Hopeless || {C.H.}

40.

|| Ruby ||

2 dias passaram desde a nossa chegada à tão conhecida por nós, cidade de Sidney. No entanto, nada está como antes da nossa partida para o Reino Unido, tal como se aquela viajem tivesse virado a minha vida ao contrário, sem me deixar outra alternativa se não tentar sobreviver as diferenças que agora encarava no dia-a-dia.

Faltavam apenas alguns dias para o Natal e neste momento não conseguia planear passar esta quadra tão especial com alguém. Abigail recusava-se a falar comigo desde o momento em que discutimos no quarto e todas as tentativas de reconciliação da minha parte eram falhadas miseravelmente, levando-me a ficar cada vez mais pessimista quanto ao futuro da nossa relação. Ainda para mais, ela não dormira em casa nos últimos dias e tinha conhecimento que não estava mais com Ashton, coisa que me preocupava.

Acabo de arranjar os últimos cabelos soltos do meu coque e verifico se tenho tudo o que necessito na mala, antes de me dirigir até ao autocarro que me levaria ao conservatório. A imagem que visualizo no velho espelho da casa de banho não é a melhor, podendo ver o quão inchados e vermelhos os meus olhos se encontravam do cansaço, tal como se não dormisse há vários dias. No entanto, a mesma não é algo que não estivesse à espera visto que mentalmente me encontro exatamente no mesmo estado em que agora posso observar, físico.

Tranco a porta atrás de mim e decido deixar uma das minhas chaves em baixo do tapete sujo, para o caso de Abigail querer entrar em casa ao saber que não me irei encontrar aqui. Em 15 minutos estou no exato local da paragem de metro mais perto do apartamento e este não tarda muito em chiar com os travões, permitindo todos os habitantes inquietos e preocupados tomarem posições dentro do transporte que os iria levar até aos postos de trabalho ou mesmo algum local turístico.

Na verdade, conseguia-se ter um enorme panorama da situação de Sindey apenas pela observação da minha carruagem cheia de pessoas e germes. Haviam crianças, trabalhadores, adolescentes e até mesmo idosos de várias etnias que falavam ou simplesmente descontraiam com os headphones colocados no volume máximo, no caso dos mais novos. Todos têm um fim, todos querem ir para um determinado sítio e todos parecem nem aperceber-de do movimento que ocorre à sua volta. Exceto eu.

"Ruby?" Reconheço uma voz masculina que pronúncia o meu nome atrás de mim, por entre toda a confusão, e posso jurar que sinto o meu coração a parar de um segundo para o outro. Não podia ser quem eu estava a pensar.

Ainda com um pouco de receio do que os meus olhos pudessem ver, rodo sobre os meus calcanhares apoiada à barra central do metro repleta de germes e observo o seu esguio corpo a dirigir-se até mim, fazendo-me pestanejar uma centena de vezes apenas para me certificar de que a imagem era realmente verdadeira.

"Joseph." Suspiro, com a minha respiração talvez um pouco demasiado irregular assim que o rapaz se encontra a menos de um metro de mim.

"Oh meu Deus, que saudades!"

Os braços do rapaz rodeiam a minha cintura com facilidade, visto que a sua altura de sobrepõe muito à minha e sinto o seu perfume tão característico entrar pelas minhas narinas encostadas à sua t-shirt, dando-me uma certa sensação de conforto e de nostalgia. Ninguém no mundo possuía o aroma fresco e a menta tão característico dele e presencia-lo tão perto de mim dava-me uma certa sensação de fraqueza.

"T-tu voltaste... Porquê?" Pergunto, ainda perplexa com toda a situação.

Joseph fora um dos únicos verdadeiros amigos que possuí ao longo da minha adolescência, no entanto, há pouco mais de dois anos atrás, este viu-se obrigado a sair da cidade de Sidney com a sua mãe por questões de trabalho e ambos foram viver para Paris, abandonando o país. Além de eu e ele partilharmos uma grave perda, visto que Joseph também ficara sem o seu pai ainda muito novo, ambos andávamos na mesma turma da escola e do conservatório, podendo considerar o rapaz uma das minhas maiores companhias além de Abigail que fazia sempre questão de tentar incorporar mais alguém no nosso pequeno grupo, sem resultado.