Capítulo 17

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Há vários motivos Pelo qual eu sempre fui uma boa pessoa. Um deles é nunca ter incomodado ninguém, outro é nunca ter mentido pra qualquer pessoa. Mas ultimamente eu venho quebrando muitas regras e Marry que já quebrou muitas, está tentando nesse momento fazer nós 2 quebrar mais algumas.

— Você vai sim! — Ela repetiu pela décima vez e eu continuei de braços cruzados negando — Uma mentirinha de nada, não fará mal a ninguém!

— Fará sim! Eu não vou mentir para uma senhora de mais de 60 anos e que ainda por cima tem Alzheimer! — Gritei do lado de fora da casa, onde Marry me arrastou para conversarmos — Essa ideia é totalmente sem noção!

Aparentemente o único jeito de ajudar a senhora Teresa, era eu fingindo ser o neto dela. Eu ainda não sabia por que, mas Marry não queria que eu contasse a Tetê que eu não era seu neto, por algum motivo, isso a magoaria bastante. Eu deveria fingir até ela dormir novamente, ou seja, só a noite e na manhã seguinte eu ir embora sem me despedir. Esse era o plano, mas se eu o seguisse, acabaria dormindo novamente e teria sérios problemas.

— Sendo assim, vou ter que arrumar outro meio de lhe convencer... — Ela falou me encarando séria — Você finge ser neto dela e eu não conto ao hospital que você fugiu e está hospedado aqui nessa casa.

— Espera... Como você sabe? — Perguntei incrédulo. Aquilo não poderia ser verdade, eu nunca nem se quer vi aquela garota na vida, não tem como ela saber — Você estava me seguindo ou algo assim?

— Não sabia, mas parece ser verdade. Agora tenho como te chantagear — Ela apontou o dedo na minha cara fazendo um sorriso maléfico — Entrei no seu quarto a noite e você falava algo como "Fugir", "Hospital" e outras coisas. Achei que era só um pesadelo estranho, mas pelo jeito você tem aprontado bastante não é?

Droga! Além de esquecido eu sou burro! Certo, agora tenho mais um problema para resolver. Essa garota não parece muito confiável, senti isso desde o começo, eu devia ter mantido distância. Agora estou numa enrascada maior...

— Okay... Eu finjo ser neto dela! — Falei revirando os olhos chateado — Mas precisa me deixar ir embora amanhã. Promete?

— Isso não é uma escolha querido. Se você for embora, eu conto pra polícia, eles já devem estar atrás de você — Ela falou entrando e me deixando irritado para trás, não acredito que vou ter que passar por isso... — Agora seja um garoto bonzinho e chame a senhora Teresa para passear.

— Esse é seu trabalho! — Falei acompanhando cada passo dela, com medo dela mentir e acabar pegando um celular para ligar pra polícia — Me coloca pra fazer comida, lavar a casa, arrumar algo aqui dentro, limpar o quintal... Por que cuidar dela?

— E por que não? — Ela perguntou se virando irritada, parando na minha frente e me encarando nos olhos — Por que prefere fazer tudo isso do que ficar com ela?

— Por que isso é mexer com o emocional dela! A qualquer momento ela vai perguntar algo e eu não saberei responder! Ou vou agir de uma maneira que não é do jeito que ela lembra do verdadeiro Ricardo! — Gritei desesperado e senti uma pontada na cabeça, tentei me acalmar, eu não poderia ter emoções fortes ou já era pra mim — Por favor... Você não entende o que eu sou, o que pode acontecer comigo... Me deixe ir embora, por favor...

Eu implorei. Eu estava prestes a chorar. Eu realmente não poderia magoar outra pessoa, enganar aquela senhora seria como machucar minha própria mãe. Sem falar que todo aquele peso emocional ia me fazer esquecer algo importante logo, logo. Mas no momento Marry não pareceu se importar com aquilo.

— Não sei nada sobre você realmente, mas não deve ser tão ruim a ponto de não poder dar um simples passeio com uma senhora — Ela falou indo pra cozinha, me ignorando — Senhora Teresa, Ricardo quer te levar pra um passeio.

— Que ótimo! Faz tempo que não saímos — Tetê falou toda animada levantando-se da cadeira onde estava saindo para a sala — Vou pegar minha bolsa, só 1 minutinho querido!

— Só uma dúvida... — Cochichei para que Teresa não me ouvisse — Que casa era aquela onde Teresa me levou ontem a noite?

— Do finado Marido dela... — Marry respondeu meio triste — Não fale da casa com ela, nem do Marido, ou filhos ou qualquer pessoa da família...

— Por que não? — Perguntei curioso por aquela mistério todo — Aliás, por que esse tal Ricardo não a visita mais?

Marry estava lavando um copo que soltou assim que ouviu a pergunta. O copo se partiu no chão em vários pedaços e ficamos observando ele por um tempo, até dona Teresa abrir a porta da sala e sair sozinha. Corri para acompanha-la e não esperei Marry me responder, quando eu voltasse perguntaria novamente, aquilo parecia muito estranho, nenhum familiar daquela senhora morar com ela ou vir cuidar dela.

— Senhora Teresa me espere! — Falei chegando próximo a ela e caminhamos juntos pela calçada — Fazia tempo que eu não via tanta casa...

— As coisas mudam com o tempo, mas nunca a mudança é completa — Ela falou observando as casas — Você deve lembrar de uma casa aqui e ali, uma árvore ou a mesma cerca branca da casa dos Finchers.

Na verdade eu não lembrava de nada. Mesmo que eu fosse o Ricardo de verdade, minha perca de memória nunca permitiu que eu saísse de casa. Sempre tive medo de sair, esquecer como voltar e acabar morrendo no meio da rua com fome, frio ou uma grande dor de cabeça.

— Espere... — Falei segurando o braço dela, caindo na realidade do que ela acabou de falar — Você disse cerca branca da casa de quem?

Aquele sobrenome não me era estranho. Alguém, uma pessoa, aliás, uma família com esse sobrenome, eu já havia ouvido em algum lugar. Será que seria boa hora para forçar minha memória novamente?

— Os Finchers? Eles se mudaram uns dias atrás. Mas na verdade já haviam vindo outras vezes — Ela explicou calma, mas eu estava em pânico, se minha memória curta não estivesse me enganando, eu estava perto da Sammy — Por que meu filho? Algum problema?

— Ah não, nenhum, é que... — Falei tentando pensar em algo rápido, eu não poderia seguir por aquele caminho agora — Eu queria ir na padaria, faz tanto tempo...

— Por que não disse logo? — Ela falou sorridente — Você ainda gosta das rosquinhas da padaria do José não é? Vamos! Vamos! Te levo lá.

Isso! Conseguir! Por hora preciso ficar longe da casa da Sammy, se eu vê-la agora, ela vai querer me levar pro hospital ou contar pra Minha mãe. Terei que ficar sendo companhia de Teresa até achar um momento certo para falar com Sammy. O único motivo para eu sair do Hospital, é para viver meu único sonho e eu não posso desistir dele, se eu voltar, nunca poderei fazer nada para mudar minha vida. Preciso da ajuda de Sammy para resolver isso, mas o momento não é agora, espero que eu ache uma oportunidade em breve...

Mais um capítulo para vocês. E cada vez tudo ficando mais mistérioso hein? Até o próximo capítulo!

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now