Capítulo 53

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Marisa Vilarela

Eu queria tanto estar feliz, afinal de contas estava voltando a casa, onde encontraria os meus pais e me iria  reconfortar em seu colo. Mas eu não estava assim, eu não estava feliz, eu estava preocupada e achava que a minha aventura tinha terminado.

Preciso achar uma solução!

Eu realmente precisava, não queria que tudo terminasse daquele jeito, num transporte inter-provincial para Gaza, minha terra natal.

Olhava pela janela e apreciava a paisagem irregular e ainda assim muito linda. Em poucos minutos eu chegaria a minha casa e estaria junto dos meus pais, sem nenhuma promessa de um dia voltar a Maputo.

Os meus sonhos estavão todos lá, na cidade capital, os meus estudos, os meus novos amigos, as oportunidades, e tantas outras coisas.
O que eu faria em Xai-xai? Não queria nem pensar.

...

Dei um forte abraço na minha mãe que estava emocionada e com os olhos vermelhos, ela tinha chorado muito.

-- Mãe, estou aqui não precisa chorar! - dei outro abraço nela, ela estava tão sensível que estava mexendo comigo também -- assim vou chorar também. - rimos. -- pai - falei estendendo a mão para ele, ele a segurou e sorriu.

-- Pode continuar abraçando ela, se não ela não para de chorar. - ele deu um sorriso, tentava disfarçar mas era evidente que ele estava feliz. -- vamos para casa.

A terminal dos transportes era muito próximo de casa, não teríamos de andar nem por 20 minutos.
Chegando em casa eu senti meu coração pulsar freneticamente, olhei a minha volta e não havia mudado muita coisa, dei um largo sorriso em pensar que em um ano poderia haver várias mudanças.

O jardim cultivado pelo meu pai estava ali ainda tão bonito e bem cuidado, eu sentia sempre que minha mãe era a mulher mais sortuda do mundo por ter meu pai como seu marido.

Já estava devidamente instalada, minha mãe notou minhas novas roupas me lembrando que nunca tive a oportunidade de dizer para ela que minha tia havia jogado fora as que ela me deu. Só me sobrava aquela blusa, a última blusa que ganhei da minha mãe no último dia de venda juntas.

-- Eles mudaram você! - essas palavras saíram regadas de dor e tristeza, minha mãe estava desapontada por causa das roupas, mas ela devia saber, ela devia sentir que sou e sempre fui a mesma. Eu não tinha mudado.

Talvez um pouco, mas não o suficiente para lhe causar tanta tristeza.

Dei um abraço nela para lhe confortar, eu poderia explicar o que aconteceu mas eu sabia que teria tempo suficiente para lhe provar o contrário. Então resolvi sorrir e ser eu mesma.

O dia foi tranquilo, meu pai trabalhou até o final da tarde e eu ajudei minha mãe na cozinha, com os trabalhos que fiz como garçonete e a ajuda de Suzy aprendi várias receitas novas então mostrei para minha mãe.

Durante o dia falei com minha amiga Roberta pelo celular e contei para ela tudo o que aconteceu desde que me separei dela, ela ficou triste porque esperava que teríamos mais 3 dias juntas, mas as coisas saíram do nosso controle e logo pela manhã eu voltei para minha casa. Aprovei ainda para agradecer ao Miguel por tudo o que fez por mim durante toda a minha estádia em sua casa, eu não gostava de imaginar o que teria acontecido comigo se não fosse por ele, Miguel.

...

O dia amanheceu tão lindo, preparei a primeira refeição do dia e deixei sobre a mesa para que meus pais acordassem e pudessem se alimentar. Se eu não tivesse levantado cedo para preparar, eles o fariam, então resolvi lhes surpreender.

Depois de muito tempo de conversa meu pai convenceu a mim e minha mãe de que ela não poderia trabalhar de jeito nenhum, eu não poderia mais insistir, porque ele começava a ficar nervoso. Aceitei finalmente e então decidi fazer o trabalho dela, sozinha.

-- Você consegue? - perguntava meu pai com preocupação.

-- Eu consigo! - respondi animada.

Lavei a louça e arrumei a casa bem cedo, então saí carregando algumas coisas que teria que vender, roupa, bijouterias e muitas bugigangas.
Depois de arrumar minha barraca me sentei e fiz o trabalho que eu aprendi com minha mãe.

O movimento estava ótimo no mercado, as primeiras horas são sempre muito importantes e decisivas. Estava animada, e um pouco preocupada não poderia negar, afinal eu tinha que pensar sobre o meu futuro o que faria assim que as férias terminassem, eu não fazia a mínima ideia. Mas eu precisava de dinheiro, e só trabalhando poderia conseguir algum.

Estava distraída com uma cliente quando ouvi uma voz famíliar, mas eu já havia me esquecido dela.

-- Marisa - olho para ela e sinto um bolor se formar em minha garganta, era a Leila, uma garota que sempre infernizou a minha vida, desde que entrei no ensino médio. -- olha, a menina que foi estudar na cidade grande, está aqui vendendo bugigangas - ela gargalhou e só naquela momento percebi que ela estava com o seu grupinho.

Tentei ignorar a presença dela dando total antes a mulher que estava a minha frente tentando escolher uma peça de roupa adequada. nas as provocações de Leila não pararam.

-- Olha querida, é isso que foi aprender em Maputo? A vender missangas? Ensinam isso na faculdade? - as gargalhadas dela ficavam cada vez mais altas e sua voz aguda me irritava ainda mais. 

Respirei fundo e tentei várias vezes dizer para mim mesma: você não é de fazer bagunça, você não é de perder o controle, você não é como essa idiota infeliz possuída pelo diabo. Nem sempre funciona.

-- Olha miúda... - quando finalmente ia perder o controle ouvi outra voz me chamar me impedindo de terminar a frase.

-- Oi Marisa - era uma voz feminina e muito família, assim que a ouvi um enorme sorriso se formou em meus lábios. -- você voltou. - ela veio até mim muito animada e me deu um abraço apertado e assim ignorei completamente a presença desagradável da Leila.

A mesma foi embora!

MARISA - A CamareiraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora