Capítulo 54

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Sempre achei que, quando estávamos prontos para partir, toda a nossa vida passava diante de nossos olhos. Como se fosse uma despedida, mas na verdade, era mais uma tortura, ver todos que amamos e não poder mais estar na presença deles. Porém, não é isso que importa no momento, não entendo por que não posso partir, não entendo o que ainda me segura nesse mundo, será que faltou mais alguma pendencia? Deve ser por esse motivo, mas qual? Há tantas pessoas chorando fora da sala que entrei, será que devo algo a alguma delas?

Depois que desmaiei, não fiquei preso na minha mente, como sempre. Estou fora de mim, talvez em forma de espirito ou algo assim. Quando sonhamos é assim, algo dentro de nós sai e fica passeando por ai, quando retorna,  ficamos nos sentindo estranhos e ao passar por aquele local do sonho, ou ver tais pessoas, achamos que aquilo já aconteceu, o famoso déja vu. Parece que alguma força sobrenatural, quer que eu assista minha morte, por isso meu corpo está na sala de cirurgia e estou aqui. Será que devo assistir a equipe tentando me trazer a vida com o desfibrilador ou ficar ouvindo as pessoas estranhas aqui fora, falando sobre mim?

— Por que ele fugiu do hospital de novo? — Uma menina loira, cabelo na altura dos ombros, no momento mais branca que o natural e lábios vermelhos de tanto chorar, perguntou entre lágrimas, encarando uma outra garota— Ele estava tão bem... Richard sabia que não poderia ter emoções fortes... O que ele estava fazendo ali? 

— Eu não sei ao certo... — A garota ruiva respondeu, elas pareciam ter a mesma idade e altura. Algo me dizia que eu conhecia elas, ou talvez tenha sonhado com elas, mas eu não lembrava — A ultima vez que falei com o Richard, ele disse que ia ver a mãe dele, antes dela viajar.

— E por que a mãe dele foi viajar, em um momento critico como esse?! — A loira perguntou irritada — Ela que deveria está do lado dele agora, não aquela estranha! Quem é ela, Marry?!

— Primeiro, baixe o tom de voz Sammy, estamos em um hospital! E veja lá como fala, ela não é uma estranha! É minha mãe e... — A ruiva respondeu chateada e ficou pensativa, como se estivesse decidindo algo — E... mãe do Richard também!

Interessante, as duas estranhas me conhecem e eu tenho aparentemente, duas mães. Eu deveria está mais surpreso, mas acredito que não seja a melhor reação pra ocasião. Pelo estado critico que estou, acho que eu já sabia tudo isso e foi apagado da minha mente, no momento que desmaiei. Parece que dessa vez, não vou acordar... Sinto que tenho algo importante pendente, será que tem a ver com as duas mulheres que são minha mãe? Enfim, não importa, vou ver como está a situação dentro da sala de cirurgia.

— Richard! Vamos, acorde! Você prometeu esperar até o outono, vamos, reaja! — O médico pediu, parece que me conhecia, mas usando o uniforme, mascara e tudo mais, era impossível vê-lo direito — Por favor... Não posso fazer a cirurgia agora... Reaja!

— Doutor Markson, o coração dele está diminuindo as batidas... Estamos quase sem pulso — Um dos enfermeiros informou e Markson mais uma vez usou o desfibrilador — Precisamos fazer a cirurgia Doutor...

— Não temos todo material ainda! Se eu fizer, ele ficará igual o outro rapaz... — Markson respondeu nervoso e vi uma lágrima descer por seu rosto — Richard, vamos, tente acordar, você não quer mais realizar seus sonhos?

— Doutor, ele vai morrer a qualquer segundo! Precisamos começar a cirurgia! — O enfermeiro pediu mais uma vez e Markson parecia não ouvir, estava concentrado em algo — Markson! 

— O que foi Gabriel?! — Ele gritou irritado — Eu preciso tentar mais um pouco! 

— Até quando?! Até ele ficar em coma também? Até perdemos mais uma vida, por causa do seu medo? — Gabriel gritou bravo — Não vou ficar assistindo você falhar novamente! Se não quer fazer a cirurgia, vou chamar quem consegue!

— Você acha que é só medo, de errar novamente e perder mais um paciente? Você acha que é por que uma cirurgia no cérebro é muito complicada pra mim? — Markson gritou segurando Gabriel pelos ombros — Eu prometi a aquele garoto, que enquanto eu estivesse vivo, ele também estaria! Vocês todos querem que eu arrisque mais uma cirurgia, sem o equipamento necessário, presente aqui?! Foi só culpa minha ter pedido o outro rapaz? Me responda Gabriel!

— Estávamos e estamos juntos, somos uma equipe... — Uma enfermeira respondeu cabisbaixa — Não somos culpados por tentar, Doutor. Sei que não temos o equipamento, mas se o senhor fez uma promessa ao rapaz, não acha que precisa fazer mais, do que estar fazendo por ele? Vamos perdê-lo Markson...

Markson olhava pra mim e para todos os enfermeiros na sala. Encarava o desfibrilador e encarava a máquina que mostrava as batidas do meu coração. Eu não conseguia entender por que eu não sentia nada por aquela cena, eu não desejava voltar pro meu corpo, algo me dizia que eu deveria apenas assistir, até onde tudo aquilo iria. Talvez por que eu não lembrava de nada e ninguém, por que eu não tinha sentimentos fortes o bastante para me manter vivo. Só realizar meus sonhos, não parecia ser o bastante, a mulher chorando e segurando minha mãe, não era suficiente, as garotas discutindo lá fora não era o que eu esperava... Será que eu estava esperando por alguém? 

— Onde está o garoto? — Uma voz estranha falou e me fez ir até o lado de fora da sala — Onde está meu filho? O que aconteceu?

— Sinto muito senhor Raul... — Sammy falou com a cabeça baixa e lágrimas caiam em suas pernas — Ele está em estado grave, não acorda e ninguém entende por que...

— Eu vou entrar então! Quero ver meu filho! — Raul falou desesperado. Meu pai parecia alguém do exercito, nunca pensei que veria um homem assim, com as emoções tão expostas. Ele era mais baixo que eu, mas tinha o corpo musculoso. Cabelos pretos, porém havia vários brancos entre eles — Ou alguém sai e me explica a situação do meu filho, ou eu entro!

— Não será preciso. Senhor Raul se acalme... — Uma enfermeira pediu, saindo da sala de cirurgia — Estou aqui para informa-lo. A situação do seu filho é gravíssima, precisamos da sua permissão, para dar inicio a uma cirurgia, mas devo avisar, é bem arriscada...

 — Arriscada quanto? Risco de morte? — Meu pai perguntou nervoso e a enfermeira apenas afirmou com a cabeça, incapaz de falar — Como deixaram chegar a esse ponto? Vocês não são profissionais? Se meu filho morrer, vocês vão junto! Entenderam?

— Que confusão toda é essa, Raul? — Uma mulher de cabelos castanhos como as folhas de outono, pele parda e o corpo parecia de modelo de revista, falou saindo da sala de cirurgia — E agora, você resolveu exercer o papel de pai dele?

— Eu quem o diga, senhorita Marília! O que faz aqui? Por que deixaram uma estranha entrar com meu filho? — Meu pai perguntou sério encarando a enfermeira, como se pedisse respostas, apontando pra Marília — Vejo que esse hospital é bem irresponsável! 

— Ela disse que era mãe dele senhor... — A enfermeira respondeu sem jeito — Na pressa e com a urgência do momento, apenas entramos na sala de cirurgia e começamos os procedimentos para ajudar o paciente.

— Chamarei a mãe verdadeira dele! — Meu pai respondeu e senti pela primeira vez, meu coração bater, tão forte que doeu — E você, não se atreva a entrar novamente, naquela sala, Marília!

Marília ficou muito irritada, mas resolveu obedecer meu pai e o seguiu para algum lugar. Eu queria ir atrás deles, porém senti, que deveria voltar para a sala de cirurgia. Eu tinha que retornar a vida, mas eu não estava sentindo nenhuma emoção, como se nada importasse, como se eu precisasse mesmo ver minha outra mãe, para ter forças e voltar a vida. A dor no meu coração estava aumentando... Será que isso significava que ele estava parando de vez ou batendo novamente como antes? Dessa vez era meu fim ou apenas um novo começo?

Aquela mensagem que todo mundo ama kkkk Ah gente, eu não consigo salvar nosso bebê Richard, mas também não conseguir deixar ele partir. Continuem acompanhando e torcendo pela melhor escolha. Votem, comentem e até o próximo capítulo ❤

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