16.

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|| Ruby ||

Estava um dia infernal e sentia que quase ninguém na cidade de Sidney conseguia respirar com o calor que abafava o ar à nossa volta. A quantidade de pessoas que se encontrava à minha volta no autocarro cheio dava-me vontade de vomitar e para piorar a situação não tinha um único lugar sentada tendo de ficar de pé na minha travessia até à academia.

Quando o autocarro finalmente para custa-me a acreditar que é realidade, mas a diferença de temperatura entre o interior e o exterior do autocarro é basicamente nula. Era quase como se estivéssemos todos fechados dentro de uma bola de plástico e o oxigênio se estivesse a esgotar de segundo para segundo.

Hoje conseguira arranjar tempo e voltar aqui após toda a confusão do ultimo dia de aulas. Pedia com todas as minhas forças que nenhuma das estúpidas amigas da Lizzie estivessem aqui, muito menos a Lizzie, tudo o que queria era paz e sossego e uma sala só para mim sem interrupções de raparigas sem miolos. Ainda não tinha pesando com consciência suficiente na gravidade dos meus atos ao ter mesmo batido na irmã de Ashton, nem conseguia se quer imaginar a sua reação ao saber que tinha batido na sua irmã. Talvez devesse pedir desculpa mas sabia que o meu orgulho não me deixava ter essa atitude perante a rapariga que me tinha feito a vida negra nos últimos anos.

Suspiro de alívio quando o ar condicionado bate na minha pele suada ao entrar no edifício e um - bom dia - é proferido por mim para a senhora da secretaria que me sorri abertamente com os óculos na ponta do nariz. Faço o meu caminho até aos balneários, deixo lá a minha mochila com os meus pertences e rapidamente sigo para uma das salas, que graças a deus, está desocupada.

Primeiro começo por fazer o aquecimento devido e logo após isso sigo a minha própria sequência de exercícios, que tinha inventado quando ainda era muito miúda. Coloco os meus CD's na aparelhagem moderna no fundo da sala e deixo-me levar pela música, descontrolando-me totalmente com os movimentos. Não havia melhor sensação do que esta, dançar. Era quase como se os meus músculos gritassem cada vez que fizesse algum movimento que exigia mais deles, todas as notas musicais indicavam um novo passo, um novo pensamento libertado. Era possível haver algo mais bonito do que dançar?

Não.

A capacidade de conseguir expressar palavras sem abrir a boca, apenas movendo os meus membros era algo que me dava muito prazer, algo que me fazia feliz e me cativava. Mais nada ou ninguém conseguia deixar-me tão envolvida e interessada, pelo menos até hoje nunca isso tinha ocorrido.

A música termina e umas palmas fortes são ouvidas na direção da porta, como se a pessoa estivesse a aplaudir-me ironicamente. A minha respiração ainda se encontrava irregular e apesar do forte ar-condicionado o suor escorria do meu corpo de uma maneira descontrolada devido às 2 horas intensivas que tinha passado nesta sala a treinar hoje.

"Muito bem orfãzinha." A voz irritante da Lizzie desperta a minha atenção e encaro a sua silhueta através do espelho. Deus não ouvia de certeza as minhas preces.

Ignoro-a, lançando-lhe um olhar furtivo e dirijo-me até a minha garrafa de água, que se encontrava ao pé do piano, assim como a minha toalha. Limpo o suor da minha cara, peito e costas na esperança que a rapariga irritante já se tenha posto a andar, mas nada.

"O gato comeu-te a língua, foi?" Ela volta a falar fazendo a minha cabeça doer e desta vez encaro-a, parando na sua direção.

"O que é que queres?" Pergunto friamente.

"Hey, cuidado! Lá no sítio onde crescente não t-"

"Não te atrevas a mexer nesse assunto novamente." Interrompo-a, literalmente rosnando. Ainda me custava acreditar que esta rapariga era realmente irmã do baterista doce com quem passara tempo há dias atrás.

Hopeless || {C.H.}Where stories live. Discover now