Capítulo 64

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Marisa Vilarela

Estava tudo indo incrivelmente bem e me fazia acreditar que teria mais um ano fantástico, em algum momento até cheguei a sentir falta das intrigas, das brigas, até dos dias felizes que tive com Dante.

Meu Deus!

Não me permita ter esses pensamentos outra vez.

Estávamos vendo televisão jogadas no sofá. Pedro e Guilherme irmãos de Roberta voltaram de viajem depois de findada sua formação na metade do ano anterior, mas eles eram agitados de mais para se limitar a monotonia da vida caseira.

Rony, pai de Roberta chegou a casa mais cedo naquele dia, ele costumava chegar às 10h da tarde, e naquele dia chegou às 7h.

Foi um espanto para nós, o principal com certeza foi sua expressão, ele parecia aborrecido, ansioso e impaciente.

-- Onde estão os rapazes? - perguntou depois de vários minutos em silêncio.

-- Você sabe bem pai, que eles nunca estão em casa. - disse Roberta.

-- Eu vou ligar para o Guilherme! - falou e saiu andando sumindo pelos corredores da casa.

-- Ele está diferente - olhei seriamente para Roberta.

Rony passava tão pouco tempo em casa por causa dos seus negócios, mas era um homem muito alegre e comunicativo, as poucas horas que passávamos juntos eram perfeitas.

Resolvemos não ligar muito para o que havia acontecido, Roberta e eu continuamos vendo televisão até chegar a hora de dormir.

No dia seguinte a rotina foi exatamente a mesma, casa a faculdade e de faculdade a casa. Chegamos pouco depois do meio dia e
Para nosso espanto, Rony nos aguardava na sala de estar junto com o Gui e Pedro.

-- O que está acontecendo? - sussurrei para Roberta.

-- Não sei - me respondeu no mesmo tom.

-- Entrem meninas, acomodem-se por favor. - disse Rony calmamente. -- precisamos conversar.

-- O que houve? - perguntou Roberta se sentando do lado de Guilherme.

Seguiram-se minutos de tensão, olhava nos rostos dos rapazes expectante, mas seus rostos esboçavam ansiedade e surpresa.
Rony limpou a garganta antes de dizer qualquer coisa e já estávamos quase explodindo de nervosismo.

-- Eu preciso dar uma informação importante e que pode mudar nossas vidas de hoje em diante. - ele fez uma pausa. -- há meses estou com problemas na empresa, não informei antes porque havia uma solução, porém, muito arriscada e a pesar dos meus esforços, deu tudo errado... - a voz de Rony começava a falhar -- eu perdi tudo...

Rony se levantou abruptamente e saiu da sala nos deixando atónitos, fez-se um silêncio aterrador por longos minutos até Guilherme reagir.

-- Nosso pai precisa do nosso apoio. - ele se levantou e nos encarou -- eu quero ir lá e lhe dar um abraço, mas nós precisamos conversar.

-- Fale Gui! - disse Pedro. -- Esta claro que temos de ajudar o nosso pai.

-- Sim, temos de ajudar, trabalhando com ele, ou sei lá... - fez uma pausa -- precisamos arranjar um trabalho, e despedir a secretaria.

-- Sério? - disse Roberta desapontada -- eu nunca trabalhei na vida.

-- Deixa isso, Roberta. - disse Pedro -- nosso pai precisa de apoio nesse momento difícil.

-- Eu já trabalhei e posso voltar a fazer. - falei. -- vou imediatamente procurar um emprego.

-- Eu preciso falar com o nosso pai. - Guilherme disse essas palavras e se retirou.

...

O dia se seguiu tranquilamente a pesar das preocupações, Roberta e eu passamos o dia estudando, era uma forma de nos distrairmos e por algumas horas funcionou.

Eu já estava preocupada com a situação, e então entrei em contato com os antigos colegas pedindo ajuda, eu sabia que talvez não fosse atendida, ou que alguma coisa acontecesse, mas todas as opções deviam ser validadas.

-- Eu preciso contar uma coisa - disse Roberta me afastando de meus pensamentos.

-- O que é? - estávamos jogadas na cama com os livros e cadernos abertos e espalhados, já estávamos a algum tempo em silêncio e então eu olhei para ela e vi no seu semblante preocupação. -- está me assustando.

-- É o Matt, nós brigamos e nos separamos. - Eu não esperava ouvir aquelas palavras.

-- O que houve? - indaguei confusa e surpresa.

Roberta contou tudo o que ocorreu e eu não consegui ter outra reação se não surpresa.

-- Era lindo, a gente se dava muito bem, o sexo era maravilhoso e do nada tudo mudou, ele já não tinha tempo para mim, não me levava para sair, a gente já nem falava com frequência e nesse último final de semana, ele viajou com outra garota, para aproveitar a praia e eu vi isso em suas redes sociais, acredita? - ela começou a chorar e soluçar -- eu fiquei tão surpresa, fiquei sem chão e não estou conseguindo guardar esse sentimento só para mim.

-- Eu não sabia disso, porque nunca me falou?

-- Eu achei que fosse possível resolver Marisa, eu achei que conversando com ele poderíamos encontrar uma solução, mas ele me surpreendeu com essa atitude e agora não estou conseguindo lhe dar com isso.

-- Eu sinto muito amiga. - me aproximei dela para abraçá-la. -- lamento que isso tenha acontecido.

-- Sabe o que é mais horrível? Ele sabia que faria a viagem com outra garota, porque não terminou comigo? Porque não me disse nada? Eu liguei para ele várias vezes e me ignorou, ele não quis e não vai me dar uma explicação, isso me deixa com tanta raiva.

-- Eu entendo você Roberta! Me dê outro abraço. - apertei ela em meus braços e beijei seu rosto molhado -- chore amiga, hoje você pode chorar tudo o que for necessário, mas amanhã, amanhã eu quero que você se esqueça, que você recomece e que não pense mais nisso, esta bem?

Ela deu um longo suspiro e chorou, chorou como nunca antes vi chorar, e várias vezes lágrimas rolaram em meu rosto, estava comovida e preocupada com o que minha amiga estava passando.

Ficamos abraçadas por longos minutos, estávamos em silêncio, eu não consegui dizer uma palavra e minha amiga chorava baixinho, só pude ver seus olhos marejados e parte da minha blusa encharcada.

-- Eu vou ficar bem - disse ela em fim -- eu só não consigo pensar que agora estamos sem dinheiro, isso é de mais, muito para minha cabeça.

-- Fique calma, isso se resolve.

Conversamos mais um pouco sobre trivialidades, ela se tranquilizou e depois de muito tempo pude ver um sorriso em seus lábios.

Meu celular tocou me causando um susto, olhei para o ecrã e era um número desconhecido, nunca gostei de receber ligações de números desconhecidos, mas estava esperando ligações com propostas de emprego então resolvi atender.

-- Alô - falei.

-- Olá princesa...

MARISA - A CamareiraWhere stories live. Discover now