Capítulo 20

215 27 5
                                    

Marisa Vilarela

-- Ora, ora, ora - era a voz de Rafaela, olhei para o lado, na direção dela que olhava para nós com fúria em seus olhos. -- Então é isso Marisa, na primeira oportunidade você decide ficar com o meu namorado... Olha eu já sabia que estava acolhendo uma cobra quando deixei você entrar em minha casa e... - Dante a interrompeu.

-- Cale-se - se levantou e segurou Rafaela pelo braço. -- Você não precisa falar assim com ela.

-- Uau, que giro Dante, vai defender a maldita caipira. - Rafaela parecia embriagada, seu corpo se movia de uma forma diferente do habitual.

-- Pare com isso Rafaela, você está bêbada. - Disse Dante enojado.

-- Como eu não estaria meu amor? - ela realmente estava bêbada. -- eu vi... Eu vi vocês dois quase se beijando - e do nada começou a gargalhar, uma gargalhada descontrolada. -- Eu vi... Meu namorado quase beijando a minha prima... Uma vadia... Que eu que mora em minha casa... Bravo - e ela aclamava e ria completamente fora de si.

-- Vamos sair daqui, você não está bem. - Dante a segurou no colo e foi embora com ela.

-- Eu estou ótima amor... Me deixe no chão, eu preciso falar com a estúpida da minha prima - Rafaela gritava e ria -- ela é minha prima... E você é o idiota do meu namorado.

Fiquei me sentindo horrível pelo que acabava de acontecer, Rafaela tinha razão, Dante era o namorado dela e eu estava lhe roubando a atenção.

Ele que veio atrás - pensei.

Mas eu correspondia.
O que eu estava fazendo.

Continuei sentada, olhando para o horizonte, estava confusa e não sabia o que fazer.

Com certeza depois disso Rafaela vai me odiar.

-- Marisa, vamos a aula - Roberta chegou por trás e tocou meus ombros -- Depois você me conta o que aconteceu - sussurrou no meu ouvido e sorriu.

-- Será que dá para deixar passar essa? - falei exibindo exaustão.

-- Não, eu vi Dante carregando Rafaela no colo e ela gritava coisas sem sentido. Você sabe o que aconteceu?

-- Não sei de nada Roberta.

-- Devem ser as drogas lhe deixando assim.

-- O QUÊ? - quase engasguei com minha própria saliva. -- como assim drogas?

-- Oh você não sabia? - Roberta tinhas os olhos arregalados e suas mãos tapando a boca.

-- Como você sabe isso? Entramos na universidade a mesma altura, nós estamos no primeiro ano e ela no segundo, como você sabe todas essas coisas? 

-- É simples, eu faço o que os outros fazem... Ando nos corredores da universidade, vou ao refeitório, faço novos amigos, enquanto você leva uma vida monótona.

-- Você me assusta - falo abismada, não com o que acabava de ouvir, e sim pela descoberta que acabava de fazer. Nunca pude desconfiar que Rafaela usasse drogas.

...

Estava sentada no chão da cozinha do restaurante tentando estudar, o movimento estava fraco e então dava tempo de abrir os cadernos e prestar mais atenção na matéria que Roberta me tinha feito perder na aula.

-- Mocinha, levante-se... Acabaram de chegar alguns clientes e precisam ser atendidos. - esse é um meu colega Sílvio, o chefe do pessoal. Sempre muito arrogante e mandão. -- Ande, por acaso não fui claro?

Me levantei olhando nos olhos dele.
Fui até às mesas e anotei os pedidos dos clientes, entrei na cozinha para mostrar a cozinheira os pedidos e enquanto saia com minha primeira bandeja, o Sílvio parava na entrada esperando eu passar.

Ele deu uma palmada em minhas nádegas e de seguida colocou o dedo indicador na boca, fazendo sinal para que eu me calasse.

-- Não abra a sua boca mocinha, ou vai perder o seu emprego. - olhava para ele apavorada.

Segui para a mesa e entreguei o pedido, voltei a cozinha para buscar outra bandeja e ele continuava parado no mesmo lugar.

Ele continuava ali parado olhando para mim e mordiscava o lábio inferior.

Passei por ele apressada e ele soltou uma gargalhada.

Psicopata - pensei

-- Cuidado... Não vai cair - e continuava rindo.

-- Idiota - falei baixinho.

Peguei a outra bandeja e segui para atender outra mesa, Sílvio não saía daquele lugar.

-- Gostosa - disse assim que passei por ele. Dei um longo suspiro de alívio assim que passei sem que ele me tocasse.

E as outras restantes horas do trabalho foram assim, completamente desconfortáveis e aterrorizantes.
Não consegui mais estudar porque Sílvio decidiu me castigar e me delegar para realizar todas as tarefas.
Por conta disso saí muito tarde do trabalho.

Caminhava sozinha para casa, embora fosse tarde e no meio de semana, as ruas estavam agitadas, as pessoas lotavam a praia do Costa do Sol. O povo moçambicano está sempre se divertindo, não importa a hora e nem o lugar.

Haviam muitas mulheres de capulanas coloridas fazendo refeições a beira da praia, no ar pairavam diversos aromas, algumas pessoas gritavam, outras cantavam, outras gargalhavam, outras bebiam, outras corriam, outras brincavam... E eu? Eu caminhava de vagar, ninguém me esperava em casa, não havia ninguém sentindo minha falta ou precisando de mim.

Eu me sentia vazia.

Estava cansada, e a brisa do mar me causava frio, resolvi apressar meus passos e chegar a mansão da minha tia.

Tudo na minha vida mudou a partir do momento em que cheguei aqui, em Gaza eu viva com tão pouco e não sentia falta de nada, era feliz.
Mas desde o momento que cheguei aqui na capital, as coisas mudaram completamente, nada mais é suficiente, a gente tem sempre que estar lutando para sobreviver.

Talvez não sentia essas necessidades porque meus pais estavam lá para me proteger, e agora, com eles distante e eu vivendo outra realidade, comecei a entender como e quanto a vida pode ser Difícil.

Atravessei o portão da casa e tive uma enorme surpresa.

-- Ainda bem que chegou...

... 

Oi vidas ❤️
Não se esqueçam do voto ⭐
xoxo💋🤩

MARISA - A CamareiraWhere stories live. Discover now