Capítulo 46

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MARISA VILARELA

1 semana depois 

Acordei bem animada, me arrumei rapidamente e saí para a faculdade, e desta vez Rafaela não estava do meu lado no carro. Cheguei a faculdade e Roberta me esperava no pátio.

-- Oi - dei um abraço nela e seguimos sorrindo até a sala de aula.

-- Hoje você está tão radiante! - Roberta fez essa observação assim que nos sentamos.

-- Estou realmente, as coisas estão indo bem e o melhor é que não preciso mais ficar em casa.

-- As coisas vão ficar péssimas daqui a pouco, porque você terá que estudar e fazer alguns trabalhos, nessa semana em que você esteve em casa nós não ficamos aqui festejando.

-- Aí que você se engana meu bem!

-- Como assim?

-- Júlio me passava toda a matéria por e-mail, e eu fazia e entregava os trabalhos a partir de casa... Não sou tão irresponsável a ponto de ficar a semana inteira sem saber dos trabalhos da escola.

-- Sua idiota.

-- Idiota é você! - tivemos que interromper a nossa conversa porque o docente entrou na sala de aula.

...

-- Meu aniversário está chegando, prepare os presentes Roberta. - falo atravessando a porta da sala de aula.

-- Eu sei Marisa e já tenho algo preparado.

-- Acho ótimo... Eu tenho que ir ao trabalho agora meu bem!

-- Está bem querida, eu vou para casa descansar... Detesto segundas-feiras.

-- Estou vendo - rimos e continuamos andando quando vimos algo completamente fora do comum.

Dante estava caído no chão de joelhos e chorando muito. Não nos aproximamos muito para não parecermos curiosas de mais, um dos amigos dele cujo o nome me esqueci, estava ali com ele, o segurando do braço tentando fazer com que ele se levantasse.

-- O que está acontecendo? - Roberta sussurrou.

-- Eu sei o mesmo que você! - alguns segundos depois uma mensagem entrou no meu celular.

"Estou arrasada, meu pai acabou de falecer"

-- Olha essa mensagem Roberta! - mostrei a mensagem para ela.

-- Meu Deus, que coisa horrível! Por isso ele está chorando.

-- O que faremos?

-- Vai trabalhar Marisa e a noite eu vou buscar você para irmos a casa dele.

-- Está bem, deixe-me responder a mensagem da Letícia.

Aquilo era mesmo horrível, em menos de um ano eles perderam a mãe e o pai, eu não sabia se eles tinham outra família além deles mesmo. Só sabia que a partir daquele momento Dante deveria ser mais responsável e cuidar dele e dos irmãos mais novos.

Saí dali e fui para o trabalho, graças ao atestado médico poderia justificar as minhas faltas e continuar trabalhando tranquilamente.

Ao chegar no trabalho mas uma coisa inusitada estava acontecendo, haviam alí vários homens removendo as mesas e cadeiras do restaurante, não eram homens da equipe de trabalho, eram homens estranhos.

Olhei para a cozinheira que chorava desesperada, Sílvio e outros garson's estavam parados de braços cruzados olhando aquela cena.

Me aproximar para me informar sobre o que estava acontecendo.

-- O que se passa? Hoje não há trabalho?

-- Há trabalho sim... Para esses homens! - a resposta de Sílvio me deixou confusa. -- nós não podemos fazer nada.

-- Como assim?

-- O chefe foi preso, acabou de ser levado - um de meus colegas de trabalho balbuciou.

-- Estou ainda mais confusa.

-- Melhor arranjar outro trabalho mocinha - disse Sílvio -- descobriram  que o dinheiro usado para abrir esse estabelecimento não foi conseguido de forma legal, e por isso o homem foi preso e o restaurante será encerrado.

-- Não pode ser... Onde vou arranjar outro trabalho? - eu devia saber que aquela minha animação toda não traria coisa boa.

-- Ninguém aqui sabe onde arranjar outro trabalho queridinha, se vira.

-- Desculpa Silvio, mas eu não estava perguntando isso a você, estava pensando e sem querer eu disse em voz alta.

-- Tá, agora trate de ir pensar em outro lugar.

Um homem bem arrumado e de cara fechada se aproximou de nós.

-- Vocês são funcionários daqui?

-- Sim - respondemos em uníssono.

-- Devem ir embora, esse lugar sera encerrado imediatamente.

Pois, aquela informação não era mais nenhuma novidade para nós. Olhei os papéis do hospital que estavam em minha mão, pretendia usá-los para justificar as minhas faltas no trabalho e naquele momento percebi que era inútil. Peguei neles e guardei no meio de um dos meus cadernos.

Saí dali frustrada e fui caminhando para casa. Mais uma vez eu teria que procurar por um trabalho, me lembrava do quão frustrante era aquela experiência, mas eu não tinha escolha nenhuma.

Atravessei a varanda de casa entrando na sala e minha tia estava sentada assistindo e olhando alguma coisa no computador, resolvi seguir para o quarto sem dizer nada.

-- Marisa - ouvi sua voz me chamando quando eu já estava de costas para ela. -- vem aqui!

Me aproximei dela obedecendo ao seu chamado.

-- Boa tarde - falei receosa e ela respondeu no mesmo tom.

-- Temos que falar - sua voz calma me deixava arrepiada, todas as vezes que ela falou comigo falava gritando. Ela deu um longo suspiro antes de continuar. -- estamos com problemas financeiros e eu acho que em algum momento você terá de arranjar um lugar para ficar. - meus olhos arregalaram assim que ouvi as palavras da minha tia. -- não estou lhe expulsando, é só para que você se preparar psicologicamente para o que vier, talvez você saia daqui no mesmo dia que nós formos embora.

-- E para onde vocês irão?

-- Eu não sei ainda. - ela parecia sincera -- Já falei com sua mãe sobre isso.

-- Está bem, obrigada!

Fui correndo para meu quarto, entrei e tranquei a porta, não consegui evitar chorar. Eu estava oficialmente sem trabalho e futuramente sem um lugar para ficar.

É incrível como em tão pouco tempo minha vida se tornou insuportável, um inferno. Ouvi o celular tocar e era minha mãe:

-- Oi mãe - atendi a ligação imediatamente.

-- Oi minha filha, está no trabalho?

-- Não mãe, acabei de chegar em casa.

-- O que houve? Não deveria estar trabalhando? Está doente?

-- Não, eu não tenho mais nenhum trabalho.

-- Como assim?

-- Depois eu conto... Tia Cacilda acabou de me informar que teremos de ir embora, aliás, eu terei de arranjar um lugar para ficar.

-- Minha filha, eu já estou sabendo disso e não sei o que fazer, acho que terá de trancar a faculdade e voltar para casa.

MARISA - A CamareiraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora