6.

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|| Ruby ||

"Então Ruby, fala-me um pouco de ti..." Calum murmura enquanto se aproxima ainda mais de mim e tento mais uma vez afastar-me, mas já estou na borda do passeio. A nossa distância quase nula aterrorizava-me e conseguia sentir o seu ombro a roçar no meu de segundo a segundo aleatoriamente, provocando arrepios, que me esforçava ao máximo por controlar, dentro de todas as células do meu corpo.

"Eu não tenho muito para falar." Digo encolhendo os ombros com indiferença mas enumero na minha cabeça todas as coisas interessantes sobre mim que podia dizer ao rapaz que tentava cativar a minha atenção. Não haviam coisas realmente boas sobre mim... todo o meu passado era trágico, a minha vida era uma merda e a única pessoa que podia considerar amiga no planeta terra era uma rapariga um pouco lunática, e com demasiada vontade para festas, com quem tinha de dividir o meu minúsculo apartamento.

"oh, claro que tens.. quer dizer, pareces uma pessoa que realmente esconde algo dentro de si mesma."

Sorrio de canto, mais uma vez, e uma sensação de dor enche o meu peito com o ato meio forçado para demonstrar felicidade. Eu não estava realmente a sorrir, e se estava, a sensação não era tão agradável como costumava ser há uns anos atrás.

"Se são segredos são para manterem-se assim... Não esperas que vá contar a minha vida a um desconhecido que conheci numa discoteca e que me pode violar, ou achas isso uma atitude consciente?" gozo, ainda com o pequenino sorriso, e recebo um leve encontrão que me faz desequilibrar sem oportunidade para o contrário.

"Eu não te vou violar." Calum meio que grita mostrando-me a sua língua como uma criança e aprecio o quão adorável o rapaz fica por meros segundos, após isso tento afastar estes pensamentos da minha cabeça. Estavam a matar-me, a descolar uma ferida que já estava há demasiados anos curada dentro de mim, a atracção real por alguém, algo que podia ser fatal na minha vida se não o soubesse controlar.

"E que tal tu falares-me de ti, Calum Hood?" faço questão de reforçar o "tu" para retirar a atenção de cima de mim.

"Podemos ambos admitir que estas conversas não tem fundamento." Concordo encarando-o. "É obvio que nunca vamos dizer coisas interessantes sobre nós mesmos num momento ligeiramente constrangedor como este."

Same same same. A minha consciência grita dentro de mim e acho que pela primeira vez, concordo totalmente com Calum. Eu nunca iria falar de mim a serio quando me faziam uma pergunta ou mesmo uma ordem tão não criativa como apenas: fala-me de ti. E acho que ambos ficamos a pensar no assunto durante os próximos minutos.

Ajeito a minha mala no ombro, que começava a ficar dorido e forço-me a parar o passo quando uma grande mão envolve o meu pulso de uma só vez provocando ondas de calor por todo o meu corpo. Eu não queria que isto acontecesse, não queria sentimentos nem sensações por um estranho como estas dentro de mim, e cada vez que tentava afastar o Calum na minha cabeça, só acabávamos por ficar mais próximos.

"É aqui, anda." A sua voz suave sussurra mesmo que estejamos sozinhos na rua e limito-me a segui-lo contando os meus passos que eram o dobro dos do rapaz.

A rua começa a ficar mais escura a cada metro de andamos. Não gosto do calor que a sua mão à volta do meu pulso provoca mas o toque da-me segurança para a ausência de luzes nas ruas finas em que me tinha metido. Não consigo perceber como é que o Calum se orienta virando à direita e seguidamente à esquerda enquanto eu me limito a fechar os olhos com vontade de recuar às ruas iluminadas em que nos encontrávamos antes, o escuro provocava-me pânico e, apesar de ser irónico, fechava os olhos nestas situações pois era a única maneira que tinha de me acalmar.

Hopeless || {C.H.}Where stories live. Discover now