Capítulo 48

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Eu sempre imaginei que minha família, eram pessoas estranhas, com passados misteriosos e todos escondiam algo, que se fosse revelado, seria trágico para todos. Isso por que, em todos esses anos, Luisa sempre me dizia só o necessário, nunca havia informações concretas dos meus parentes. Fotos, eu só tive algumas minhas de bebê, mesmo que eu não tenha uma boa memoria, se houvesse fotografias, haveria álbuns, quadros, ou qualquer registro em alguma comoda esquecida no sótão da casa. Contudo, eu nunca as vi, talvez se existiram, foram queimadas ou muito bem escondidas pela minha antiga mãe Luisa.

— Está preparado? — Marry perguntou se sentando do meu lado e abrindo uma pasta no celular, com fotos de pessoas que eu nunca vi — Vamos começar pela nossa mãe, o nome dela é Marília.

— Marília... — Repeti impactado com o nome — Ela escolheu um nome bonito pra você, já o meu, acredito que seja por causa do meu pai.

— Pelo menos você tem pai — Ela sorriu e mostrou outra fotos da minha mãe. Que por sinal, era linda mais jovem. Depois suspirou desanimada — Meu pai... Eu não posso nem falar o nome dele. Ele disse que se alguém, algum dia souber que eu era filha dele, coisas ruins aconteceriam comigo.

— Imaginei que não teríamos o mesmo pai, você não é nada parecida comigo — Eu rir e ela sorriu — Será que temos alguma coisa em comum?

— Depende — Ela me encarou e ficou analisando meu rosto, então segurou meu queixo e meu coração quase teve um treco.  Então ela encarou meu pescoço — Sim, temos. Acho que nunca percebeu, mas temos um sinal no pescoço, igual o da mamãe.

Marry levantou o cabelo e mostrou o sinal dela. Era realmente igual o meu, que só percebi quando ela tirou uma foto do celular dela e me mostrou. Marília tinha uma beleza incomparável, que Marry herdou em muitos traços, principalmente no sorriso, mas o fato dela ser ruiva me deixava curioso. Seria interessante se ela tivesse os olhos azuis da nossa mãe, ficariam perfeitos nela, mas eles acabaram sendo herdados em mim.

— Perdão a curiosidade, mas você herdou o cabelo ruivo de quem? — Perguntei pegando uma mexa e ela ficou vermelha. Notei a reação e fiquei envergonhado também — Desculpa.

— Tudo bem — Ela sorriu e ficou pensativa — Acredito que tenha sido do nosso Avô, ou da dona Teresa, não lembro da cor do cabelo dela. Quando a conheci, ela já tinha cabelos brancos.

— Embora tenha sido coincidência eu parecer com Ricardo, acabei sendo neto dela mesmo — Falei sem jeito e deitei na cama — Tudo fica cada vez mais confuso, quando começo a pensar...

— Enfim, vou explicar sobre a mamãe, talvez seja algo doloroso de se ouvir. Quando ela me contou, confesso que fiquei com raiva dela por vários dias, fugi de casa e passei a morar com nossos avós — Ela explicou deitando no lado oposto da cama e suspirou — Ela não foi contra, até por que, na época, ela ainda se encontrava com meu pai, ele sempre estava acompanhado de homens estranhos... Foi melhor mesmo, eu parar de morar lá.

— Essa pessoa, digo, seu pai, gosta de você? — Perguntei nervoso, não sabia se poderia tocar no assunto. Então suspirei desanimado — É que o meu, não parece muito amigável, a ultima vez que havia visto ele, eu tinha 10 anos, eu acho. Quando o vi atualmente, nosso encontro não foi dos mais carinhosos...

— Eu soube que ele tentou te trazer a força para fora do hospital — Marry riu e se levantou para encarar. Eu estava chorando, ela se aproximou e segurou uma lágrima minha que descia pela minha bochecha — Nossos pais não são os melhores, mas veja pelo lado bom, o seu pelo menos não é envolvido no mundo do crime. 

— Antes fosse, assim eu não o via também — Falei e nós dois rimos — Ela nunca quis me ter, não é? Por isso nunca me procurou...

— Ela não podia... Depois que a Luisa te adotou, ela pediu para nossa mãe nunca mais vir lhe ver — Marry me olhou triste — Não fique chateado com a Luisa, ela só queria o melhor pra você. Richard, sinto muito o que vou dizer, mas... Nossa mãe vendeu você.

Aquelas palavras foram cruéis, eu conseguia imaginar todos os motivos possíveis para minha mãe me abandonar, todos eram dolorosos, mas de todos, esse era o único que nem se quer havia passado em minha mente. Ela largou o filho por dinheiro... Se Luisa havia sido uma mãe ruim, o que posso imaginar dessa mulher? Eu sei que sou alguém cheio de problemas, mas eu merecia tudo isso? A dor preenchia meu coração e eu só podia chorar naquela hora.

— Quando a Luisa casou com seu pai, ele já gostava da nossa mãe. Só que, ele viajava muito e nosso avô dizia que não deixaria a filha casar com alguém, que se quer parava em casa, para dar atenção a família. Então, o senhor Raul casou com a Luisa e ela queria muito um filho. Infelizmente, Luisa tinha um problema e era infértil, eles brigavam muito por causa disso, até que um dia, Raul viajou e passou quase um tempo fora — Marry explicou olhando para o teto, tentando lembrar todos os detalhes — Nessa viagem, ele reencontrou minha mãe que havia fugido de casa na época, irritada com o pai. Se eu não engano, eles passaram o mês juntos e Marília acabou engravidando, de você Richard.

— Era de se imaginar que ele faria isso! Luisa sabia da traição? — Perguntei chateado — Ela não tinha nada a ver conosco e mesmo assim me criou...

— Depois falo essa parte. Olha, Marília não é uma pessoa correta, vamos deixar isso claro. Para conseguir o que quer, ela faz tudo que é preciso. O sonho dela era ser médica antes de saber da gravidez, a viagem que ela fez no dia que se reencontrou com seu pai, foi para fazer a inscrição na faculdade. O dinheiro, ela conseguiu vendendo drogas... Quando ela fez o teste e deu positivo, ela disse que ficou muito chateada e queria abortar, mas o senhor Raul disse que não fizesse isso — Marry falou e eu a encarei surpreso — Acredite ou não, você está vivo hoje por causa do seu pai. Nossa mãe passou 1 ano fora de casa, ela dizia que estava estudando e logo voltaria, mas isso era só o tempo de ter o bebê, pois o senhor Raul havia mentido pra ela, dizendo que se ela tivesse o filho, se separaria da Luisa e ficaria com ela, financiaria até a faculdade.

— Marília vendia drogas?! — Perguntei assustado, ignorando o resto — E ela usava?

— Isso é algo que ela nunca mencionou, mas talvez tenha usado — Ela me olhou desanimada — Talvez seja por isso que você tenha esses problema...

Raiva e frustração preenchiam meu ser, mágoa, angustia e todos os sentimentos ruins habitavam dentro de mim. Marry nem havia contado toda a história e eu já imaginava o que seria, seguindo por esse caminho. Marília queria dinheiro, já que estraguei o sonho dela e me vendeu para Luisa,  tanto para se livrar de mim, como para resolver o problema que causei. Então, se realmente foi isso, que sonho foi aquele que tive? A criança parecia ter uns 5 anos, por que ela ficou comigo e me vendeu depois? Não, era algo pior, ela não me vendeu assim que nasci, se ela era tão errada, ela planejou algo diferente e logo eu descobriria...

Postei e sai correndo parte 2 kkk Como eu disse, é lágrimas daqui pro 50 kkkk. Mas começa às cenas boas. Votem e comentem.

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now