Marisa Vilarela
-- Ora, ora, ora - era a voz de Rafaela, olhei para o lado, na direção dela que olhava para nós com fúria em seus olhos. -- Então é isso Marisa, na primeira oportunidade você decide ficar com o meu namorado... Olha eu já sabia que estava acolhendo uma cobra quando deixei você entrar em minha casa e... - Dante a interrompeu.
-- Cale-se - se levantou e segurou Rafaela pelo braço. -- Você não precisa falar assim com ela.
-- Uau, que giro Dante, vai defender a maldita caipira. - Rafaela parecia embriagada, seu corpo se movia de uma forma diferente do habitual.
-- Pare com isso Rafaela, você está bêbada. - Disse Dante enojado.
-- Como eu não estaria meu amor? - ela realmente estava bêbada. -- eu vi... Eu vi vocês dois quase se beijando - e do nada começou a gargalhar, uma gargalhada descontrolada. -- Eu vi... Meu namorado quase beijando a minha prima... Uma vadia... Que eu que mora em minha casa... Bravo - e ela aclamava e ria completamente fora de si.
-- Vamos sair daqui, você não está bem. - Dante a segurou no colo e foi embora com ela.
-- Eu estou ótima amor... Me deixe no chão, eu preciso falar com a estúpida da minha prima - Rafaela gritava e ria -- ela é minha prima... E você é o idiota do meu namorado.
Fiquei me sentindo horrível pelo que acabava de acontecer, Rafaela tinha razão, Dante era o namorado dela e eu estava lhe roubando a atenção.
Ele que veio atrás - pensei.
Mas eu correspondia.
O que eu estava fazendo.Continuei sentada, olhando para o horizonte, estava confusa e não sabia o que fazer.
Com certeza depois disso Rafaela vai me odiar.
-- Marisa, vamos a aula - Roberta chegou por trás e tocou meus ombros -- Depois você me conta o que aconteceu - sussurrou no meu ouvido e sorriu.
-- Será que dá para deixar passar essa? - falei exibindo exaustão.
-- Não, eu vi Dante carregando Rafaela no colo e ela gritava coisas sem sentido. Você sabe o que aconteceu?
-- Não sei de nada Roberta.
-- Devem ser as drogas lhe deixando assim.
-- O QUÊ? - quase engasguei com minha própria saliva. -- como assim drogas?
-- Oh você não sabia? - Roberta tinhas os olhos arregalados e suas mãos tapando a boca.
-- Como você sabe isso? Entramos na universidade a mesma altura, nós estamos no primeiro ano e ela no segundo, como você sabe todas essas coisas?
-- É simples, eu faço o que os outros fazem... Ando nos corredores da universidade, vou ao refeitório, faço novos amigos, enquanto você leva uma vida monótona.
-- Você me assusta - falo abismada, não com o que acabava de ouvir, e sim pela descoberta que acabava de fazer. Nunca pude desconfiar que Rafaela usasse drogas.
...
Estava sentada no chão da cozinha do restaurante tentando estudar, o movimento estava fraco e então dava tempo de abrir os cadernos e prestar mais atenção na matéria que Roberta me tinha feito perder na aula.
-- Mocinha, levante-se... Acabaram de chegar alguns clientes e precisam ser atendidos. - esse é um meu colega Sílvio, o chefe do pessoal. Sempre muito arrogante e mandão. -- Ande, por acaso não fui claro?
Me levantei olhando nos olhos dele.
Fui até às mesas e anotei os pedidos dos clientes, entrei na cozinha para mostrar a cozinheira os pedidos e enquanto saia com minha primeira bandeja, o Sílvio parava na entrada esperando eu passar.Ele deu uma palmada em minhas nádegas e de seguida colocou o dedo indicador na boca, fazendo sinal para que eu me calasse.
-- Não abra a sua boca mocinha, ou vai perder o seu emprego. - olhava para ele apavorada.
Segui para a mesa e entreguei o pedido, voltei a cozinha para buscar outra bandeja e ele continuava parado no mesmo lugar.
Ele continuava ali parado olhando para mim e mordiscava o lábio inferior.
Passei por ele apressada e ele soltou uma gargalhada.
Psicopata - pensei
-- Cuidado... Não vai cair - e continuava rindo.
-- Idiota - falei baixinho.
Peguei a outra bandeja e segui para atender outra mesa, Sílvio não saía daquele lugar.
-- Gostosa - disse assim que passei por ele. Dei um longo suspiro de alívio assim que passei sem que ele me tocasse.
E as outras restantes horas do trabalho foram assim, completamente desconfortáveis e aterrorizantes.
Não consegui mais estudar porque Sílvio decidiu me castigar e me delegar para realizar todas as tarefas.
Por conta disso saí muito tarde do trabalho.Caminhava sozinha para casa, embora fosse tarde e no meio de semana, as ruas estavam agitadas, as pessoas lotavam a praia do Costa do Sol. O povo moçambicano está sempre se divertindo, não importa a hora e nem o lugar.
Haviam muitas mulheres de capulanas coloridas fazendo refeições a beira da praia, no ar pairavam diversos aromas, algumas pessoas gritavam, outras cantavam, outras gargalhavam, outras bebiam, outras corriam, outras brincavam... E eu? Eu caminhava de vagar, ninguém me esperava em casa, não havia ninguém sentindo minha falta ou precisando de mim.
Eu me sentia vazia.
Estava cansada, e a brisa do mar me causava frio, resolvi apressar meus passos e chegar a mansão da minha tia.
Tudo na minha vida mudou a partir do momento em que cheguei aqui, em Gaza eu viva com tão pouco e não sentia falta de nada, era feliz.
Mas desde o momento que cheguei aqui na capital, as coisas mudaram completamente, nada mais é suficiente, a gente tem sempre que estar lutando para sobreviver.Talvez não sentia essas necessidades porque meus pais estavam lá para me proteger, e agora, com eles distante e eu vivendo outra realidade, comecei a entender como e quanto a vida pode ser Difícil.
Atravessei o portão da casa e tive uma enorme surpresa.
-- Ainda bem que chegou...
...
Oi vidas ❤️
Não se esqueçam do voto ⭐
xoxo💋🤩