15.

320 19 0
                                    

|| Ruby ||

Estava bem. Por muito que me custasse acreditar, eu sentia-me satisfeita por uns meros minutos ao lado do rapaz de cabelos negros que conduzia concentrado. Quase conseguia esquecer as cicatrizes que marcavam os meus braços, a merda de vida que tinha e toda a loucura que ter aceitado isto tinha sido. Mesmo que eu praticamente não conhecesse Calum, ou pelo menos não sabia muitos pormenores da sua vida, conseguia prever um futuro minimamente melhor, rezava para que esta amizade me fizesse bem ou caso contrário era o final de tudo.

"Onde vamos?" Pergunto assim que ouço o motor do carro parar de trabalhar. Não tinha bem a certeza de onde estávamos, mas sinceramente não era a cidadã de Sidney mais informada sobre o local onde morava.

"Comer." É a única resposta que recebo.

Um olhar reprovador é lançado a Calum por mim e este abre mais o sorriso, exibindo felicidade ao ver que eu nao recebera a resposta que procurava.

"Mas onde?" Volto a perguntar.

"Surpresa."

Não poderia expressar o quanto odeio surpresas. São inesperadas e maioritariamente despropositadas, se não gostamos de alguma surpresa temos que fingir que gostamos apenas por ter sido feita em segredo, ou caso contrário era má educação. Não percebo o objetivo que esconder algo por uns dias, horas ou minutos. Algo que vai acabar por ser descoberto.

"Anda." Calum ordena abrindo a minha porta após passar para o meu lado do exterior e sorrio com o cavalheirismo do rapaz.

"Obrigada."

Andamos alguns metros em direção ao que me parece ser uma praia e as minhas evidências são confirmadas assim que ouço o som relaxante do mar que faz alguma tensão desaparecer automaticamente do meu corpo. Fecho os olhos por alguns segundos e inspiro o som que me invade os ouvidos pacificamente. Eu adorava tanto isto. Fazia-me lembrar os meus pais e a minha irmã, as nossas tardes na areia até fazermos um concurso para sermos os últimos a sair do local, mesmo que isso implicasse sairmos da praia à noite. Os castelos de areia que fazíamos, os concursos em que participávamos e a cima de tudo o surf. Os meus pais tinham-se conhecido pelo surf, numa competição, e desde aí o seu amor nunca tinha morrido.

. . . .

"Bizzie! Anda daí! O pai já está a nossa espera." Ouço a voz de Olívia chamar-me da varanda e apresso-me a pegar na prancha já com cera, demasiado grande para mim. Mas eu tinha que conseguir transporta-la ou então ia parecer um franguinho ao pé da minha irmã.

Corro o mais rápido que posso até junto deles na praia e consigo ver a mãe já preparada com a máquina de filmar junto ao mar para guardar todas as nossas quedas e vitórias. Era a primeira vez que íamos surfar a serio.

"Finalmente amor! Estava a ver que não!" O meu pai diz deixando um beijo doce na minha bochecha e sorrio. Estava tão feliz.

"Vá lá meninas!" A mãe chama, pondo a câmara em ação.

"Boa sorte fraquinha." Olívia diz com um sorriso trocista e lanço-lhe a língua fazendo-a rir.

"Um...dois...três..."

Tanto eu como ela agarramos nas nossas pranchas correndo o mais rápido possível para a água em busca da melhor onda e da melhor pontuação. O pai era o nosso júri e era ele que ia anunciar qual ia ser a grande vencedora do campeonato nacional da família Granger. Se ganhasse isto, a Olívia tinha de fazer a minha cama todos os dias durante 2 meses, e se perdesse tinha eu que limpar todo o quarto durante 1 mês.

Não tinha sido uma boa aposta mas estava confiante. O mar gostava de mim.

. . . .

Hopeless || {C.H.}Where stories live. Discover now