Capítulo 44

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Em situações como a minha, algumas pessoas estão pensando que eu vou desistir e outras devem estar torcendo para que eu lute até o ultimo segundo. Enquanto elas pensam isso, estou na verdade planejando minha nova rotina, pois cansei de a cada desmaio, eu ter que ficar perdendo tempo no hospital. Estou decidido a começar minha aventura hoje mesmo, quero saber a verdade sobre a mulher do meu sonho e minha mãe atual, sobre a vida da Marry e ajudar a Sammy a se recuperar da depressão. Quero realizar meus sonhos, preciso fazer tudo isso e muito mais, se eu realmente for morrer um dia, preciso fazer minha vida valer a pena. Afinal, que graça tem aceitar a morte, sem antes não se aventurar mundo a fora?

 — Você se recuperou rápido dessa vez... — Sammy falou com algumas lágrimas nos olhos, mas sorrindo — Está bem agora? Nos deu um grande susto.

— Preciso da sua ajuda — Falei ignorando as perguntas dela, mas sorri apertando a mão dela que segurava a minha — Tenho muitas coisas para fazer hoje.

— Tudo bem, eu acho... — Ela falou sem jeito e soltou minha mão — O que seria exatamente?

— Quero andar de avião, sabe como faço isso? — Perguntei animado e ela me olhou incrédula — Estou falando sério, se não puder me ajudar, peço a outra pessoa.

— Não, não é isso! Vou ajudar. Só achei um pedido meio louco para quem acabou de desmaiar do nada, no meio do sol quente, na calçada — Ela falou séria e suspirou preocupada — Tem certeza disso?

— Nunca tive tanta certeza na minha vida — Respondi sorrindo — Minhas memórias não estão se apagando como antes, então isso quer dizer que estou bem. Só desmaiei por fome talvez.

 — Já que tocou no assunto — Ela falou se aproximando e olhando em meus olhos, mas recuei rapidamente achando que ela ia me beijar — Que foi?

— Nada não... — Falei envergonhado — O que ia perguntar?

— Afinal, você tem essa doença Síndrome de Dory, ou não? — Ela perguntou curiosa — Parece que você é uma pessoa normal, o médico disse que você nem precisaria ficar entubado muito tempo... Foi só até você voltar a consciência.

— Isso por que inconsciente, meu pulmão dá um de Richard e esquece de me fazer respirar! — Brinco e riu, mas ela não achou engraçado e resolvi ficar sério — Minha doença é algo sério, por isso preciso que você me ajude nisso também.

— Então me explique, o que quer fazer? — Ela perguntou atenta, sentando na cama e mostrei a ela minhas anotações — Então basicamente, quer que eu faça o mundo saber sobre essa doença, até ela se tornar real de verdade?

— Ela já é real, mas ninguém acredita. Toda doença nova tem um nome novo, a minha é Síndrome de Dory! Para que todos acreditem, precisam de informações e é nesse ponto que você começa — Expliquei entregando meus cadernos e ela me encarou sem entender — Quero que coloque tudo isso na internet, nas tais redes sociais e informe sobre minha doença. Tudo que precisa está nesses cadernos, há alguns dias atrás resumi todos eles e deixei só o importante.

— Não sei se conseguirei, mas vou tentar. Começarei por um blog, depois vou compartilha-lo onde for possível — Ela explicou folheando minhas anotações empolgada — Mas... Isso vai me ocupar uns dias, não vou poder ajudar com o passeio de avião. E tem também os vídeos, não vamos gravar mais?

— Depois penso sobre isso — Falei me levantando e vestindo um blusão — Preciso ir falar com o médico, pode começar esse tal blog hoje, para me mostrar o mais rápido que derw

— Acho que sim... — Ela falou me acompanhando e saímos até a sala do Doutor Markson — Preciso perguntar algumas opiniões suas, então pode me dar seu número? Não saberei responder suas informações pessoais para por no blog...

— Claro! — Sorri e ela entregou o celular para eu colocar o número — Você é a única pessoa que tem isso, fora minha mãe. Sinta-se honrada!

— Até parece! — Ela riu e acenou se despedindo — Te ligo mais tarde.

Sammy foi embora e eu entrei na sala de Markson, que já me esperava com um sorriso no rosto.  Havia só uma coisa que eu gostaria de pergunta-lo, porém parecia que ele tinha muito mais para me interrogar. Seus olhos esperavam respostas e eu já imaginava que era sobre minha recaída. Será que eu devia contar sobre a mulher? Eu não tinha nada a perder, se ela não queria ser reconhecida, poderia ter mudado o visual, por ser exatamente igual a do meu sonho, não posso fazer nada, se não contar tudo ao Doutor. Espero que ele entenda e aceite tudo que falarei.

— Pela sua reação, tem muito a me contar não é? — Markson provocou levantando uma das sobrancelhas — Sente-se.

— Primeiramente, obrigada por me ajudar, até agora. Sei que está curioso, mas quando desmaiei, nada apareceu em minha mente. Mesmo com os olhos fechados, eu estava consciente — Suspirei desanimado e continuei a explicação — Tem muita coisa que preciso descobrir ainda, então só posso informar o que vi no meu ultimo sonho...

— Tudo bem... — Markson suspirou também decepcionado — Então me conte o que sabe.

— Aparentemente, tenho outra mãe e a atual não é a biológica. No sonho, uma mulher me abraçava e eu cantava pra ela, depois chorava por que... — Respirei fundo sentindo lágrimas vindo e algo entalado na garganta — Ela me abandonava. A mulher recebia uma ligação e depois ia falar com a criança que era eu... Esse menino corria até uma rua e atravessava com o sinal aberto, a mãe gritava pedindo pra ele voltar. Resumindo o resto da história, um carro bateu neles...

— Essa mulher, que é sua mãe, segundo você. Por que ela te abandonou? — Markson perguntou tentando entender — Se você está aqui em minha frente, então sobreviveu ao acidente, talvez ela também... O motivo da sua recaída foi isso?

— Não só está viva, como a vi e por isso desmaiei — Respondi nervoso — Mas não sei o nome dela, não tenho total certeza que é ela, quando a vi, a mulher reagiu de modo estranho.

— Então, acredito que quer ir atrás de respostas — Markson falou pensativo — Preciso falar sobre seu exame, creio que pelo resultado, talvez você não tenha mais permissão para sair.

— Isso quer dizer que vou morrer logo? — Perguntei assustado — Se é o caso, não tenho mais tempo a perder, tenho muita coisa pra fazer e pelo jeito pouco tempo.

— Se é assim, talvez não queira saber quanto tempo de vida tem... Estou certo? — Markson perguntou, com um sorriso triste no rosto e afirmei com a cabeça — Posso ao menos explicar, sobre seus exames? Tem algo que precisa saber.

— Sinceramente, eu não quero saber nada Doutor, a menos que fosse uma chance de sobreviver... — Falei triste e Markson ficou em silencio, o que me deixou curioso — Achei que eu tivesse pouco tempo de vida.

— Achismo é o mal da nossa geração. Mas você não está errado. É algo bem relativo entende? — Markson sorriu me fazendo ceder e querer ouvir sobre o resultado do exame — Então, posso ou não falar sobre seus exames?

Eu realmente queria sair correndo daquela sala e começar minha aventura. Porém, eu havia resolvido confiar em Markson, mesmo assustado, eu precisaria ouvir o que ele tem a dizer. Seja algo bom ou ruim, era essa a minha história e eu não poderia ignorar uma página triste só por que não queria aceitá-la, eu teria que enfrentar tudo isso e mais um pouco, se eu quisesse aproveitar pelo menos alguns dias da minha curta vida.

Boa leitura e até o próximo capítulo ❤

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now