Capítulo 19

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Entre ser teimoso e obediente, eu sempre escolhi o obvio, afinal, tendo a mãe que eu tinha, teimosia era um erro que você não gostaria de cometer, se sua vida dependesse disso. Sempre que eu chegava no minimo perto, de demonstrar contrariedade de algo que minha mãe falava, já começava uma grande discussão e eu sentia minha cabeça começando a latejar... Depois disso todos já sabem o que vem pela frente. Então sempre preferi obedecer do que teimar.

Marry por outro lado, parece ser totalmente o oposto de mim. Seria uma grande dor de cabeça, literalmente, ir contra ela. Mas por uma vez na vida, eu decidi que seria diferente do que sempre fui, quando fugi do hospital, essa foi minha decisão, então era hora de ser o senhor teimoso! Eu só iria embora se Marry me contasse mais sobre a Teresa, embora não fosse fácil arrancar alguma informação dela, eu preciso descobrir por que Teresa esta aqui sozinha, eu sinto que devo ajudar ela.

— Sinto muito, mas eu não vou embora — falei já sentindo uma onda de raiva e revolta vindo sobre mim — Eu até que gostei de ficar aqui...

— E você acha que tem essa escolha? — Marry perguntou irritada — Você só deve está maluco em achar que vai ficar aqui, só por que quer! Sinta-se com sorte por eu lhe dar essa oportunidade de ir, por que eu poderia muito bem pedir pra policia lhe buscar!

— Acha que vai me chantagear pra sempre?! — Perguntei a enfrentando com o olhar serio. Eu estava cansado daquela ignorância dela — Sabemos que você não irá chamar a policia coisa nenhuma, por que se eles vierem, te levam também pelas varias multas de velocidade que você deve ter!

Se ela achar uma resposta melhor que essa minha, eu estava perdido. Por que pelo tanto que a irritei, em menos de 5 minutos eu acabaria voltando pro hospital. Sinceramente, Marry não era uma pessoa tão difícil de lhe dar, eu que não queria enfrentar ela para poupar meus neurônios. Se eu fosse longe de mais com minhas emoções, seria meu fim. Talvez fosse melhor desistir daquilo e ir embora como ela pediu...

— Aff! Certo, você fica! — Ela falou virando os olhos de tédio, me fazendo soltar todo o ar que eu estava segurando de nervoso — Mas só vou te contar tudo a noite... Não é bom que a Teresa nos escute, vamos esperar ela dormir!

— Ótimo! — Falei com um grande sorriso no rosto estendendo a mão para Marry — Que tal sermos amigo então? 

— Não força a barra! — A ruiva bateu na minha mão me rejeitando e me empurrou para fora da cozinha, mas percebi que arranquei um sorriso dela — Vai chamar a Teresa, vamos almoçar!

Subi as escadas e fiz o que Marry pediu. Chegando no quarto de Teresa, empurrei a porta devagar para não assusta-la. Mas ela não estava dormindo, havia uma cadeira de balanço virada para a janela onde ela se movia para frente e para trás, enquanto tricotava quase metade de uma blusa. Era uma cena linda, ela estava tranquila em um mundo longe dali, sorrindo sempre que finaliza mais alguns pontos da blusa. Eu não lembrava da minha avô, mas eu gostaria que as lembranças que eu tivesse dela, fossem como aquela.

— Dona Teresa? — Chamei batendo na porta para ter a atenção dela — Melhor almoçar não acha?

— Por que só me chama assim? Jovens quando crescem não chamam mais vó? — Ela perguntou fingindo está chateada — Eu já vou indo, me ajuda aqui levantar.

— Desculpa... — Falei sem jeito, afinal, ela estava certa, mas eu não era neto de verdade, como eu conseguiria chama-la de vô? — Já pensou onde será nosso passeio amanhã?

— Zoológico! — Ela falou animada levantando os braços como se tivesse 5 anos — Quero ver os pinguins!

Nossa, quanto tempo passei sem sair de casa? Por aqui tem zoológico? Essa é nova pra mim... Será que eu aguentaria um dia de emoção desses? Se bem que, talvez eu tenha ido quando criança e só esqueci. Há tantas memórias que eu gostaria de lembrar... Se duvidar eu fui a lua e não sei, mas isso é o de menos, já aceitei o fato que nunca vou recuperar nenhuma lembrança do meu passado ou até mesmo de alguns dias atrás. 

Eu quero mesmo é lembrar, meu maior desejo é não ser lembrado como apenas o garoto que morreu por esquecer como ficar vivo... Minha vida inteira eu passei por isso, todos me dizendo que eu iria esquecer como permanecer vivo, que um dia eu iria esquecer como respirar, como acordar... Tanto que todas as vezes que fui entubado, por causa da minha respiração, minha vontade foi morrer de vez e cumprir o que todos pensam sobre mim. 

Tudo mudou quando fiz 15 anos e minha mãe me fazer prometer que nunca mais eu desistiria da minha vida, que por mais difícil que fosse, eu lutaria, eu daria um jeito de ficar vivo. É por isso que sempre ao dormir, quando vou ao mundo dos sonhos, eu brigo contra mim mesmo, contra minha mente, toda noite uma nova luta para eu cumprir meu único propósito de vida... Não esquecer que devo permanecer vivo, não por mim, mas por minha mãe.

— Terra para nerd estranho, responda! — Marry falou estralando os dedos na frente do meu rosto me fazendo voltar pra realidade — Você tem algum problema no cérebro não é?

— Talvez... — Falei sorrindo — Mas não como a senhorita chatinha imagina.

— Você me chamou de que? — Ela falou se irritando e eu corri, com ela atrás de mim querendo me bater — Arg! Você me tira do sério!

— No momento é meu único divertimento! — Falei rindo ao redor da mesa e ela tentando me pegar — Faz tempo que eu não me sinto assim!

— Assim como? — Ela perguntou desistindo de me bater e pegando o prato para por comida — Você é estranho sabia?

— Nada não! — Falei rindo — Estou morrendo de fome!

— E olha que comeu 12 rosquinhas inteiras! — Dona Teresa riu e se serviu — Lasanha, eu amo lasanha! Faz anos que não como...

— Sua preferida... — Marry falou com um sorriso confortador e se aproximou de mim para cochichar algo — Ela comeu 2 dias atrás, mas não lembra...

— Hoje é o dia mais feliz da minha vida... — Dona Tetê falou com algumas lágrimas nos olhos — Estou comendo lasanha e meu amado neto está aqui novamente... Eu não poderia querer mais que isso!

— Aproveite dona... Digo... — Falei pensativo. Eu não sabia se eu poderia fazer aquilo, mas só daquela vez por uma causa maior, eu decidi fazer o que parecia errado. Minhas próximas palavras saíram da forma mais verdadeira possível — Aproveite vovó...

Marry ficou calada, não sei se ela tinha aprovado, mas dona Teresa colocou um grande sorriso no rosto e continuo comendo sua lasanha. Todos comemos em silencio, aquele momento parecia precioso de mais para falar mais alguma coisa. Depois que terminamos, Tetê voltou para o quarto e Marry foi lavar os pratos. Eu fiquei na sala, deitado no sofá, pensativo. 

Eu sabia bem como a Tetê se sentia... Se animar por tão pouco, por ter uma memória tão curta. Eu não poderia ir embora dali, não mais... Espero que minha mãe me perdoe, que não sofra tanto, que dê tempo eu fazer o tratamento, se é que existe algum, quando eu voltar... Mas no momento, eu queria ficar ali, eu havia achado um novo objetivo, uma nova missão. Fazer uma velhinha feliz...

Oonwt meu deuso, Richard é o mais fofinho ❤ Mais um capítulo e logo terá mais! Aproveitem, comentem e não esqueçam da estrelinha do Votinho.

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now