Capítulo 4

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Marisa Vilarela

-- Alô, boa noite. - Marta

Era minha mãe do outro lado da linha, eu estava chorando e eu sabia que ela iria perceber, o que eu diria? Que estava com saudades? Ou que minha tia me odeia? É claro que só poderia ser a primeira opção, afinal a filha dela estava ali, diante de mim, me encarando com pena.

-- Oi mãe, estou com saudades - minha mãe soltou um longo suspiro e eu pude notar.

-- Como você está minha filha? Vem Ricardo, é a Marisa. - ela estava tão emocionada por falar comigo e aquilo me fez chorar mais ainda. -- Como você está minha filha? - ouvi meu pai gritar e um sorriso se formou no meu rosto.

-- Estou bem, sentido tantas saudades. E vocês como estão? - meus labios esboçavam um sorriso e meus olhos derramavam lágrimas.

-- Estamos bem, graças a Deus - respondeu meu pai. -- também estamos com saudades linda - foi a vez da minha mãe. -- Acho melhor você ir descansar que está tarde hein.

-- Está bem pai, eu amo muito vocês.

Passei o celular para Rafael e ela ainda olhava para mim, se sentou em minha cama e falou.

-- Você é muito sortuda sabia? - olhei para ela ainda com os olhos cheios de lágrimas.

-- Por quê?

-- Teus pais a amam muito - dito isto Rafaela baixou a cabeça e olhou seriamente para suas mãos que faziam movimentos completamente desnecessários.

A princípio eu fiquei relutante, porém respondi.

-- Isso é verdade, e eu os amo mais. Isso... - fui interrompida.

-- Isso é o que mais importa na vida, o amor de seus pais - disse ela.

-- Os seus pais te amam igualmente - iniciei a frase desejando a questionar sobre isso, mas a medida em que eu ia falando percebi que poderia machucá-la.

-- Bom, eu só vim saber se estava tudo bem. - se levantou e olhou para mim, um olhar triste, -- quando precisar é só chamar.

Concordei e ela foi até a porta, quando ia sair do quarto, se virou para mim e disse.

-- Eu vou falar com meu pai para lhe comprar um celular. - ela apagou a luz do quarto e antes que a porta fechasse falei.

-- Eu não conheço o seu pai.

Me virei dando as costas para ela e a mesma fechou a porta do quarto e foi embora, peguei na coberta e tapei meu corpo, me deixei descansar e dormir.

[•••]

É manhã, levanto para tomar um banho e depois disso, abro o meu armário para escolher uma roupa, pois é, minhas roupas eram só trapos  comparando com as roupas deles aqui, mas era o que eu tinha, não poderia fazer absolutamente nada.

Suzana entrou no meu quarto para avisar que os outros já estavam na mesa para o matabicho, e que eu devia esperar pelo chamado dela para ir comer na cozinha.

-- Poderia aproveitar enquanto os outros comem para ir dar um passeio no jardim? - Suzana parecia incomodada com o meu pedido, mas aceitou.

Saí do quarto até o jardim.
Haviam lá belas rosas e flores, pequenos arbustos e árvores frutíferas espalhadas pelo quintal.

Me sentei num dos bancos que haviam ali e sentia os raios do sol tocarem minha pele, era reconfortante estar ali, sentia que teria um lindo dia.

Me levantei e caminhei pelos trilhos de pedras que haviam no enorme quintal, o lugar era mágico, e ali eu praticamente esqueci de todas as coisas más que aconteceram.

Andava tranquilamente até ouvir uma voz atrás de mim, a pessoa parecia completamente irritada.

Era minha tia Cacilda, estava aos berros no celular, acho que a pessoa com quem ela conversava a estava aborrecendo. 

Continuei minha caminhada tentando ignorar sua presença, até ouvir ela me chamar. Ela gritou tanto que levei um grande susto.

Me virei para ela e esperei que me alcançasse.

-- O que pensa que está fazendo? - sua indagação me deixou completamente surpresa, eu estava caminhando no jardim e mais nada, devia dar-lhe essa explicação? -- lhe fiz uma pergunta menina.

-- Bom dia tia, me desculpe eu... - fui interrompida.

-- Que roupas são essas? Acha que pode andar em minha casa vestindo isso? - ela me olhava de cima a baixo com nojo e repulsa.

Olhei para as roupas que eu trazia, eram mesmo pedaços de panos comparando com o que minha tia estava vestindo, fiquei completamente sem reação.

-- Vá para o seu quarto, eu vou mandar Rafaela trazer algumas roupas decentes para você, não quero que ande por aí sem minha autorização, e muito menos que as pessoas vejam minha sobrinha vestindo esse lixo. - revirou os olhos enquanto falava, deixando evidente todo o seu desprezo. -- agora saí da minha frente.

Me afastei dela as pressas indo imediatamente para o meu quarto, me sentia tão humilhada, me olhei mais uma vez no espelho e comecei a me sentir um lixo, minhas roupas estavam rotas e tinham alguns buracos nelas, mas é o que meus pais conseguiam me dar.

Sentei no chão do meu quarto e chorei, teria que usar roupas emprestadas para agradar a minha tia, isso era tão doloroso para mim.

Ouvi algumas batidas na porta e levantei para abrir, era Rafaela que trazia algumas roupas e sapatos.

-- Pronto, vista isso. - me deu um vestido e um par de sandálias para usar, enquanto eu vestia, tirou todas as roupas que coloquei no meu armário e as jogou no chão, no lugar delas, guardou as roupas que ela trouxe para mim. -- Essas são as roupas que passará a vestir, o que você trouxe nós levaremos para o lixo.

Eu não sabia o que dizer, mas no meio daquelas roupas havia uma coisa muito importante para mim e eu não podia jogar fora.

-- Daqui a alguns dias iremos comprar mais roupas e acessórios para você, minha mãe quer que você esteja sempre bem vestida.

Pelos vistos ela se importa muito com a aparência.

Pensei...

...

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MARISA - A CamareiraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora