Capítulo 20

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"Quando a vida decepciona. Qual é a solução? Continue a nadar! Para achar a solução, continue a nadar, nadar, nadar, nadar..." Isso em palavras de Dory, pode ser algo difícil de compreender, ou ter vários sentidos diferentes e não ser o que realmente queremos.  No sentido mais próximo do real, a Dory quis dizer que quando a vida decepciona, a única solução é continuar seguindo em frente, continuar lutando, vencendo os obstáculos, ultrapassando barreiras, mas sempre seguindo para algum lugar, se possível em frente, por que se for pra trás ou pros lados, você acaba desistindo. Para achar a solução, você tem que continuar seguindo sua vida, uma hora ela vem!

Infelizmente eu sigo em frente há 20 anos e a solução não veio ainda. Irônico não é? Se eu fosse dar lição de vida, eu seria um daqueles que dão os melhores conselhos, porém nunca segue nenhum deles. Certo, eu estou sendo pessimista e negativo, talvez até mentiroso... A solução deve ter vindo e eu não entendi ou esqueci como sempre. Acredito que minha solução, é que eu devo viver como se não houvesse amanhã e aceitar que perca de memória recente não tem cura.

A noite estava se aproximando e logo minha conversa com Marry aconteceria. Como eu esqueceria tudo no dia seguinte, eu teria que anotar tudo que ela me falaria, então pedi para ir até o supermercado mais perto dali e comprar alguns cadernos. Dona Teresa não quis ir comigo para poder terminar a blusa e só sobrou ir sozinho com a senhorita vulcão. Eu a apelidei assim só pela cor do cabelo dela e nada mais que isso, mas ela não quis acreditar em mim e se irritou quando a chamei assim.

 — Vai só comprar cadernos?  — Marry perguntou entrando comigo no supermercado  — Olha, você de capuz assim, vão achar que você vai assaltar o lugar.

 — Isso é estilo minha jovem! — Falei ajeitando minha quase franja por debaixo do capuz. Fazia tempo que eu não cortava o cabelo, depois eu precisava resolver isso  — Todos os jovens se vestem assim hoje em dia!

 — Claro, os drogados inclusive  — Marry falou rindo e saiu para o setor de verduras  — Me encontre no caixa daqui 15 minutos!

Eu precisava encontrar os cadernos logo ou ficaria a pé, por que eu sei que Marry faria isso e com muito prazer. Aquele lugar era gigante, infelizmente também não lembro se já fui ali alguma vez... Eu precisava ter cuidado para nenhum conhecido me ver, afinal esse era o objetivo de eu andar de capuz dentro de um supermercado cheio de pessoas, eu estava pagando um grande mico, mas ao menos eu não correria o risco de ser achado e voltar pro hospital.

 Andei por todos os setores e olhei quase todas as pratilheiras e nada dos cadernos. Perdendo as esperanças de achar o que eu queria e também meu tempo, resolvi perguntar a alguém, mas para meu azar, nenhum trabalhador estava por perto ou seja, eu teria que fazer duas escolhas, voltar sem nada e irritar Marry ou perguntar a algum cliente. A escolha não poderia ser outra, mas o que eu diria a Marry quando eu voltasse? Eu não posso perguntar a ninguém, afinal, pode ter algum conhecido da minha mãe aqui...

 — Moço? Precisa de ajuda?  — Alguém perguntou pelas minhas costas me tirando dos meus pensamentos inquietos, fazendo eu me virar surpreso — Richard?!

Sabe aqueles momentos da vida que você está numa enrascada e você gostaria que se abrisse um buraco ali no chão ou um portal pra outro mundo na sua frente? Até um assalto nesse momento seria bem vindo, para impedir, seja lá quem fosse aquela pessoa, de me conhecer. Se ela sabia meu nome, só poderia ser uma pessoa, mas eu não quis descobrir e resolvi sair correndo, agora preciso achar Marry o mais rápido possível. Por sorte ela já estava me esperando no caixa rápido.

 — Ai está você!  — Falei depois de entrar em vários setores para despistar a garota atrás de mim  — Eu preciso de um favor!

 — Eu não faço favores  — Marry falou olhando suas sacolas, depois se assustando ao me ver  — Credo, o que houve?

 — Tem alguém aqui que não posso ver... Por favor, eu faço qualquer coisa por você...  — Implorei quase chorando para ela acreditar em mim  — Eu vou ter que voltar, compra os cadernos pra mim e leva pra casa por favor?

 — Richard!  — A garota gritou vindo em nossa direção  — O que está fazendo aqui? Por que esta fugindo?

 — Preciso ir Marry!  — Falei saindo correndo  — Compre os cadernos!

Eu não poderia ficar mais nenhum minuto. Se a garota ainda estava me seguindo, eu não sabia, não ousei olhar para trás. O supermercado embora fosse perto da casa dona Teresa, ainda era cansativo ir a pé e a volta parecia pior do que a ida. Meu sedentarismo atrapalhou bastante mas consegui chegar em casa, infelizmente com uma enorme dor de cabeça... Minutos depois escutei alguém bater na porta, desejei com todas as forças que fosse Marry, por que eu não atenderia a porta e se fosse outra pessoa, traria problemas a dona Teresa.

Alguém bateu a porta, depois percebeu que tinha campainha e começou a toca-la. Eu subi as escadas e me escondi no quarto, por sorte tranquei a porta assim que eu entrei. A pessoa continuou tocando a campainha, mas parou segundos depois. Ouvi um carro chegando, com certeza era Marry, ela resolveria agora. Desci as escadas e ouvi a conversa por trás da porta.

 — Boa noite, é aqui que o Richard está morando?  — A pessoa perguntou calma de mais, ela não sabia quem estava prestes a enfrentar  — Eu o vi entrando aqui...

 — Você sabe que horas são?! Sabia que aqui mora uma idosa?!  — Marry perguntou irritada aumentando o tom de voz  — Aqui não mora nenhum Richard não e da próxima vez que você vier incomodar a idosa que mora aqui com esse barulho todo, eu chamo a policia, entendeu?!

 — Ca-calma moça, eu não sa-sabia...  — A garota falou com a voz falha, parecia assustada  — Desculpa, acho que errei a casa.

Marry entrou furiosa dentro de casa e eu subi as escadas correndo antes que ela percebesse minha presença. Aparentemente a garota era Sammy, minha dor de cabeça aumentava a cada segundo e eu estava lembrando alguns acontecimentos da minha vida, principalmente meus momentos com ela. Para meu azar, daqui alguns segundos eu esqueceria até meu nome, eu precisava falar com Marry, mas ela estava muito irritada... E agora, o que eu vou fazer?

Eu tenho pouco tempo, preciso ficar calmo, o doutor disse que só eu poderia me ajudar. Então é uma boa hora para achar uma maneira de evitar que eu esqueça ou até morra, sempre que tiver essas dores de cabeça... Mas como? O que eu posso fazer? Aff! Qual a solução para esse problema Dory?!

Dory não vai te ajudar no momento Richard. É hora de se acalmar e resolver sozinho. Gostaram do Capítulo? Votem e comentem!

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now