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|| Ruby ||

Deixo o último cigarro da pequena caixa de cartão queimar por entre os meus dedos e lábios e suspiro de alívio quando sinto o tabaco a entrar em contacto com o meu organismo viciado. Estava há pelo menos 20 minutos à espera de Joseph num dos bancos de entrada no conservatório enquanto este realizava a sua audição cuja tinha começado alguns minutos após eu sair da sala e a pouca paciência que possuía já se estava quase a esgotar, mas mesmo assim faço um esforço para aguentar o meu velho amigo sair.

De um modo geral, pude considerar o meu trabalho esta tarde com um valor positivo e as reações dos todos os membros do júri após a minha demonstração deixou-me bastante satisfeita, principalmente por terem mesmo chegado a elogiar-me.
Segundo eles, a minha audição teria sido a melhor realizada durante o dia, e sem preparação. Poderíamos facilmente imaginar que o resultado seria melhor se me tivesse preparado decentemente, mas mesmo assim estava contente comigo.

O som irritante do tijolo a que chamo telemóvel volta a soar pelo ar, interrompendo o meu momento de cigarro e suspiro aborrecida, por ter de deixar de apreciar este momento ao máximo.

"Sim!?" Falo para quem quer que estivesse do outro lado da linha, levando o cigarro aos lábios e mais uma vez a sensação do fumo da minha boca parece paraíso.

"Onde estás, Ruby!?" A voz de Calum desperta algo em mim. "Estou a ligar-te há horas!"

Embora eu soubesse que ele tinha a maioria da razão sobre este assunto, a vericidade da sua voz dá-me a entender que o moreno se encontrava demasiado irritado comigo. E por isso tinha de arranjar uma maneira de o fazer desculpar-me.

"Estou no conservatório, tive uma audição, desculpa." Falo com algum cuidado na tentativa de o fazer esquecer a minha falta de cuidado.

"Eu pensei que fôssemos almoçar hoje."

Queria inventar uma desculpa viável para o meu esquecimento sem ter de mencionar o súbito aparecimento de Joseph, mas o meu cérebro não parece querer colaborar nestes segundos levando-me a ter de realmente aceitar que eu era a pior namorada do mundo. Literalmente.

"Eu sei que isto vai ser duro de ouvir, mas esqueci-me completamente disso Cal." Digo. "Se quiseres ainda podemos ir comer agora, não tenho nada para fazer de tarde."

Alguns ruídos irritantes do outro lado da linha deixam-me perceber que o moreno se está a movimentar durante a chamada e permaneço em silêncio à espera da sua resposta, cuja estava a ser pensada após um longo suspiro da sua parte.

"Já reparaste que nos últimos tempos não faço nada a não ser desculpar-te?" Ele diz, não de uma maneira séria e não consigo evitar soltar um sorriso.

"Cala-te e anda buscar-me."

"Daqui a meia hora então, ainda demoro desde a minha casa."

"Ok. Até já."

Coloco o telemóvel ao meu lado após desligar a chamada e volto a concentrar a minha atenção no pequeno pedaço de papel que agora já estava mais de metade queimado.

O calor do ar abafado exterior da cidade começava a deixar-me fora de mim e com pequenas cutículas de suor a nascer por todo o meu corpo, coisa que, devo admitir, não combinava de todo com o calor que o cigarro me transmitia. Mas mesmo assim, dava-me um bom sentimento de satisfação, fazendo-me esquecer por meras milésimas de segundos a minha vida miserável, tal como se absorvesse todos os meus problemas.

"Buh!" Umas enormes e pálidas mãos pousam com alguma força sobre os meus ombros, pressionando estes e salto para trás com o susto, colocando ambas as mãos contra o peito que subia e descia irregularmente.

Hopeless || {C.H.}Where stories live. Discover now