Hopeless || {C.H.}

29.

|| Ruby ||

Permaneço com a mini-ventoinha que tinha comprado numa loja de tralha qualquer apontada contra as minhas bochechas, na tentativa de arrefecer a minha cara que se encontrava a uma temperatura muito superior à considerada saudável. Calum estava sentado ao meu lado no muro do paredão da praia, com as minhas pernas em cima as suas e comia um gelado de morango e nata, que não me parece ter assim tão bom aspeto como ele o faz parecer.

Na realidade a última semana tinha sido muito mais calma que o habitual na minha vida. Passara praticamente todos os dias com Calum, no cinema, na sua casa, no meu apartamento ou até mesmo na praia onde viemos hoje. Sempre que acordava e repetia para mim mesma que não ia estabelecer comunicação com o rapaz de olhos rasgados, ele tratava de o fazer, mandando-me uma mensagem.

"Queres?" Calum pergunta, apontando o gelado cor-de-rosa meio derretido na minha direção e respondo negativamente com a cabeça. Não tinha muita fome.

Hoje o dia estava particularmente quente, fazendo com que o ar quase se tornasse irrespirável para qualquer ser humano sem capacidades superpoderosas a viver em Sidney, e tudo a piorar para mim, Ruby Granger, a rapariga branca que não suportava esta tempteratura estúpida e impossível de controlar.

"Preciso de falar contigo Ruby, é uma coisa importante." ouço novamente a sua voz, desta vez num tom diferente e levanto-me, colocando as pernas á chinês de modo a ficar de frente para si. A boca de Calum estava ligeiramente suja do gelado de morango agora terminado, dando-lhe um ar adorável e não consigo evitar sorrir estupidamente.

"Tens a boca suja idiota."

"Limpa-me."

"Ew, não! Não és nenhum bebê!"

Antes que tenha possibilidade de protestar sou agarrada contra o seu peito, sendo despenteada pelas suas enormes mãos que entram nos meus cabelos loiros facilmente e me colocam o cabelo num repleto ninho de ratos. Ele só podia estar a gozar com a minha cara...

"És tão estúpido!" grito afastando-me "Não tinhas necessidade nenhuma de fazer essa merda."

Calum ri, como se houvesse algum tipo de piada na situação e tenho vontade de o esbofetear ou mandar-lhe uma sapatilha para o meio da cara, mas controlo-a para mim. E, ao invés de me afastar quando ele me volta a agarrar, deixo-me ser puxada para ainda mais junto de si, praticamente juntando as nossas faces sem distância entre elas. Eu não conseguia resistir-lhe, não conseguia simplesmente agarrar nas suas mãos e tirá-las das minhas bochechas macias, não conseguia fazer nada para evitar ele controlar parte dos meus movientos e isso provocava algo dentro de mim que preferia evitar.

"Estava a falar a sério quando disse que precisávamos de conversar." Ele volta a dizer, mas desta vez um pouco mais baixo.

"Se começares com as merdas de que me ter tentando a-"

"Não é nada disso Ruby."

Respiro fundo.

"Então o que é?"

As minhas mãos são agarradas pelas suas lentamente e aprecio o toque que tanto parecia uma coisa de outro mundo para os meus olhos. Eu adorava quando Calum agarrava nas minhas mãos desta forma.

"É uma coisa séria..." Ele começa "e eu não sei qual vai ser a tua reação, mas por favor, tenta que seja boa."

"Diz."

O rapaz a minha frente expira e inspira fundo, tal como se me estivesse prestes a dar a notícia mais bombástica do mundo e permaneço calada, apenas à espera para receber o que iria sair dos seus carnudos e rosados lábios. Não consigo ter a mínima ideia do assunto que possa ser, visto que tudo parecer estar pacífico entre nós neste momento e por isso aguardo, ansiosa que a nossa conversa não envolva nenhuma rapariga ou falta de sentimentos.