Capítulo 53

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Tempo sempre foi um grande inimigo, na maioria das vezes, ele nunca está do nosso lado. Ás vezes, tentamos enganá-lo e obter mais do que ele pode oferecer, pois é difícil aceitar apenas 24 horas e ainda por cima, passadas num piscar de olhos. Se o tempo fosse uma pessoa, ele seria uma eterna criança, que pensa que tudo é brincadeira e não vê a dimensão dos problemas que pode causar. Porém, quem sou eu para reclamar? Um mero mortal com a vida contada.

Chorar não iria trazer minha mãe de voltar e muito menos resolver tudo que eu preciso em poucos minutos. Peguei o celular e fiz uma anotação com a data do dia, era uma quinta-feira, o dia da semana que eu mais odiava, era um dos dias que por algum motivo, o passado vinha a tona. Embora eu nunca lembrasse do meu, era o dia da semana onde eu sentia vontade, não sabia por que, de ler minhas anotações. Deixei um pequeno lembrete para me lembrar quando eu acordasse, que eu deveria mandar uma mensagem para Luisa, perguntando se ela havia conseguido chegar a delegacia. Depois de feito, só havia uma coisa que eu poderia fazer.

Disquei o número que havia me ligado no hospital e esperei até a pessoa atender. Chorar já faria eu ter uma bela dor de cabeça e o que eu estava prestes a fazer, me faria ficar de coma por pelo menos 3 dias, mas eu não poderia fazer mais nada, a não ser isso, para segurar esse alguém por aqui, mais alguns dias. Quando enfim ela atendeu, meu coração já estava desesperado, eu não queria vê-la de verdade, mas precisava chama-la.

— Marília... — Falei já faltando o ar, com a voz falhando— Preciso que... Venha... Até padaria... Algumas ruas... Depois da casa, da Teresa... 

— Por que Richard? O que houve? Por que sua voz está assim? — Ela perguntou preocupada — Richard? Está ouvindo? Fale algo...

— E-Eu... Fu... Fugi do hospital... — Gaguejei já exausto, tentando aguentar o máximo que conseguia — Venha logo... Eu passei mal na esquina...

Desliguei o celular e juntei o resto da força que eu tinha para caminhar até a padaria. Cada passo pesava como se houvesse pedras em cada parte do meu corpo, continuei andando mais e mais, mesmo com a vista embaçada, ignorei a casa de Sammy e supliquei a tudo nesse universo que segurasse eles em algum lugar e ninguém me visse passando. Algumas pessoas me olhavam e ofereciam ajuda, mas eu fazia um grande esforço para dizer que estava bem e só estava me exercitando. A padaria ainda estava distante, mas consegui ver uma grande placa com um pão enorme, só poderia ser aquela. Era bom ter minhas memorias de volta, pena que sumiriam em breve... Eu já estava cansado, resolvi parar perto de uma arvore próxima ali. Se Marília perguntasse, eu diria que cansei de esperar e caminhei até ali. Isso se eu lembrasse de algo.

— Richard? O que faz aqui? — Uma voz conhecida falou, parecia ser Sammy, mas minha vista estava muito embaçada — Você está bem? Está me ouvindo? 

— Vá... — Tentei falar, ainda exausto — Embora...

— Por que? Não entendo... Você deveria estar no hospital, seu rosto está pálido e parece que vai desmaiar a qualquer segundo — Sammy falou colocando a mão na minha testa, preocupada e nervosa — Preciso pedir ajuda, você está com febre!

— Não! — Pedi segurando o braço dela, antes de Sammy levantar e fiz um esforço maior, forçando o peito, para respirar e falar — Preciso ver alguém... Nesse lugar... Me deixe aqui... Por favor.

— Se eu te deixar aqui, você vai morrer! — Sammy segurou meus ombros e deve ter me encarado desesperada pela voz dela, eu já não estava enxergando quase nada. Até que um carro parou perto de nós a assustando — Ei! Cuidado!

— Perdão Sammy — A pessoa falou de dentro do carro — Pode trazê-lo aqui pra dentro?

— Ah sim... — Ela falou surpresa, se abaixando e me ajudando a levantar, colocando um braço meu por cima do ombro dela — Mas como sabia que ele estava aqui? 

— Está pesado querida? Quer ajuda? — A voz de uma mulher perguntou preocupada — Ah Richard... Por que fugiu do hospital novamente?

Sammy me levantou, mas não conseguiu caminhar comigo. A mulher foi até nós e ajudou a me colocar no carro. Pela reação das vozes, a pessoa do carro era Marry e a mulher só poderia ser Marília, afinal, acho que Sammy não me colocaria no carro de estranhas ou permitiria que eu fosse sequestrado... Mas isso não era preocupação para agora, eu não poderia abrir meu olhos de jeito nenhum, caso contrário, veria Marília e cada pequeno, e inútil nervo do meu cérebro me faria ter um ataque a qualquer momento. Se acontecesse, eu acordaria tarde de mais e não saberia se Luisa chegou bem na delegacia da outra cidade.

— Marry, quem é essa mulher? — Sammy sussurrou, mas acredito que tenha sido muito alto, pois eu conseguir ouvi-la  — Vocês sabiam que ele estava aqui ou passaram e viram?

— Longa História... — Marry suspirou e ligou o carro para irmos — Depois explico, vamos levá-lo primeiro.

— Por favor... Só vão embora quando eu acordar — Pedi triste, ainda lembrando do meu plano, pois eu queria mesmo, era ficar longe delas — Mesmo que eu fique em coma... Não vão embora.

Ninguém me respondeu ou eu já estava na fase que minha audição não estava mais funcionando. Seja o que for, era a unica coisa que eu poderia fazer, apenas pedir e torcer que Luisa chegasse o mais rápido possível em seu destino. Se Marília desconfiasse de algo ou já soubesse de tudo, ao menos eu poderia preocupa-la o bastante, para ela não pensar em mais nada, até tudo isso passar. Eu estava arriscando minha vida novamente, porém seria a ultima vez. Me mantive vivo por tanto tempo, por Luisa, a pessoa que sempre será minha mãe. Pelo amor dela, estou arriscando tudo e se eu sobreviver, com certeza, dessa vez eu realizarei meus sonhos. Já era hora de fazer mais por mim e menos pelos outros.

Chegamos no hospital em questão de segundos, afinal, Marry era a motorista. Sammy tirou meu cinto e quando Marília saiu por uma porta, aproveitei para cochichar no ouvido de Sammy, algo importante que Marília não poderia ouvir. Pedi para guardar meu celular e em hipótese alguma, deveria dar a alguém ou se quer liga-lo, ela deve ter percebido que era algo sério, mas eu não poderia saber a resposta dela, pois estava sem minha audição. Fechei os olhos e mantive fechados, eu só conseguia ver tudo escuro, não queria usar minha visão, se retornasse, vendo Marília, mas estava me sentindo horrível por segurá-la ali, afinal, ela também tinha planos de fugir daquela cidade. Eu só queria que tudo tivesse sido diferente, assim conseguiria ter mais afeição a ela, pois mesmo me ajudando e se preocupando comigo, eu não conseguia ama-la.

Os enfermeiros me colocaram numa maca e já me levaram para a sala de entubação. A mesma cena de todas as vezes, pessoas, aliás, sombras se movendo do meu lado. Porém o caminho pareceu ser mais distante, não era o mesmo, eu tinha certeza que o corredor para a entubação era mais próximo... Ainda estávamos em movimento, eu só queria ouvir o que todos estavam falando. Infelizmente eu não poderia descobrir, o que estava prestes a acontecer comigo. Senti um frio percorrendo meu corpo, uma luz invadiu meus olhos, o ar parecia ter parado de entrar e sair do meu nariz, nada mais parecia se mover, eu não sentia mais meu corpo, até que apaguei.

Xiiih. Será que devemos nos preparar para o tal dia final? Para a pior das causas, preparem lírios brancos. Para a melhor, enviem forças kkk

Espero que continuem a ler. O final está chegando. Votem e comentem, até o próximo capítulo ❤

Até o cair das folhas - Em RevisãoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum