Capítulo 42

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Marisa Vilarela

As aulas terminaram e Roberta chamou Júlio para conversar e bolar um plano para descobrirmos sobre as intenções de Clotilde.

-- Você realmente entendeu o que tem de fazer? - Roberta questionava pela segunda vez para ter certeza.

-- Sim, ela nem vai notar a minha presença. - garantiu.

-- Ótimo - respondi animada e notei o olhar interessado de Júlio.

Assim que ele se foi embora, Roberta olhou para mim e parecia querer dizer alguma coisa.

-- Eu vou fazer com aquele jovem. - falou meio baixinho.

-- O que? Que jovem?

-- Lembra Marisa, aquele ali - indicou com os olhos sem chamar atenção.

-- E porque ele? - eu acreditava que a escolha dela é ótima, pois ele me defendeu.

-- Eu sinto. - respondeu meio aérea me deixando curiosa.

-- Tá - falei cansada -- eu poderia ir para casa e dormir? Estou exausta!

-- Eu gostaria de dizer que você não pode, mas eu vejo como está acabada, então vá.

-- Eu lhe agradeço muito!

Segui para pelos corredores indo para casa, meus olhos estavam pesados e senti minha cabeça doendo e minhas pernas começavam a me desobedecer.
Desci as escadas em direção a saída, meu olhar estava voltado ao chão, quando vi um par de pés bem de frente para mim.

Voltei meu olhar para o rapaz a minha frente, Dante.

-- Oi Marisa - reviro os olhos assim que ouço sua voz.

-- Estou com tanta preguiça...

-- O que foi?

-- Tanta preguiça para aturar suas idiotices. - eu realmente estava exausta.

Ainda chovia, o céu estava cinzento e não parecia querer se abrir para o sol.

-- Nós precisamos conversar Marisa.

-- Como você pode? Como tem coragem?

-- O que está acontecendo? - quanto discaro.

-- Eu vou lhe mostrar o que acontece, e depois disso eu espero que você suma da minha frente. - peguei no celular e mostrei para ele as fotografias que recebi na noite anterior. -- Já viu né? Agora tchau! - tentei avançar mas ele me segurou pelo braço.

-- Eu posso explicar.

-- Boa tentativa Dante! - fiz força com o braço para me soltar e consegui. -- Olhe para mim agora, olhe bem no meu rosto, olhe bem para o meu corpo, olhe bem mesmo...

-- Marisa!

-- Acha que estou em condições de ficar aqui parada ouvindo suas mentiras?

-- Marisa!

-- Saí daqui, agora! - ordenei.

-- Okey! O que você pensou mocinha? Que eu estava apaixonado por você? Que eu te amo e queria ter um "futuro" com você? Qual é? Abre o olho garota - seu humor e sua expressão facial mudou drasticamente eu não esperava aquilo. -- olhe para mim você, pensa que eu sou homem para me apaixonar por uma caipira como você? Você veio de Gaza, o que você sabe? Essa tua pele branquinha não é uma posição social, não é um nível, não é nada... - e meus olhos começaram a se encher de lágrimas -- Olha aqui menina, eu nunca me apaixonei por você, nunca. Eu nunca quis você, eu só queria ter certeza de que poderia pegar você se quisesse e olha a novidade, eu consegui.

-- Está bem! - falei tentando ser forte, mas junto com a minha voz caíram as lágrimas que meus olhos por longos segundos insistiram em segurar.

-- Coitadinha, está chorando. Porquê? Eu falei para você que eu não sou de ninguém, e só para ver como não é assim tão certinha, ficou comigo mesmo sabendo que eu fui o namorado da sua prima... O que eu posso pensar de você hm - esfregou o queixo com seus dedos -- Imunda, quem deve sair da minha frente é você!

Antes de ouvir tudo aquilo eu já estava completamente acabada, eu quis morrer naquele momento, eu quis sumir. Levantei meu rosto e olhei nos olhos dele, eles sorriam como se tivessem feito a melhor coisa possível, eles brilhavam de alegria e os meus olhos estavam negros, mas escuros que o céu noturno, mas pesados que as nuvens que cobriam o céu.

Olhei a minha volta e quase todos os estudantes nos cercavam, ouviram tudo o que Dante falou, eles riam, eles cochichavam, eles estavam comentando sobre o que acabavam de ouvir.

Eu nunca tinha sido tão humilhada na minha vida, eu nunca tinha passado por uma vergonha tão grande, eu queria não ter ido para aquela faculdade, eu queria nunca ter saído do lado dos meus pais, eu queria nunca ter nascido.

Limpei meu rosto e tentei tomar coragem para ir embora daquele lugar, mas eu não consegui, minhas pernas não obedeciam os meus comandos, eu queria desabar.

Alguns segundos depois Roberta surgiu no meio da multidão e quando me viu fui até mim e me segurou pelo braço, "vamos" sussurrou no meu ouvido e me arrastou com ela.

Eu queria que tudo aquilo fosse só um longo pesadelo e que em algum momento eu pudesse acordar.

-- Ei, Marisa - ouvi a voz de Dante atrás de mim -- eu lamento... Lamento muito, não ter comido a maçã. - disse essas últimas palavras e todos riram.

-- Ignore ele amiga, ele é um completo idiota - Roberta expressava ódio em suas palavras.

Seguimos de vagar até a saída da faculdade e um garoto apareceu atrás de nós, ele estava ofegante.

-- Eu vim só dizer uma coisa. - abanei a cabeça o encorajando a falar -- Dante não tem que lamentar não ter comido essa maçã, hoje está completamente exposta e deixa te dizer... Ninguém gostaria de comer isso - riu de suas próprias palavras.

-- Saí daqui infeliz - Roberta reagiu imediatamente batendo nele com a bolsa que segurava. -- Você é um lixo.

Eu não consigui dizer absolutamente nada, eu só quis chorar, mas estava tão cansada que realmente não consegui, eu queria me jogar em minha cama e dormir, dormir e só acordar quando tudo estivesse resolvido. Era o que eu desejava, mas não aconteceria.

-- Você é forte Marisa, não se deixe levar por tudo isso. - Roberta me abraçou de baixo da chuva, eu estava me molhando mas se quer percebia.

Fomos até a paragem de transportes públicos e juntas fomos até em casa.
Roberta esteve comigo a todo o momento, em silêncio, me abraçando.

Depois do banho me deitei sobre a cama e Roberta colocou uma coberta sobre mim, eu tremia de frio.

-- Vai ficar tudo bem amiga - disse essas palavras e saiu do quarto.

MARISA - A CamareiraOù les histoires vivent. Découvrez maintenant