa? - perguntou Bruno ignorando o comentário de Miguel -- eu poderia levá-la.
-- Ainda tem o que falar comigo Miguel? - olhei para Miguel esperando uma resposta antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ao Bruno.
-- Não! - falou sem rodeio e então vi um sorriso se formar no rosto de Bruno.
-- Podemos ir agora!
Nos levantamos e nos despedimos de Miguel e da tia Cacilda que surgiu na sala poucos minutos antes da nossa partida.
No caminho para casa conversamos sobre trivialidades, Bruno contou que estava de volta a cidade de Maputo e nada por enquanto o faria ir embora outra vez.
Chegamos a casa e ele desceu do carro, deu a volta e abriu a porta para mim, me estendeu a mão e ajudou a descer do carro, me olhou nos olhos enquanto segurava e acariciava minha mão.
-- Adorei ver você, mas do que eu pensei que pudesse gostar.
Eu também!
-- É, foi muito giro. - dei um largo sorriso e agradeci a Deus mentalmente por nos permitir manter nossos pensamentos só nossos.
Ele beijou minha mão e voltou seu olhar para mim, me olhando fixamente nos olhos e depois aproximou seu rosto do meu beijando intensamente no canto da minha boca, meu corpo estremeceu e senti vergonha só de imaginar que ele poderia ter percebido o meu estado.
Bruno foi embora e eu entrei em casa, estava nas nuvens, distraída e com os pensamentos muito distantes.
Uma coisa diferente estava acontecendo, eu estava feliz e passei o resto do dia sorrindo sem motivo.Fiz todos os trabalhos da casa cantando.
-- Oi - Roberta surgiu do nada me assustando.
-- Oi... Oi, me assustou. - olhei para ela que parecia confusa e curiosa -- precisa de alguma coisa?
-- Não. - ela se aproximou e sentiu a volta da mesa na cozinha, onde eu fazia o jantar. -- ouvi você cantando... - ela parecia querer dizer alguma coisa o que me fez esperar para ouvir mas então ela decidiu se calar.
-- Sei como isso é raro! - falei baixinho, para mim mesma mas ela conseguiu escutar. -- acabei de fazer uma sopa de frango se você quiser.
-- Não, obrigada!
-- Tudo bem!
-- O que aconteceu? Parece muito animada.
-- Eu não sei direito. - falei sincera.
-- Sei - respondeu com desdém -- então continue. - se levantou abruptamente e saiu da cozinha batendo o pé com força.
-- Roberta! - ela me ignorou e sumiu da minha vista. -- tá!
Continuei com meus afazeres e depois de findado o meu trabalho tomei meu banho e coloquei o jantar na mesa, a mesma hora de sempre nos juntamos todos para o jantar e se fez silêncio o tempo inteiro até o final, num dia em que estava muito feliz, ou outros estavam muito tensos.
...
O resto da semana passou tranquilamente e decidi voltar a casa da minha tia para visitar a Rafaela e sua filha Marcela.
Miguel já está morando em outro lugar mas por causa da minha ida a casa da tia Cacilda ele resolveu ir lá também.Segurava minha linda sobrinha no colo e brincava divertidamente com ela, era uma criança encantadora, tão fofa e bochechuda, não me cansei de beijar seu rosto.
Rafaela estava tão mudada, era uma ótima mãe e tudo o que era quando a conheci basicamente não existe mais.
Passamos a tarde inteira em família, tio George não estava em casa e se estivesse com certeza estaria trancado no quarto.
Eu queria ter ido com Roberta, mas ela estava tão diferente que eu duvidei se poderia ser uma boa ideia.Estávamos juntos a mesa durante o almoço conversando e nos divertindo.
-- Eu tenho uma notícia muito boa para partilhar. - disse Miguel animado.
-- Uau, fala Miguel - disse Rafaela e olhamos todas para ele.
-- Eu tenho uma namorada - ele disse com alegria e nos fez gargalhar. -- um dia trarei ela para que possam conhecer.
-- Não demore muito com isso - Disse Cacilda com um sorriso no rosto.
-- Não demore mesmo! Qual é o nome dela? - antes que eu pudesse ouvir a resposta a minha questão ouvimos batidas na porta.
Miguel se levantou para abrir e todas nós saímos até a sala de estar quando ouvimos vozes estridentes.
-- Onde está a sua mãe - eram duas mulheres idênticas a porta, uma igualzinha a outra.
Gêmeos idênticos sempre me provocaram arrepios.
-- Estou aqui! - disse tia Cacilda surgindo atrás de mim.
-- Oi, irmã...