Capítulo 3

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Marisa Vilarela

Dormi por duas horas, e então me levantei para o almoço, é claro que já estava atrasada, Rafaela acabava de me informar.

Já haviam removido a mesa, então teria de comer na cozinha, fui lá e me sentei para o almoço, a mesa estava recheada, coisa que eu só via na televisão, ainda não estava acreditando que era real.

Me sentei na varanda junto de Rafaela e seu irmão Miguel, ele é o mais velho, rapaz alto, negro de olhos castanhos escuros, de 23 anos de idade. E Rafaela é uma menina de altura mediana, linda e com o corpo cheio de curvas maravillosas, Rafaela tem 19 anos de idade.

O silêncio pairava no ar, ninguém sabia o que dizer e estava ficando chato. Rafaela e Miguel mexiam no celular e pareciam divertidos, resolvi quebrar o silêncio.

-- E então onde fica a biblioteca? Eu gostaria de me preparar para os exames.

Os irmãos se entre-olharam e Miguel respondeu cuidadosamente e se disponibilizou para me levar.

E mais uma vez o silêncio reinou naquele lugar.

[•••]

Estava sentada na varanda do meu quarto olhando o lindo jardim daquela casa, já era noite e esperava pela hora do jantar para ver se finalmente conheceria o marido da minha tia Cacilda.

Ouvi o barulho da maçaneta e percebi que alguém pretendia entrar no meu quarto, olhei atentamente para ver quem era, e era Suzana, a secretária.

Ela segurava uma bandeja na mão, era o meu jantar, colocou-a por cima do criado mudo e se dirigiu a mim.

-- A Sr. Cacilda, sua tia, me pediu que fosses servida aqui, no seu quarto. - sua expressão facial deixava a desejar.

-- Porque? - aquilo não fazia sentido, será que as pessoas jantam em seus quartos nessa casa?

-- São as ordens. - disse!

-- E os outros? Onde estão? - sentia meu pescoço aquecer, estava nervosa e com medo.

-- Não posso dizer mais nada, bom apetite menina - Suzy parecia estar com pena.

Me sentei na cama sem saber o que dizer ou fazer, peguei na bandeja e coloquei sobre minhas pernas, comi tudo sozinha no meu quarto.

Em algum momento algumas lágrimas rolaram no meu rosto, aquilo não fazia sentido, porquê tinha que acontecer assim?

O dia estava terminando e não tive notícias dos meus pais, infelizmente estava sem celular, trazia somente os números decorados na minha mente e anotados em alguns documentos, estava sentindo falta, do seu carinho, do seu amor e de seus sorrisos.

Peguei na bandeja e pretendia levá-la até a cozinha, aproveitar para pedir um celular para ligar para meus pais.

Quando ia para sala ouvi vozes pelo longo corredor, eu sabia que era feio ouvir a conversa dos outros, mas parecia a minha tia falando e eu não pude ignorar minha curiosidade.

Me aproximei lentamente da sala de jantar, de onde vinham as vozes e quanto mais me aproximava melhor era a minha percepção do assunto tratado e descobri que o assunto era eu: 

-- Você ouviu bem Suzana? Não quero aquela menina passeando pela minha casa como se fosse minha filha, não quero ela comendo na mesma mesa que nós, não quero ela sentada nos meus sofás, está entendendo? ESTÁ ENTENDENDO SUZANA? - e ela gritava. -- Sirva-a na cozinha ou leve a comida no quarto.

-- Sim senhora. - dito isto, Suzana atravessou a porta dando de cara comigo.

Eu estava paralisada no meio daquele corredor sem saber o que dizer ou fazer, meus olhos sem enchiam d'Água e meu corpo tremia, meu cérebro tentava assimilar toda informação captada pelos meus ouvidos, mas estava demasiado difícil.

Suzy estava igualmente chocada, parada a minha frente, me olhava com um misto de susto e pena, ela também não sabia se daria um passo a frente ou dois para trás.

-- Será como ela desejar, não se preocupe. - disse secando minhas lágrimas e seguindo em direção ao meu quarto.

Entrei nele e tranquei a porta, me joguei na cama e chorei, chorei o máximo que puder, nunca na vida tinha sentido aquela dor, eu não tinha ainda noção do que teria de enfrentar, mas com aquilo, já dava para imaginar que coisa boa não seria.

Não esperava que aquela senhora fosse dotada de filantropia, mas poderia ter um pouco de altruismo.

Ela é minha tia, o que eu teria feito de errado? O que meus pais fizeram de errado? Porque?

Eram tantas perguntas sem respostas, resolvi esquecer um pouco o que havia acontecido, e logo ouvi batidas na porta.

-- Entre - embora minha voz tenha falhado, a pessoa atrás da porta conseguiu me ouvir e entrou no quarto. Era Rafaela.

-- Vim ver se está tudo bem - falou tentando exibir um sorriso no rosto.

-- Está sim - respondi sem interesse.

-- Estava chorando? O quê houve? - se aproximou de mim com intenção de me abraçar, mas eu a afastei.

-- Saudades dos meus pais - disse uma meia verdade, eu não sabia até onde ela poderia chegar por mim. -- poderia me emprestar um celular para que eu fale com eles?

-- Você não tem celular? - sua expressão demonstrava pavor e desprezo.

-- Não tenho - meus pais não conseguiram juntar o suficiente para comprar um celular para mim, aliás, o dinheiro que achavam que daria para comprar um, eles me deram para que se por acaso eu precisasse eu pudesse usá-lo para outros fins.

-- Tudo bem, use o meu agora - eu estava envergonhada, não sabia usar o celular que ela trazia na mão.

-- Poderia introduzir os números para mim? É que... É... Eu não sei usar esse... - me interrompeu.

-- Podes ditar o número e eu vou ligar-lhes.

Fiz o que ela sugeriu e depois de alguns segundos me passou o celular, o que ouvi do outro lado da linha me encheu o coração, mais lágrimas rolaram no meu rosto quando ouvi a voz da minha querida mãe.

-- alô, boa noite. - Marta


MARISA - A CamareiraTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon