Capítulo 52

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As memorias que eu tinha da minha mãe, eram poucas, porém suficientes. Obvio que eu gostaria de lembrar, como foi perder meu primeiro dente, como foi a reação da minha mãe quando dei meus primeiros passos, como ela reagiu quando eu disse mamãe, pela primeira vez. Eu queria lembrar de muitos momentos especiais, que toda mãe tem com seu primeiro filho, Contudo, havia algo que meu cérebro trabalhoso, permitiu lembrar, quando eu revi a Luisa... A mesma reação que tenho presenciado, provavelmente desde que nasci. Um olhar protetor, um gesto tranquilizador, um sorriso mesmo em meio as lágrimas, que diz sem palavras "estou aqui".

Mesmo que eu não tenha vindo da barriga dela, eu entendi algo sobre maternidade e adoção. Existe mães, que não conseguem ter filhos, mas podem ser mãe. Há muitos filhos, que ao nascer, perdem suas mães, porém todos tem direito de ter alguém. Tantos filhos, como mães, não perdem seus títulos só por que não tem ninguém. Basta dar o primeiro passo em busca da felicidade, para ter alguém. Luisa deu o passo e me adotou, para ter um filho. Agora é minha vez de dar o passo, para ainda ter uma mãe. Que eu tenho certeza, que é a melhor de todas.

— Por favor, me conte... — Pedi mais uma vez, dessa vez de joelho e Luisa ainda sentada no sofá — Me explique o que está acontecendo...

— Richard... Sinto muito! — Ela soluçou chorando — Sua mãe verdadeira queria você de volta... Então ofereci mais dinheiro a ela. Depois de um tempo, ela veio te buscar novamente e eu pedi ao marido dela que não permitisse que o levasse. Fui ao encontro dele e ofereci tudo que ele quisesse, para que Marília não te levasse...

— E depois mãe? — Perguntei sério — O que aconteceu? Por que precisa ir embora?

— Ele disse que me ajudaria, mas eu teria que fazer um acordo... — Luisa explicou angustiada — Todo ano eu teria que enviar dinheiro pra ele e assim manteria Marília longe. O marido dela me garantiu que nada aconteceria, desde que eu pagasse o valor. Porém todo ano, ele aumentava esse valor e...

— E o que? — Perguntei impaciente — Vamos, conte!

— E seu pai foi desconfiando, cada vez mais, que eu pedia uma quantia maior para as despesas de casa. Quando ele descobriu a verdade, foi embora e eu fiquei sem dinheiro para pagar o marido de Marília... Ele até ameaçou me matar, por que não paguei a parcela desse ano... — Luisa continuou falando, ficando mais nervosa a cada palavra — Então fiz outro acordo, dessa vez com Marília... Pedi dinheiro a ela para pagar minha divida e disse que eu desistiria de ficar contigo, quando você fizesse 20 anos. Depois iria embora, me entregaria a policia, usando o nome dela, assim ela ficaria com a vida limpa, do crime e poderia ter paz. Prometi ajudá-la também, a se livrar do marido bruto dela.

— O que você tinha na cabeça?! Por que prometeu tudo isso mãe? Então foi por isso que pediu um laudo médico falso de câncer? Para a Luisa morrer e assim você se apresentar na delegacia como Marília? Você nem sabe que crimes ela cometeu com o marido dela! Se algum for pena de morte? — Perguntei irritado. Eu não conseguia absorver tudo aquilo, era muita informação. Comecei a chorar desesperado, colocando a cabeça nas pernas dela — Mãe... Você ao menos pensou em como eu me sentiria? Como eu ficaria ao descobrir tudo isso? Você ao menos parou para pensar, como eu aguentaria, viver o resto da vida, sabendo que minha mãe morreu?

— Perdão querido... Perdão... — Ela chorava também com as mãos no rosto. Ambos sofríamos com nossas dores, não havia nada mais a ser dito, só sentido. Mas Luisa ainda tinha algo a dizer, levantei a cabeça e ela sorriu pra mim — Espero... Que um dia me perdoe. Eu te amei desde o momento que te peguei no colo pela primeira vez... Como se você tivesse nascido de mim, você sorriu ao me ver, você riu quando te segurei. Eu não queria te perder... Eu te amo filho.

— Seja com câncer ou na delegacia, seja quando você e Marília tentarem matar o marido dela... Tudo finalizará em morte — Suspirei com a cabeça deitada nas pernas dela — Não há nada que eu possa fazer, para sua vida ser poupada?

— Eu já pensei em contar a policia, em pedir ajuda. Mas eu seria presa por esconder tudo que sei, por fazer tudo que fiz. O marido de Marília daria um jeito de me matar. Acabou Richard, não tenho muito tempo... — Ela suspirou e eu sabia que Luisa estava com medo de morrer — Não se preocupe, não vou matar o marido de Marília, ela vai se virar sozinha. Ela disse que vai colocar veneno na bebida dele ou algo assim e depois fugiria.

— Vocês se meteram em grandes problemas... — Falei desanimado — Então, simplesmente eu só tenho que aceitar tudo isso e dizer adeus?

— Sinto muito querido... Eu tenho que pagar pelos meus erros — Luisa respondeu oprimida — Mas Marília também precisa! Por isso, espero que guarde esse segredo que vou contar... Eu não vou me entregar a policia usando o nome dela, contarei a verdade, o laudo falso é o que usarei de prova. Os policiais decidirão o resto...

— Talvez eles consigam te manter segura, do marido da Marília... — Falei tentando soar esperançoso — Mãe... Se a senhora sobreviver, se os policiais, ou quem estiver responsável, permitirem que você retorne. Será que no próximo outono, poderia vir me ver?

 — Eu não sei como é lá na cadeia, então não prometo nada — Ela forçou uma risada e como se lembrasse de algo, desanimou novamente — Preciso partir meu amor. A essa altura, se você está aqui, sua mãe deve estar muito irritada por nosso acordo não ter dado certo, logo ela vai saber que contei toda a verdade a você... Tenho que ir antes que ela venha atrás de mim.

— Vou ganhar tempo para a senhora! — Falei animado — Viaje, quando chegar na delegacia, me mande uma mensagem. Vou inventar algo para Marília, para ela ficar aqui, assim ela não irá atrás de você!

— Então eu vou indo! — Ela respondeu animada também e me deu outro abraço, o ultimo — Eu gostaria de perguntar e ouvir como você ficou tão esperto... Como conseguiu aprender e lembrar todas essas palavras difíceis. Estou tão orgulhosa, do meu menino, que finalmente está melhor...

— Não melhor... Mas bom o suficiente para te ajudar — Respondi sorrindo e ela também sorriu, então a abracei — Adeus mãe... Sentirei sua falta.

— Adeus meu amor... Jamais esqueça, que eu sempre amarei você — Ela falou me abraçando forte — E sempre serei... Sua mãe.

Aquele momento estaria para sempre em meu coração. Tenho certeza que só dessa vez, meu cérebro permitiria que essa memoria fosse guardada pra sempre. Soltei minha mãe e saímos juntos, ela levando algumas malas e eu outras, colocando-as no carro em seguida. Minha mãe entrou e me deu um ultimo sorriso, fechou a porta, ligou o carro e saiu...

A unica coisa que se passava na minha cabeça, era uma música, que eu ouvi a muito, em um desenho chamado Ano Hana. "E eu jamais vou esquecer daquele verão, eu e você, juntos sonhando com o amanhã, ainda acredito que um dia nós vamos nos reencontrar por ai.  E você estava ali e o coração agradecia, por ficarmos juntos até o final do dia, por que dizer adeus e tentar sorrir é impossível ao se despedir... E esses dias eu... não vou esquecer..." Cantando esse pedaço da letra, observei minha mãe indo embora, o sol estava se pondo e lágrimas escorriam pelo meu rosto. Será que era mesmo um adeus ou um até logo? Talvez um dia, eu iria saber.

Choremos! Perdão gente. Não desistam de mim kkk Obrigada pelos 4k de vizu ❤ Até mais.

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