Capítulo 6

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Marisa Vilarela

Passava a primeira semana desde que viajei para cá, uma semana longe dos meus pais e vivendo uma realidade totalmente diferente. É incrível, aqui tem muita comida, carros, conforto e tantas outras coisas, mas não tem amor, harmonia.

Nesse tempo que estou aqui, as únicas pessoas com quem falei são a Suzy, o Miguel e a Rafaela. Embora fale com mais frequência com o meu primo Miguel.

A benevolência de Miguel é saliente, ele tem sido como um irmão, um anjo da guarda. Enquanto pensava nele, ouvi a porta bater.

-- Entre - eu estava sentada na cama, mexendo no computador, Miguel me ensinou e eu estava praticando. Voltei o olhar para a porta e notei que ele me olhava polidamente.  -- Ohh Miguel, por favor fique a vontade.

-- Está na hora do almoço, porque não vem se sentar a mesa? - dei um sorriso falso, Miguel não sabe que sua mãe me proibiu de me sentar a mesa com eles, embora ela não me tenha dito na cara, desde que ouvi aquilo, nunca me sentei com eles. Todos os dias eu inventava uma desculpa para justificar a minha ausência na sala de refeições.

-- Estou sem fome - menti. -- e o estou tão entusiasmada com o computador que nem sei se vou conseguir ficar longe dele. - o sorriso falso continuava  estampado no meu rosto.

Miguel entrou no quarto e se sentou na minha cama ficando de frente para mim.

-- Marisa eu nunca vi você se sentar connosco a mesa, sabia que você também é da família? - estava sendo difícil para mim mascarar uma tranquilidade diante de Miguel, eu não sabia se ele realmente é inocente e não sabe das atitudes da mãe, ou se ele estivesse mesmo preocupado comigo. -- Marisa?

-- Oi... Miguel, o que devo dizer?

-- Vem comigo, e sente-se a mesa connosco. Você está aqui faz uma semana, você já conheceu o meu pai? - E aquele olhar que antes era de polidez, dessa vez foi de indignação.

Mas eu não poderia ir lá, eu ouvi as ordens da minha tia e sempre as obedeci.

Mas ela não disse na sua cara...
Algo me falava ao ouvido.

-- Venha, depois eu lhe mostro mais funcionalidades do computador.

Miguel insistia e eu não tinha mais o que inventar, eu o segui.

Me sentei a mesa do lado de Miguel, Rafaela estava sentada a minha frente, e do lado dela sentaria sua mãe de frente para Miguel e no canto, o pai deles, senhor de quem o nome eu desconheço.

5 minutos depois, um homem alto, muito forte, com o rosto bem formado e um corpo bem estruturado e trabalho se sentou no lugar do pai deles. Ele olhou para seus filhos com ternura e de seguida olhou para mim, não consegui decifrar sua expressão facial, mas eu sabia que a minha era de susto.

-- Boa tarde pai - Rafaela e Miguel disseram em uníssono.

-- Bo... Boa... Boa tarde - minhas mãos suavam e eu tentei falar, mas minha voz saiu falhada e eu gaguejava.

-- Boa tarde - disse ríspido desviando o olhar de mim para a mesa.

Respirei fundo sem chamar atenção, eu estava muito nervosa, eu acabava de conhecer o meu tio e parecia que não tinha se agradado da minha presença, agora era a vez da minha tia Cacilda, o que iria acontecer comigo, mas fosse como fosse, todos alí viriam o que aconteceria e talvez nunca mais me chamassem para sentar a mesa com eles.

-- Pai, já conhece a nossa prima Marisa? - depois de longos minutos de um silêncio vexatório, a voz de Miguel penetrou meus ouvidos me colocando em alerta.

-- Sim... - sua voz grossa me chamou atenção, olhava para ele e notava que ele não está interessado no que seu filho falava, ele não olhava para mais nada além do prato a sua frente.

Miguel olhou para mim ruborizado, pisquei para ele na tentativa de mostrar que eu o entendia. Afinal, não era culpa dele o desinteresse de seu pai.

Permanecemos em silêncio, tia Cacilda não chegava para o almoço, então nos servimos e começávamos a comer quando o celular do meu tio tocou.

-- Alô, diga - disse autoritário -- estou indo. - se levantou da mesa sem dizer uma única palavra e saiu da sala, no mesmo instante em que tia Cacilda cruzava a porta e entrava naquele cômodo.

Ela parecia serena e tranquila, até olhar para a mesa e me ver ali sentada, do lado de Miguel e de frente para Rafaela.

Ela se aproximou de nós de vagar, sem tirar os olhos de cima de mim.

-- Então, o que você faz aqui? - olhei nos olhos dela por alguns segundos e de seguida baixei a cabeça. - responda. - ela parecia querer gritar, ela começava a se alterar.

-- Do que está falando mãe? - Disse Miguel completamente admirado.

Me movimentei no lugar onde sentava, pretendia me levantar e sair dali, Miguel notou e tocou meu braço olhando para mim, cuidadosamente.

-- Não é contigo meu filho - tia Cacilda respondeu sem nem tirar os olhos de mim. -- Falei contigo menina!

-- Mãe, qual é o problema? O que ela fez? - Miguel se levantou olhando seriamente para sua mãe.

-- JÁ DISSE QUE NÃO É CONTIGO MIGUEL - os gritos dela me assustaram, me levantei da mesa e comecei a correr.

Miguel me seguiu, me pegou pelo braço e me levou para próximo da mesa.

-- Me explica o que está acontecendo mãe, não há nenhuma necessidade de gritar.

-- Eu vou dizer isso só uma vez, eu não quero você aqui, está claro? Se quiser comer ou qualquer outra coisa faça na cozinha ou no seu quarto, eu não quero ver você por andando por aí.

Miguel a olhava com perplexidade, a incredulidade estava estampada na sua face.

-- O que está falando? - Miguel não continha o seu espanto ao contrário de Rafaela que parecia familiarizada com aquela situação. -- porque ela não pode se sentar aqui? Junto de nós? Ela não é da família? O que há?

-- Eu não quero olhar para você, nem para sua mãe ou seu pai, eu deixo você aqui para que se forme e depois saía daqui, mas fique sabendo que de mim você só terá o teto, o resto terá de lutar para conseguir. - havia tanto ódio naquelas palavras, se antes eu desconfiava que teria uma vida difícil ali, a partir daquele momento eu tive certeza.

...


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MARISA - A CamareiraWhere stories live. Discover now