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|| Ruby ||

"Hey, Ruby, estás a ouvir-me?" a voz de Joseph desconcentra-me do barulho dos carris do metro que roubavam a minha completa atenção no momento e olho para ele, tentando disfarçar a minha distração não propositada da conversa que mantínhamos há pelo menos 15 minutos. Ou pelo menos a conversa que ela mantinha, pois a minha dor de cabeça e cansaço já não me permitiam trocar muitas palavras com o loiro. 

"Esquece, tu não estás." ele murmura antes que possa responder. 

Uma senhora sai com os seus dois filhos das únicas cadeiras livres próximas de nós e rapidamente me sento, assim como Joseph que apesar de não aparentar estar tão cansado como eu,  suspira de alívio por deixar as suas pernas cederem. 

Durante os últimos dois dias, tínhamos sido praticamente obrigados a ir para o conservatório todas as manhãs devido ou a audições conjuntas, ou aulas marcadas à última da hora e mesmo sem sabermos o motivo de todo o secretismo da situação, continuávamos a ser avisados que todo o esforço iria valer a pena e que o futuro ia ser brilhante para nós. 

"Mas o que estavas a dizer?" pergunto, apoiando a cabeça num dos cotovelos. 

Joseph parece  ficar satisfeito com a minha intervenção por isso facilmente retoma o ânimo anterior. 

"O teu namorado outro dia não parecia ser muito... amigável? Achei que ia morrer no passeio quando ele te viu comigo." 

Gargalho ligeiramente, imaginando a expressão carrancuda de Calum dentro do carro que até a mim me assustou no momento, há alguns dias atrás. A possibilidade de alguém poder vê-lo como uma pessoa antipática não faz muito sentido no meu mundo a visto que o rapaz é uma das pessoas mais animadas e amáveis de sempre, mesmo quando é regularmente sarcástico ou inconvenientemente direto. Calum é sociável e na maioria do tempo bastante engraçado, o que leva a que toda a gente goste dele de uma maneira ou outra, com aquele seu enorme sorriso, atrevimento e felicidade genuína que me cativa desde o primeiro momento. 

"Ele não é nada assim." um enorme sorriso cresce nos meus lábios só por pensar no rapaz e em tudo o que ele me faz sentir. "Acredita. Talvez tenhas de o conhecer noutras circunstâncias." 

"Talvez." Joseph encolhe os ombros. 

"Ele to-"

A voz programada da senhora do metro interrompe-me, ecoando por todas as carruagens e ouço o nome do local onde devia sair falado da mesma maneira de sempre, com uma pronúncia australiana demasiado acentuada. 

"Bem, tenho de sair aqui." Anuncio, colocando o pesado saco de treino sobre o meu ombro. "Vêmo-nos amanhã?" 

"Sim, mais logo falamos." O sorriso perfeitamente alinhado de Joseph cresce nos seus lábios e um beijo é deixado numa das minhas bochechas quentes pelo rapaz antes de me dirigir para fora com um aceno rápido. 

O metro corre o seu caminho atrás de mim deixando uma brisa circular por entre as minhas roupas largas e o fato de ballet que ainda tinha vestido. A confusão de pessoas parece atacar-me brutalmente com o seu barulho e movimento mas após uns segundos de concentração percorro o meu caminho até á superfície com a mesma velocidade que o habitual. 

A cidade parece estar bastante movimentada hoje, talvez por ser sexta-feira e com alguma frequência sinto alguém a bater-me no ombro, mas não tenho tempo suficiente para poder reclamar ou reparar quem o fez. São 15 minutos a pé até casa, aos poucos deixo de ver tanta gente e passo a desviar-me para ruas com mais tranquilidade, consigo respirar melhor e até ouvir pássaros no ar, que cantam e tentam apoiar-se nos telhados nas casas menos altas e sem armadilhas. 

Hopeless || {C.H.}Where stories live. Discover now