Capítulo 29

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Uma dica para pessoas loucas como Sammy, ou para aqueles que acompanham alguém com um apetite voraz como o dela, jamais em hipótese alguma, peçam o dobro da comida. Se forem pedir tanta comida como pedimos, aconselho a dividir entre os dois. Ou deixe que seu ou sua acompanhante coma loucamente, tudo bem, não é vergonhoso dizer que você aguenta apenas um prato. Assim, você mantém um paz entre você e seu estomago.

Sammy e eu voltamos para o hospital, como esperávamos, recebi vários sermões do Doutor e infelizmente, minha mãe já havia ido embora. O enjoo havia aumentado, me despedi de Sammy e corri para o banheiro. Fiquei horas sentado e a cada 15 minutos, eu vomitava um pouco do que comi anteriormente. Que desperdício... Fiquei triste quando enfim voltei para o quarto, estava com fome e por culpa da minha fugida, deixaram apenas um copo de leite, 1 biscoito e uma maça para eu comer. 

— Senhor Richard? — Uma enfermeira perguntou entrando no meu quarto e confirmei acenando com a cabeça que era eu — O Doutor pediu para trazer esses comprimidos aqui, vão te ajudar a passar o enjoo e vomito. 

— Obrigada! — Falei recebendo os comprimidos. Tirei um e bebi com um copo de água — Pronto.

Devolvi o restante e deitei. A enfermeira foi embora e mais uma vez fiquei sozinho, no tédio e com fome. O leite e o biscoito era integral, eu sei disso por que o médico deixou um bilhete, avisando que da próxima me deixaria sem comida, mesmo correndo o risco de ser demitido. E eu merecia isso, mas não me arrependia, afinal, eu nunca fui tão feliz como hoje. Ainda deitado resolvi começar a escrever tudo que eu ainda lembrava, assim eu leria depois quando esquecesse, notei algo dentro da minha bolsa e quando peguei, fiquei tão feliz que chorei. 

O pedaço de bolo que eu não tinha aguentado comer, estava ali, sorte que minha mãe já havia ido e a enfermeira não voltaria até as 18 horas. Aproveitei o leite que não tinha gosto de nada e bebi após comer o bolo, estava maravilhoso. Era diferente das rosquinhas, pelo menos aquele pedaço, era macio, derretia na língua, era além de doce, não sei se isso era possível, mas aquele bolo era e melhor comida já inventada no mundo todo. Ou uma das melhores, já que eu não comi muita coisa desse mundo, mas suponho que Sammy resolverá isso depois.

— Hora de visitar minha recente amiga e senhorita vulcão — Falei pulando da cama, queria saber que horas eram, mas meu celular havia descarregado, porém talvez não fosse tão tarde para uma visita — Adivinha quem chegou!

Entrei no quarto, mas estava vazio, provavelmente dona Teresa já tinha recebido alta. Esse é o lado triste de ter uma doença grave, você verá muitas pessoas indo embora e você sempre ficará pra trás. Por isso nunca quis vir pra cá... Minha mãe sempre tentava me convencer a ser internado e fazer algum tipo de tratamento, porém eu sempre soube que se eu viesse, isso aconteceria, eu ficaria sozinho boa parte do tempo.

— Richard? — Alguém falou e reconheci rapidamente a voz, me animando por ouvi-la — O que faz aqui? 

— Senhorita Vulcão! — Falei me virando animado, feliz por não ter a esquecido — Que bom que ainda está aqui! Onde está a Teresa?

— Fazendo novos exames — Marry falou entrando no quarto — Ainda estamos aqui, obvio. Vamos ficar por 3 meses, não se preocupe. Está carente é?

— Carente não, solitário... — Falei sem jeito — Não me julgue, oras! Vocês tem uma a outra, eu estou sem ninguém lá no meu quarto. É um tédio lá...

— Veja filme, vídeo, algo no celular... — Marry falou sem se importar comigo — Não tem Instagram? Facebook? Interage com alguém por alguma rede social, simples.

— Primeiro, não faço a minima ideia do que está falando, o que são essas coisas? — Perguntei curioso — Segundo, eu não interajo com pessoas, eu nunca tive amigos, não que eu lembre.

— Você não lembra de nada, deve ter amigos por ai ou tinha... — Marry falou ajeitando a cama de Teresa — Aliás, que ser nesse mundo não tem redes sociais? Você é um velho? Até alguns velhos tem pelos menos o Facebook ou um Whatsapp e você não tem nada...

— Tenho youtube? — Falei mostrando meu celular — Serve como essa tal de rede social?

— Você não é uma pessoa muito normal... — Marry falou me encarando assustada — Enfim... Eu te ajudaria se não desse tanto trabalho, mas pensando bem, você está melhor sem tudo isso. Essas coisas só trazem infelicidade, ultimamente só está servindo para espalhar ódio.

— Ah... Então não quero mesmo — Falei dando de ombros — Marry, me fala sobre você.

— Não! — Ela respondeu séria — Olha, se não tiver nada melhor para fazer, melhor voltar para seu quarto... Quanto mais lhe vejo, mas percebo que se parece com Ricardo e isso me incomoda.

— Por que? Ele não era uma boa pessoa? Ou não gostava dele? — Perguntei curioso, escolhendo bem as perguntas para não chateá-la — Aliás, eu anotei algumas coisas do que eu lembrava, mas esqueci outras, como foi mesmo o acidente do Ricardo?

— Não acha que está se intrometendo de mais na vida dos outros? Se bem que... Se eu não lhe falar você fará mais e mais perguntas não é? — Marry suspirou chateada, ela nunca tinha um humor mais animado, o que será que a tornou assim? — Ele era uma boa pessoa sim, na minha opinião, o melhor de todos, pois sempre ajudou quem precisava... Infelizmente, isso foi sua ruína, ele foi salvar um rapaz e um carro  atingiu ele.

— Nossa! — Falei espantado — Perdão perguntar novamente mas... O que aconteceu com a família dela? E a casa queimada, o que foi aquilo?

— Já disse, morreram — Marry falou batendo a mão na testa — É melhor contar logo ou você não me deixará em paz... Aquilo foi um acidente, não sei te explicar como, mas um bujão de gás explodiu e causou tudo. Para resumir, a casa ficou em chamas, o marido da Teresa tinha asma e inalou muita fumaça... Morreu na hora.

— E ela? Onde estava? — Perguntei nervoso — Minha mãe nunca me falou sobre esse acidente...

— Sua mãe não te conta muita coisa... — Marry falou séria e estranhei aquelas palavras dela, mas por hora ignorei — Ela estava fazendo compras comigo. Quando chegamos e vimos a situação, entramos em pânico, Teresa tem o coração fraco sabe? Logo ela desmaiou e quando soube sobre a morte do marido, ficou em choque...

— E foi assim que ela desenvolveu o Alzheimer? — Perguntei tentando entender a situação de Teresa — Tudo foi tão complicado para ela e sempre está sorrindo quando me vê.

— Houve muita coisa na vida dela até desenvolver a doença — Marry explicou pensativa — Não sei dizer se foi pela morte do filho com a esposa ou o coma do Ricardo...

— E como o filho dela morreu? — Perguntei aproveitando que Marry estava calma, mas prometi a mim mesmo que seria a ultima pergunta — Acidente também?

— Depois eu irei te visitar no seu quarto, é melhor você ir — Marry pediu e não abusei da boa vontade dela de falar comigo até agora — Teresa já vai voltar, ela precisa descansar. Até mais...

Me despedi de Marry e retornei para o quarto. Quando cheguei tive uma surpresa, alguém estava a minha espera e por algum motivo, não me senti nada confortável em vê-lo. Um homem estava de costas observando a janela, fiquei imaginando por que ele estava ali, afinal, o horário de visita já tinha acabado. Quem seria aquela pessoa? 

Hoje não estou bem. Estou triste como nunca... Tive tantos problemas, tanta dor, tanta angústia... Mas enfrentei tudo para postar esse capítulo. Espero que gostem. Até mais

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now