5.

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|| Calum ||

Um calor abrasador interfere com os meus braços nus enquanto caminho sozinho pelo passeio em direção ao trabalho da Ruby e limpo as mãos mais uma vez às minhas calças pretas. Estava demasiado suado mesmo com o calor que envolvia o ar na noite estrelada.

Já conseguia observar a velha tabuleta que tinha escrita em néon bordô e vermelho "wezleys" a alguns metros de mim. Ninguém punha materiais daquele tipo em cartazes nem em cafés hoje em dia, mas não deixava de ser engraçada a forma como as luzes fundiam de três em três segundos, demasiado velhas para aguentar com a capacidade da corrente elétrica.

Não sabia o que esperar deste encontro. Recebi imensos concelhos que não penso serem muito úteis, principalmente no Ashton, e a cada segundo que me aproximo sinto o meu coração a bater mais depressa, como se conseguisse prever que algo interessante fosse acontecer. Eu não conhecia a Ruby, não muito mais além do facto dançar, fumar e não ser muito extrovertida. E isso já me satisfazia.

O meu plano era basicamente tentar fazê-la rir e descobrir o máximo de coisas sobre ela, tentar fazer com que a sua amiga se quisesse encontrar com os 5 seconds of summer, e, consequentemente encontrar-se comigo e assim eu podia estar com a Ruby e talvez fossemos felizes para sempre. Quem sabe.

Respiro fundo quando me vejo pelo vidro da porta e empurro esta, sentido logo uma lufada de ar condicionado a embater-me na cara. Um choque de temperatura nunca muito agradável. Não estavam muitas pessoas no local, nada que me espantasse para a hora e o dia da semana, apenas alguns jovens e adultos concentrados nos seus mundos e cervejas com um ar não muito senil ou sóbrio, sem reparar na espantosa rapariga que se encontra do outro lado do alto balcão.

A Ruby.

Ela estava aborrecida, conseguia ver isso pelos seus olhos escuros e o tique de ver as horas de 3 em 3 segundos, como se o tempo demorasse demasiado a passar. Tinha um pequeno avental preto, onde se supõe que tenha as moedas guardadas e uma camisa branca e justa aperta o seu peito fazendo-me direcionar o meu olhar para este.

Aceno-lhe, quando os meus olhos encontram os seus e um arrepio percorre a minha espinha à medida que me vou aproximando do seu corpo por entre as mesas. Ela já era linda à noite, mas conseguia ser ainda 50 vezes mais de dia.

"Olá." Um enorme sorriso aparece na minha cara naturalmente enquanto me sento num dos bancos vermelhos de pele rasgada à sua frente e acomodo-me o mais confortável de consigo no momento. Mas os bancos não ajudam.

"Eu..uh.. Olá." A Ruby parece envergonhada, para meu espanto, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha de uma forma despropositadamente sensual e tenho uma visão privilegiada da sua orelha com mais furos e brincos que o normal. Ficava-lhe extremamente bem.

"Desculpa a demora, mas tive de vir a pé e ainda demora um pouco desde a minha casa."

"Eu estava a trabalhar, nem reparei nas horas." Ela fala limpando o balcão de madeira que nos separava, que por sinal já estava limpo, e tenho vontade de lhe dar um beijo na face pelo menos para a cumprimentar razoavelmente mas sinto que a Ruby quer manter a distancia não perigosa entre nós.

"Por isso, sim, isto é o sítio merdoso onde trabalho." Ela diz levantando os braços como mostrando-me o local e rio ligeiramente olhando em volta. Era um sítio antigo, velho e sem pessoas interessantes para atender porque a maioria delas estava sem duvida com demasiado álcool no sangue. Uma rapariga não devia trabalhar aqui, muito menos alguém tão delicado como a Ruby.

Um cliente chama-a com um assobio desagradável e o seu corpo apressa-se a ir ter com o jovem de provavelmente 25 ou 26 anos sentado numa das mesas mais pequenas depois de me dar um pequeníssimo sorriso. Vejo-os a falar enquanto ela anota alguma coisa com uma letra estranha no minúsculo bloco de notas quadriculado que está na sua mão suja e logo a seguir a Ruby vira-se fazendo com que o ordinário lambesse os lábios a apreciar o seu rabo. Tenho vontade de espanca-lo, de começar a gritar com ele e dizer-lhe que ele tem mais do que idade para não ter esse tipo de atitude porca mas esforço-me para guardar tudo dentro de mim. A Ruby não ia gostar que fizesse alguma cena, pelo menos parecia uma pessoa discreta e ela não era minha namorada, pelo menos para já.

Hopeless || {C.H.}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora