MARISA VILARELA
1 semana depois
Acordei bem animada, me arrumei rapidamente e saí para a faculdade, e desta vez Rafaela não estava do meu lado no carro. Cheguei a faculdade e Roberta me esperava no pátio.
-- Oi - dei um abraço nela e seguimos sorrindo até a sala de aula.
-- Hoje você está tão radiante! - Roberta fez essa observação assim que nos sentamos.
-- Estou realmente, as coisas estão indo bem e o melhor é que não preciso mais ficar em casa.
-- As coisas vão ficar péssimas daqui a pouco, porque você terá que estudar e fazer alguns trabalhos, nessa semana em que você esteve em casa nós não ficamos aqui festejando.
-- Aí que você se engana meu bem!
-- Como assim?
-- Júlio me passava toda a matéria por e-mail, e eu fazia e entregava os trabalhos a partir de casa... Não sou tão irresponsável a ponto de ficar a semana inteira sem saber dos trabalhos da escola.
-- Sua idiota.
-- Idiota é você! - tivemos que interromper a nossa conversa porque o docente entrou na sala de aula.
...
-- Meu aniversário está chegando, prepare os presentes Roberta. - falo atravessando a porta da sala de aula.
-- Eu sei Marisa e já tenho algo preparado.
-- Acho ótimo... Eu tenho que ir ao trabalho agora meu bem!
-- Está bem querida, eu vou para casa descansar... Detesto segundas-feiras.
-- Estou vendo - rimos e continuamos andando quando vimos algo completamente fora do comum.
Dante estava caído no chão de joelhos e chorando muito. Não nos aproximamos muito para não parecermos curiosas de mais, um dos amigos dele cujo o nome me esqueci, estava ali com ele, o segurando do braço tentando fazer com que ele se levantasse.
-- O que está acontecendo? - Roberta sussurrou.
-- Eu sei o mesmo que você! - alguns segundos depois uma mensagem entrou no meu celular.
"Estou arrasada, meu pai acabou de falecer"
-- Olha essa mensagem Roberta! - mostrei a mensagem para ela.
-- Meu Deus, que coisa horrível! Por isso ele está chorando.
-- O que faremos?
-- Vai trabalhar Marisa e a noite eu vou buscar você para irmos a casa dele.
-- Está bem, deixe-me responder a mensagem da Letícia.
Aquilo era mesmo horrível, em menos de um ano eles perderam a mãe e o pai, eu não sabia se eles tinham outra família além deles mesmo. Só sabia que a partir daquele momento Dante deveria ser mais responsável e cuidar dele e dos irmãos mais novos.
Saí dali e fui para o trabalho, graças ao atestado médico poderia justificar as minhas faltas e continuar trabalhando tranquilamente.
Ao chegar no trabalho mas uma coisa inusitada estava acontecendo, haviam alí vários homens removendo as mesas e cadeiras do restaurante, não eram homens da equipe de trabalho, eram homens estranhos.
Olhei para a cozinheira que chorava desesperada, Sílvio e outros garson's estavam parados de braços cruzados olhando aquela cena.
Me aproximar para me informar sobre o que estava acontecendo.
-- O que se passa? Hoje não há trabalho?
-- Há trabalho sim... Para esses homens! - a resposta de Sílvio me deixou confusa. -- nós não podemos fazer nada.
-- Como assim?
-- O chefe foi preso, acabou de ser levado - um de meus colegas de trabalho balbuciou.
-- Estou ainda mais confusa.
-- Melhor arranjar outro trabalho mocinha - disse Sílvio -- descobriram que o dinheiro usado para abrir esse estabelecimento não foi conseguido de forma legal, e por isso o homem foi preso e o restaurante será encerrado.
-- Não pode ser... Onde vou arranjar outro trabalho? - eu devia saber que aquela minha animação toda não traria coisa boa.
-- Ninguém aqui sabe onde arranjar outro trabalho queridinha, se vira.
-- Desculpa Silvio, mas eu não estava perguntando isso a você, estava pensando e sem querer eu disse em voz alta.
-- Tá, agora trate de ir pensar em outro lugar.
Um homem bem arrumado e de cara fechada se aproximou de nós.
-- Vocês são funcionários daqui?
-- Sim - respondemos em uníssono.
-- Devem ir embora, esse lugar sera encerrado imediatamente.
Pois, aquela informação não era mais nenhuma novidade para nós. Olhei os papéis do hospital que estavam em minha mão, pretendia usá-los para justificar as minhas faltas no trabalho e naquele momento percebi que era inútil. Peguei neles e guardei no meio de um dos meus cadernos.
Saí dali frustrada e fui caminhando para casa. Mais uma vez eu teria que procurar por um trabalho, me lembrava do quão frustrante era aquela experiência, mas eu não tinha escolha nenhuma.
Atravessei a varanda de casa entrando na sala e minha tia estava sentada assistindo e olhando alguma coisa no computador, resolvi seguir para o quarto sem dizer nada.
-- Marisa - ouvi sua voz me chamando quando eu já estava de costas para ela. -- vem aqui!
Me aproximei dela obedecendo ao seu chamado.
-- Boa tarde - falei receosa e ela respondeu no mesmo tom.
-- Temos que falar - sua voz calma me deixava arrepiada, todas as vezes que ela falou comigo falava gritando. Ela deu um longo suspiro antes de continuar. -- estamos com problemas financeiros e eu acho que em algum momento você terá de arranjar um lugar para ficar. - meus olhos arregalaram assim que ouvi as palavras da minha tia. -- não estou lhe expulsando, é só para que você se preparar psicologicamente para o que vier, talvez você saia daqui no mesmo dia que nós formos embora.
-- E para onde vocês irão?
-- Eu não sei ainda. - ela parecia sincera -- Já falei com sua mãe sobre isso.
-- Está bem, obrigada!
Fui correndo para meu quarto, entrei e tranquei a porta, não consegui evitar chorar. Eu estava oficialmente sem trabalho e futuramente sem um lugar para ficar.
É incrível como em tão pouco tempo minha vida se tornou insuportável, um inferno. Ouvi o celular tocar e era minha mãe:
-- Oi mãe - atendi a ligação imediatamente.
-- Oi minha filha, está no trabalho?
-- Não mãe, acabei de chegar em casa.
-- O que houve? Não deveria estar trabalhando? Está doente?
-- Não, eu não tenho mais nenhum trabalho.
-- Como assim?
-- Depois eu conto... Tia Cacilda acabou de me informar que teremos de ir embora, aliás, eu terei de arranjar um lugar para ficar.
-- Minha filha, eu já estou sabendo disso e não sei o que fazer, acho que terá de trancar a faculdade e voltar para casa.