26.

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|| Ruby ||

Assimque o ferro de "segurança" fecha, apertando contra as pernas de toda a gente na montanha-russa, percebo que corro um perigo de vida muito superior ao de todas estas pessoas pois o banco era, sem dúvida alguma, para uma pessoa com o dobro das minhas pernas. Os meus membros magros não chegavam a estar nem um pouco presos, devido a não terem gordura suficiente e agarro com toda a força que contenho as mãos ao inox, tentando evitar a minha morte rápida. Ainda não acreditava que tinha perdido a merda da aposta.

"São só 5 minutos, ok Ruby? Não vai acontecer nada!" Calum diz entre gargalhadas colocando um dos seus musculosos braços sobre os meus ombros. Ainda penso em gritar-lhe para se proteger e agarrar com as duas mãos, mas decido não o fazer. Ele merecia morrer por ter ganho o jogo de atirar argolas para garrafas e me fazer estar aqui, neste caminho para o inferno.

Supostamente, eu tinha a certeza que Calum iria facilmente perder, pois o jogo estava feito para fazer toda a gente perder. Mas, pelo milagre dos céus, o senhor da barraca colorida decidiu fazer o meu amigo ganhar e com isso fui obrigada a andar na merda da montanha-russa.

A minha vida estava amaldiçoada.

"A sério Calum, eu quero ir embora, e não aguento isto." Digo, quase começando a chorar ao observar todo o caminho que íamos fazer dentro dos carris.

"Tu perdeste a aposta, agora temos de andar." O seu sorriso orgulhoso faz-me querer partir-lhe a boca em pedacinhos e logo a seguir esmagar todos os seus membros mas limito-me a dar-lhe um murro no abdómen tonificado, que acaba por ficar sem efeito nenhum.

"Mas eu não q-" ia preparar-me para gritar até à exaustão mas o som das correntes e o movimento do local onde estava sentada dão-me a evidência de que a "maravilhosa" viajem estava a começar. Oh não.

Ao início não parece tão mau como imaginara, apenas subimos muito a uma velocidade aceitável mas que não me intimida, principalmente por não ter medo de alturas. A pior parte vem quando uma curva, que não percebo de onde aparece, nos faz virar e aí passamos a descer, tal como se estivéssemos a entrar para o inferno, tão rápido que não tenho força suficiente para gritar.
Como é que era possível alguém gostar disto? As minhas pernas balançavam sempre que fazíamos um luping ou nos virávamos ao contrario violentamente e enquanto toda a gente gritava de adrenalina, eu gritava por estar a chorar como uma doida.

Quando tudo abranda e o mundo parece ficar normal outra vez apercebo-me que estou agarrada a Calum com toda a minha força, mas depressa me desfaço do apego. Corro para fora da distância de segurança e uma sensação estranha de que a comida do almoço começara a subir até a minha garganta aparece, quase como se estivesse prestes a vomitar.

"Então não foi diverti-" Calum não tem tempo de acabar a frase, interrompendo as suas palavras, assustado com as suas sapatilhas sujas, repletas de vômito. O meu vômito.

[...]

A minha gargalhada ecoa por toda a rua assim que observo os maravilhosos sapatos que Calum tinha comprado na sapataria mais próxima do sítio onde nos encontrávamos e uma expressão desgostosa estampa-se na sua face ao ver a minha reação.

Não sei se aquelas sapatos eram se quer autorizados a ser vendidos a alguém da nossa idade, devido ao modelo que mais parecia de um idoso, e adoro a maneira como encaixam no resto da roupa preta do rapaz. Se não o conhecesse pensaria que Calum era um lunático, ou então não estava no seu preciso juízo quando saiu de casa com aquilo calçado.

"Ficas um amor!" Digo, obviamente referindo-me à sua imagem cômica e não consigo parar de rir fazendo-o ficar ainda mais irritado com a minha atitude. Se eu fosse uma pessoa normal iria estar com um peso na consciência ao ter sujado as sua sapatilhas favoritas, mas nada nesta situação me fazia arrepender de ter vomitado, ainda mais depois de ter sido obrigada a andar na montanha-russa, por ele.

Hopeless || {C.H.}Where stories live. Discover now