Marisa Vilarela
2 MESES E ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
-- Finalmente! - falei assim que saí da sala do exame, era o último dia e eu estava exausta -- Só espero não ir a recorrência!
-- Estudamos muito para isso Marisa, não vai haver recorrência.
-- Que Deus te ouça Roberta! - segurei na mão da minha amiga torcendo para que ela estivesse certa. -- estou tão aliviada por isso tudo ter terminado.
-- Todos os estudantes estão sentindo o mesmo - William surgiu atrás de nós -- mas você parece estar muito mais.
-- Tenho andado muito tensa vocês sabem, como não ficar aliviada por ultrapassar isso?
-- Eu acho que deveria tentar relaxar. - William me abraçou pelas costas e beijou minhas bochechas.
Júlio que vinha atrás de nós fechou a cara assim que viu William abraçado a mim, Roberta notou seu estado e se aproximou dele para o abraçar também.
-- Obrigada Júlio, você nos ajudou muito... - ela beijava as bochechas dele na tentativa de acalmá-lo.
-- Onde vão passar as suas férias de fim de ano? - perguntei a todos me separando do abraço de William.
-- Em casa como em todos os anos. - respondeu Roberta sem rodeios.
-- Porque? Não tem familiares nos outros cantos do país? - indagou Júlio com curiosidade -- Eu vou para Pemba, quero aproveitar o verão lá, naquelas magníficas praias.
-- Tenho, mas não são pessoas que eu gostaria de visitar... E você acha que precisa ir tão longe Júlio? Poderia ir para Inhambane ou até mesmo Gaza, etc...
-- Eu tenho familiares lá, e são pessoas muito agradáveis, é por isso.
-- Que ótimo! E vocês que estão calados só nos olhando? - Roberta olhava para mim e William com a sombrancelha arqueada nos fazendo rir.
-- Estávamos só acompanhando a vossa conversa - William respondeu animado.
-- O que ele disse é verdade! - concordei fazendo Roberta revirar os olhos. -- Mas então, onde vai? - olhava para Will esperando uma resposta.
-- Ainda não sei, não costumo fazer esses programas, e você Marisa?
-- É claro que eu vou voltar para casa, para junto dos meus pais.
-- Eu vou sentir sua falta - antes mesmo que pudesse dizer alguma coisa, Roberta pulou em cima de mim me apertando num abraço.
-- Também vou sentir a sua Roberta! - lhe dei um abraço e saímos caminhando juntos para uma pizzaria próxima, frequentada por muitos estudantes, nós queríamos comemorar.
Escolhemos uma mesa no centro e nos sentamos os quatro. Depois do incidente das montagens das minhas fotografias, William e Júlio ficaram mais próximos de nós.
Após alguns minutos comendo e conversando, o celular de Roberta tocou!
-- Eu preciso atender - vimos um sorriso bobo se formar em seu rosto nos fazendo rir. -- oi Matte - falou toda dengosa.
Matte ou Mateus é o novo namorado de Roberta, estão juntos a quase dois meses, se conheceram numa noite em que eu e ela fomos ao cinema, naquela noite eu fiquei de vela. Matte é um rapaz dos seus 20 anos de idade, anda no terceiro ano em outra universidade no período da tarde, tornando o encontro deles durante o dia muito complicado. Mas isso estava prestes a terminar, afinal de contas, lá vinham as férias.
-- Então até depois, beijos - assim terminava a conversa de cinco minutos dos dois.
-- Achei que não ia acabar nunca - Will brincou nos fazendo rir.
-- Quanto veneno Will. - reclamou!
A tarde está ótima, estávamos felizes e eu não queria que aquilo acabasse. Mas depois de tanto tempo conversando foi preciso que cada um seguisse o seu caminho para casa.
Enquanto atravessava a porta da pizzaria enquanto mexia no celular senti uma leve batida no meu braço me fazendo olhar para o lado e me dei de cara com Dante, assim que o identifiquei não dei a mínima importância e resolvi sair sem dizer uma única palavra.
Fazia tempos que não tão perto dele, desde o enterro de seu pai a três meses atrás. Ele estava em um relacionamento aparentemente sério e, ou muito ocupado, talvez porque deveria dirigir os negócios que eram do seu pai. Embora Letícia sempre reclamava que o irmão não tomava jeito, ele passou a frequentar mais festas noturnas e consumir mais bebidas alcoólicas.
Depois de tanto tempo separados eu já sentia que estava pronta para uma nova relação, passei a olhar para Dante como um terrível erro, um erro que não gostaria de voltar a repetir.
Depois de um mês inteiro longe da faculdade, Rafaela, Clotilde e Stéfany tiveram uma oportunidade para voltar a frequentar as aulas, não precisando ficar afastados para mais duas semanas como havia sido ordenado pela direção.
Minha prima finalmente parou de me incomodar, pois com a nossa ameaça da família "a pobreza", ela foi obrigada a arranjar um emprego, o que no início não foi nada fácil para ela, mas ela sabia perfeitamente que não tinha escolha nenhuma.
Mas a situação da minha querida Rafaela piorou quando tio George descobriu que a sua filha estava usando drogas, junto de algumas de suas amigas. Ele encontrou cigarros e um tipo de pó suspeito em seus pertences o que lhe garantiu um enorme castigo.
Nos últimos meses eu não consegui um trabalho decente, então aproveitei o tempo para estudar mais e me preparar para os exames de final de semestre, o que no final me causou grande alívio em saber que não correria riscos de ir a recorrência.
Mas enquanto algumas coisas se encaixam, outras saem do lugar.
Meu pai proibiu minha mãe de trabalhar, ele dizia que ela se esforçava de mais e isso poderia afetar a saúde dela, mas minha mãe sempre revidou, dizendo que estava bem e que era capaz.
O dinheiro das minhas economias estava esgotando pois eu estava a meses sem trabalhar e consequentemente sem receber, não era bom!
Pensava em voltar para casa dos meus pais e trabalhar no lugar da minha mãe durante as férias, mas não sabia se aquilo seria suficiente, se aquilo me ajudaria a juntar dinheiro para voltar no ano seguinte e continuar meus estudos. Eu não sabia se ao voltar de viajem poderia ficar mais algum tempo em casa dos meus tios ou se finalmente teria de arranjar outro lugar. Começava a pensar que minha mãe estava certa, que era melhor deixar a faculdade e voltar para Gaza.